
Ainda há 1.700 milhões de pessoas que não têm a Bíblia traduzida na sua língua. Foto © Kiwihug/Unsplash
A pandemia foi fecunda para as traduções da Bíblia em novos idiomas, ainda que uma tradução seja um trabalho longo e aturado. Segundo a publicação Evangelicals.info, ao iniciar-se o corrente ano, chegava a 704 o número de línguas em que estava disponível o livro sagrado de cristãos e judeus: mais 66 do que um ano antes.
A informação foi coligida e coordenada pela Sociedade Bíblica Mundial e realizada pelas sociedades bíblicas de diferentes partes do mundo. Das 66 traduções em novos idiomas, 46 foram feitas pela primeira vez.
“Potencialmente 13 milhões de pessoas têm pela primeira vez textos bíblicos na sua língua”, destaca a Sociedade Bíblica Suíça num comunicado à imprensa divulgado no passado dia 23, citado pelo Evangelicals.info. Onze primeiras traduções do Novo Testamento para as línguas usadas por quatro milhões de pessoas também foram concluídas em 2020, de acordo com a mesma fonte.
No total, calcula-se que mais de seis mil milhões de pessoas de todo o mundo possam encontrar as escrituras – Antigo e Novo Testamento – no seu próprio idioma. A estes há a somar os que têm acesso apenas ao Novo Testamento (889 milhões) ou apenas algumas partes do texto bíblico (484 milhões).
Analisando o fenómeno da difusão da Bíblia do lado dos que não podem aceder, a informação disponibilizada pela Sociedade Bíblica Suíça indica que mais da metade das 7.360 línguas hoje listadas no mundo não têm nenhum texto bíblico traduzido. Finalmente, quase 1.700 milhões de pessoas ainda não têm a Bíblia completa na respectiva língua.
“Traduzir a Bíblia implica anos de dedicação e generosidade, e é o primeiro passo para permitir que um grupo étnico tenha acesso à palavra de Deus que transforma vidas”, disse Alexander M. Schweitzer, diretor executivo da Tradução Mundial da Bíblia, na Sociedade Bíblica Mundial.
Entre os grupos que receberam as suas primeiras bíblias completas em 2020 está a comunidade de surdos dos Estados Unidos. É a primeira das 400 línguas de sinais existentes no mundo a ter uma Bíblia completa. Três idiomas também receberam a Bíblia Braille completa pela primeira vez, o que eleva para 48 os idiomas do mundo com uma versão completa da Bíblia em Braille.
De São Jerónimo ao Papa Francisco

Considera-se em geral ter sido S. Jerónimo a traduzir a Bíblia pela primeira vez, a partir do aramaico e do grego para o latim. Essa tradução ficou conhecida por Vulgata e só foi oficializada, para os católicos, no Concílio de Trento (1545-1563).
Em meados do século XIV, John Wyclif fez a tradução para inglês. Com a Reforma protestante e a posição que assumiu de democratizar o acesso à leitura da Bíblia para todos os fiéis, ao contrário do que fez a Igreja Católica, as traduções multiplicaram-se.
Nas últimas décadas, as Sociedades Bíblicas têm-se dedicado, entre outras, à tarefa de elaborar traduções da Bíblia em linguagem corrente, mais acessível a amplas camadas da população. Essas traduções são normalmente feitas por equipas de peritos interconfessionais.
No início do seu pontificado, o Papa Francisco recebeu no Vaticano uma delegação da Sociedade Bíblica Mundial, que lhe foi fazer a oferta da tradução da Bíblia em italiano corrente. Na ocasião, o Papa recordou com os visitantes a experiência que tinha feito em Buenos Aires com a versão interconfessional elaborada por católicos e evangélicos.
Nessa ocasião, enalteceu o significado deste trabalho conjunto de diferentes confissões nestes termos: “A preparação de uma versão interconfessional constitui um esforço particularmente significativo, se se pensa no modo como os debates a propósito da Escritura influíram sobre as divisões, de maneira especial no Ocidente. Este programa interconfessional, que vos proporcionou a possibilidade de empreender uma senda comum durante algumas décadas, permitiu-vos abrir o coração a outros companheiros de caminho, ultrapassando assim suspeitas e dúvidas, com aquela confiança que brota do amor comum pela Palavra de Deus.”