
O arcebispo Benedito Roberto (à esquerda). Foto © Tony Neves
Arcebispo de Malanje, uma diocese muito marcada pela guerra civil e com comunidades rurais distantes muitas horas de viagem da capital da província, Benedito Roberto morreu no domingo, 8 de Novembro, no hospital da cidade, depois de ali ter dado entrada com febre que o próprio pensou que seria um surto de paludismo.
A notícia da morte chegou à Casa Geral dos Missionários Espiritanos nesta terça, 10, e provocou inúmeras reacções nas redes sociais, tendo em conta o seu carácter de homem simples e pastor dedicado. O bispo acabara de regressar de uma das suas longas visitas pastorais a Xá-Muteba.
Benedito Roberto nasceu há 74 anos, a 5 de Novembro de 1946, no interior mais interior do Novo Redondo colonial. Estudou na Missão Católica do Chiengue, fundada e dirigida pelos Missionários Espiritanos. Estudou carpintaria em Braga, onde fez o noviciado e professou naquela mesma congregação.
Regressou a Angola para trabalhar em Malanje. Decidiu, nos tempos quentes do pós-independência, que a sua vocação passaria pelo sacerdócio e, por isso, estudou Teologia no Huambo e foi ordenado em 1981, em Malanje (quase 400 quilómetros a Oeste de Luanda).
Ficou a trabalhar na formação de futuros Espiritanos (Huambo e Lubango), sempre com muita preocupação com as periferias e os mais descartados. No Huambo dedicou-se aos bairros pobres da Tchiva e no Lubango fundou e animou comunidades rurais, junto do noviciado espiritano, não muito longe da histórica Missão da Huíla que, em 1973, tanto emocionou Miguel Torga quando o escritor visitou o cemitério e viu as lápides de tantos Espiritanos e Irmãs de S. José de Cluny que ali morreram com 20, 30 e 40 anos…
Era mestre de noviços na Missão do Munhino (Lubango) quando foi nomeado bispo do Sumbe, a sua diocese natal, em 1995. Ali se dedicou de alma e coração no tempo crítico pós-guerra civil. Entre as decisões inovadoras está a parceria missionária entre Sumbe e Leiria-Fátima, assinada com o bispo Serafim Silva, o que permitiu à diocese do Sumbe ter em permanência uma equipa missionária (com padre e leigos enviados por Leiria-Fátima) na paróquia do Gungo, no interior pobre e massacrado pela guerra civil, e que ainda hoje ali trabalha.
Já com o calar das armas garantido, o bispo Benedito seria nomeado arcebispo de Malanje em 2012, continuando a apostar nas periferias. Uma das suas marcas eram as visitas pastorais longas que fazia às comunidades. A morte sobreveio-lhe no regresso da que seria a última.