
O bispo Anacleto Oliveira era um homem disponível no contacto pastoral e humano, disse o Presidente da República. Foto © Ecclesia.
O bispo de Viana do Castelo, Anacleto Oliveira, morreu nesta sexta-feira, 18 de Setembro, na sequência de um despiste de automóvel na A2 (Autoestrada do Sul), na zona de Almodôvar, quando regressava de uma semana de férias no Algarve.
De acordo com a GNR, citada pela Lusa, o óbito foi declarado no local e o corpo foi encaminhado para o serviço de Medicina Legal do Hospital de Beja. As causas do acidente não foram adiantadas. Na página digital do Notícias de Viana, jornal da diocese, o curto comunicado oficial diz apenas que D. Anacleto morreu “de forma inesperada”, vítima de acidente de viação.
O bispo de Viana – que completaria 75 anos em Julho do ano que vem, devendo nessa data apresentar o pedido de resignação – nasceu a 17 de Julho de 1949, em Cortes (Leiria), e foi ordenado padre a 15 de Agosto de 1970, tendo celebrado os 50 anos no mês passado. Estava há 10 anos na diocese, depois de ter sido bispo auxiliar de Lisboa durante cinco anos, entre 2005 e 2010.
Tendo feito estudos bíblicos em Roma, Anacleto Oliveira era actualmente também o coordenador da equipa da nova tradução da Bíblia, que está a ser promovida pela Conferência Episcopal Portuguesa (CEP).
Depois de Roma, Anacleto Oliveira esteve na Alemanha, onde foi capelão de portugueses durante dez anos, recorda a Ecclesia.
Quarto bispo de Viana, que foi criada como diocese em 1977, Anacleto Oliveira presidia, neste momento, à Comissão Episcopal de Liturgia e Espiritualidade, da CEP.
Homem afável e discreto, alinhado com a vontade renovadora do Papa Francisco, Anacleto Oliveira estava preocupado com a perda de influência da Igreja Católica no país e na sua diocese em particular. A redução de participação nos sacramentos e rituais (baptismo, eucaristia, matrimónios e funerais, por exemplo) era notória, como o próprio referia em Maio de 2018, nas jornadas diocesanas que assinalavam os 40 anos da criação da diocese do Alto Minho.
Numa entrevista à Ecclesia, a propósito dos 50 anos de padre, recordou o seu tempo de seminário, que coincidiu com a realização do Concílio Vaticano II (1962-1965), e o fez reflectir sobre a “abertura ao mundo” e o levou a uma experiência de trabalho fabril: “Eu e um colega já tínhamos programado um estágio numa fábrica de vidros na Marinha Grande. Queríamos fazer uma experiência fora do seminário, que nos amadurecesse em vários campos. Só lá estivemos dois meses, na área da contabilidade, e falávamos muito com os operários.”
Na mesma ocasião, dizia que “não poder conviver e viver” no meio do povo era “das coisas mais duras” que sentia neste tempo de pandemia.
“Grande amigo” para os bispos, “homem de bem” para Marcelo
“Um grande bispo e um grande amigo” foi como se lhe referiu o presidente da CEP e bispo de Setúbal, afirmando ter ficado em “choque” com a notícia. “Fica-nos uma memória amiga, de uma mente aberta, esclarecida, acerca da Igreja, que nos animou durante tanto tempo e que, por isso mesmo, nos dá o conforto de dizer que ele, junto de Deus, há de continuar a acompanhar-nos”, afirmou José Ornelas, citado pela Ecclesia.
Além do patriarca de Lisboa, do arcebispo de Braga e da Conferência Episcopal, também a Associação Bíblica Portuguesa, no âmbito da qual o bispo de Viana trabalhava para a tradução da Bíblia, manifestou o seu pesar recordando o “entusiasmo e dinamismo com que abraçou e levou adiante o projecto da nova tradução da Bíblia”.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, também enviou condolências à família do bispo e à diocese de Viana, falando do “exemplo de pastor e de homem de bem” de Anacleto Oliveira. Em Agosto, a propósito dos 50 anos de padre, Marcelo referiu o “conhecimento, disponibilidade e serviço” manifestados por um bispo “disponível no contacto pastoral e humano”.
Com a morte do bispo, o colégio de consultores de Viana do Castelo elegeu esta sexta à tarde o padre Sebastião Pires Ferreira, vigário-geral da diocese, para as funções de administrador diocesano.
Com esta notícia, Viana junta-se a Braga na espera de um bispo, já que o arcebispo de Braga aguarda a nomeação de um sucessor, depois de ter pedido a resignação no ano passado, quando completou 75 anos.
Na entrevista já citada dada à Ecclesia, Anacleto Oliveira afirmava: “Eu sinto-me bem aqui e quando estou fora sinto saudades de Viana. É difícil não se enamorar por esta diocese. Encontramos aqui pessoas tão boas e de quem recebemos muito e muitas lições, são pessoas muito abertas à mensagem que procuramos transmitir e isso é compensador.”