
Quer o seminário quer a Cúria de Matagalpa estiveram cercados pela Polícia. Foto: Direitos reservados.
O bispo de Matagalpa, Nicarágua, Rolando Alvarez, que se tinha refugiado numa paróquia dos arredores de Manágua, no dia 19 de maio, devido a perseguição de forças policiais e que, nos dias seguintes, foi impedido de entrar na Cúria da sua diocese, reatou já a atividade pastoral normal. O bispo conseguiu sair na última segunda-feira, 23, para a sua diocese na parte noroeste do país, mas deparou com a sede da Cúria diocesana bloqueada, pelo que foi obrigado a alojar-se no seminário local.
A saída para a sua diocese, com escolta de várias patrulhas policiais, ter-se-á ficado a dever a diligência junto do Governo, feita por um clérigo não identificado, segundo relata o jornal Confidencial.
Quer o seminário quer a Cúria estiveram cercados pela Polícia.
As circunstâncias do alívio da pressão policial não são conhecidas. Há apenas um ato de agradecimento do bispo aos seus diocesanos e a uma longa lista de entidades, pela solidariedade recebida.
O facto de Rolando Alvarez ser um bispo que tem denunciado violações de direitos humanos e que é responsável pelo pelouro da comunicação no âmbito da Conferência Episcopal da Nicarágua leva a generalidade dos observadores a ver este assédio e intromissão como um aumento das pressões governamentais sobre a Igreja Católica.
Nas tomadas de posição, além da dos clérigos e leigos de Matagalpa, destaca-se a da Conferência Episcopal do país que, em comunicado, exprime “solidariedade e proximidade” ao colega no episcopado. O cardeal Leopoldo Brenes, arcebispo de Manágua, numa homilia no domingo, 22, reconheceu que o país vive “tempos difíceis como nação”, acrescentando que “a Igreja é mestra no diálogo, na reconciliação e no perdão, porque assim nos ensinou Jesus”. E rezou pelos que, por causa do Evangelho, se associam à paixão de Cristo, nomeando expressamente a situação do bispo de Matagalpa.
O Conselho Episcopal Latinoamericano (CELAM), em comunicado emitido na última quinta-feira, 26, solidarizou-se também com o bispo e com a Igreja Católica e todo o povo nicaraguense “diante da difícil situação sociopolítica que o país atravessa e que afeta a vida pastoral e a integridade de vários membros da Igreja Católica”.
Do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos chegou também a confirmação de que “o cerco policial aos padres” na Nicarágua reitera que “ninguém está livre da perseguição incessante da divergência” e da “exigência de justiça”, que atinge agora o trabalho pastoral, o que constitui um condicionamento da liberdade religiosa.
Para além do bispo de Matagalpa, vários padres que desenvolvem ação pastoral que é vista como oposição ao regime têm vindo a sofrer o mesmo tipo de cerco, nos últimos tempos, não apenas por parte da Polícia Nacional, mas também por grupos de apoiantes do Governo de Ortega.