
Imagem da presidência da assembleia sinodal da Igreja de Inglaterra, num dos momentos do último dia de trabalhos. Imagem captada da transmissão vídeo.
Após seis anos de reflexão sobre identidade e sexualidade e depois de oito horas de debate, o Sínodo Geral da Igreja Anglicana votou por escassa maioria o documento dos bispos que admite abençoar as uniões entre pessoas do mesmo sexo, mas rejeita a celebração de casamentos homossexuais. [ver 7MARGENS]
A votação foi feita por assembleias, tendo 36 bispos votado a favor, quatro contra e dois abstiveram-se; no clero, 111 votaram a favor, 85 contra e três abstiveram-se; 103 leigos votaram a favor, 92 contra, e cinco abstiveram-se.
A análise dos votos expressos no dia 9 de fevereiro em cada um dos corpos evidencia que os bispos privilegiaram uma decisão preservadora da unidade da Igreja de Inglaterra, enquanto pastores e leigos deram maior expressão ao desagrado com o texto em causa. O Sínodo estava tão ciente da dificuldade de chegar a qualquer outro texto sobre as questões da identidade sexual e do acolhimento das relações homossexuais que rejeitou 25 propostas de alteração, apenas tendo aceitado um esclarecimento de última hora destinado a sossegar as sensibilidades que se sentiam desconfortáveis com a proposta de admitir a bênção de relações homossexuais estáveis e legalizadas através de um casamento civil. Essa moção declara que a admissão de tais bênçãos não contradiz o ensino tradicional da Igreja sobre o casamento, isto é, que o matrimónio é entre um homem e uma mulher.
Para o Church Times, nesta quinta-feira, 9 de fevereiro, “a extensão do voto contra as bênçãos fornece uma indicação clara de que a principal preocupação [do Sínodo Geral] não foi apaziguar aqueles que queriam o matrimónio para casais do mesmo sexo em vez de uma simples bênção”, mas que o cuidado todo se concentrava “em manter os evangélicos conservadores numa Igreja que, como muitos deles diziam, se propunha aceitar o sexo extraconjugal”.
Contudo, para The Guardian neste mesmo dia 9 de fevereiro “a aprovação da moção no Sínodo Geral representa uma mudança profunda na posição da Igreja sobre a homossexualidade”. O jornal salienta que, além desta moção, foi votada uma outra em que a Igreja Anglicana “pede desculpa pelo dano que causou às pessoas LGBTQ+” e ficou prevista a próxima revisão “da proibição do clero de estar presente em casamentos civis entre pessoas do mesmo sexo” e da “regra de celibato para qualquer membro do clero que mantenha relacionamentos com pessoa do mesmo sexo”.
Reações opostas
Após a votação que decorreu na tarde de 9 de fevereiro (inicialmente prevista para o dia anterior), o arcebispo de Cantuária, Justin Welby, e o arcebispo de York, Stephen Cottrell, publicaram um comunicado conjunto afirmando que a decisão marcava um “novo começo” para a Igreja de Inglaterra: “Pela primeira vez, damos na Igreja as boas-vindas publicamente, sem reservas e com alegria, a casais do mesmo sexo.” Mas ao mesmo tempo sublinhavam: “A Igreja continua a ter profundas divergências sobre estas questões que atingem o cerne de nossa identidade humana. Como arcebispos, comprometemo-nos a respeitar a consciência daqueles para quem isto vai longe demais e garantir que eles têm todas as garantias necessárias para manter a unidade da Igreja enquanto esta conversa continuar.”
Steven Croft, o bispo de Oxford, um apoiante da igualdade no casamento, disse que a partir de agora “casais do mesmo sexo vão tornar-se muito mais visíveis e a sua relação será celebrada publicamente e isso vai favorecer a mudança de atitudes na igreja”. Numa avaliação oposta, Jayne Ozanne, uma das principais ativistas pela igualdade LGBTQ+, manifestou-se “profundamente desapontada com a maneira como os conservadores têm consistentemente procurado prejudicar aqueles de nós que buscam avançar em direção a uma Igreja que possa aceitar uma pluralidade de pontos de vista sobre a sexualidade”.
Por razões distintas, também a associação Conselho Evangélico da Igreja da Inglaterra disse estar “profundamente triste” com a decisão que, dizem, rejeita a “compreensão histórica e bíblica de sexo e casamento” que estas Igrejas sempre tiveram, e que, além de “nada ter resolvido”, “serviu apenas para aprofundar as divisões”.
O Sínodo Geral da Igreja Anglicana chegou ao fim nesta quinta-feira, 9 de fevereiro.