
Manuel Linda, bispo do Porto, diz que não sabe os nomes das vítimas, por isso pede aos leigos que o indiquem. Foto © João Lopes Cardoso/Diocese do Porto
O bispo do Porto reagiu nesta sexta-feira, através de uma nota informativa, à “carta aberta” que lhe tinha sido dirigida por 441 leigos da diocese, pedindo que “se os subscritores conhecem as vítimas, em consciência devem indicá-las ao bispo”.
“Há que esclarecer que a lista apresentada pela Comissão Independente apenas traz o nome do eventual abusador e não o da vítima: esta confiou-lhe o seu testemunho precisamente por saber que ficava a coberto do mais rigoroso anonimato. Por isso, o bispo não sabe o nome das vítimas. Daí a investigação a que procedeu e continua a realizar”, diz o bispo, para justificar o pedido de denúncia aos leigos.
Na manhã desta sexta-feira, o 7MARGENS solicitara à Diocese do Porto um comentário do bispo à carta aberta que criticava a sua gestão da crise dos abusos: confessando o desânimo, os subscritores do texto acusavam a falta de “decisões”, “sentido de urgência e de clareza” de Manuel Linda.
Na nota agora divulgada, o bispo afirma: “Agradece-se a boa vontade de contribuírem, com participação ativa e sinodal, para o necessário apoio às vítimas e para a construção de uma cultura do respeito e da confiança, algo que já faz parte da vida e sensibilidade dos agentes pastorais, mas que pode e deve ser implementado com maior empenho por parte de todos.”
Manuel Linda considera que as preocupações que a carta dos leigos apresenta “são as mesmas do bispo do Porto”: “prioridade às vítimas, acompanhá-las e erradicar este dramático fenómeno da vida da Igreja, a par da certeza de que nenhum abusador tem ou terá lugar no seio do clero”. E recorda ter enviado ao Ministério Publico e ao Vaticano (onde se deslocou para esse fim) a lista com os sete nomes de padres que a Comissão Independente lhe entregara, pertencentes à Diocese do Porto.
Na nota, acrescenta o bispo: “Esta é a hora do efetivo apoio personalizado às vítimas, logo que sejam conhecidas. É também a hora da justiça que passa pela investigação e pelo direito penal. Mas, para que se trate efetivamente de justiça, é necessário que se cumpram as normas do direito e se evitem critérios subjetivos, por mais bem-intencionados que sejam.”
Na carta aberta, as pessoas signatárias manifestam-se “genuinamente preocupadas com o tema dos abusos sexuais de crianças e frágeis no seio da Igreja”. E acrescentam: “Interpretamos este momento em absoluta urgência e, sobretudo, como um grito de clareza e transparência dirigido ao nosso bispo. Não podemos calar a nossa dor e comunhão com o sofrimento das vítimas dos abusos sexuais.”