
O bispo Sébastien Muyengo, de Uvira, na RD Congo. Foto © JP Bodjoko, SJ/Vaticannews.
Um bispo congolês defendeu a criação de um tribunal internacional para crimes na República Democrática do Congo (RDC). Em entrevista ao jornal La Croix Africa, Sébastien Muyengo, titular da diocese de Uvira, afirmou que “o povo congolês continua a ser morto sem que o mundo proteste”.
O prelado de 64 anos, que acaba de publicar um livro no qual defende a criação do tribunal especial para a RDC, explicou na conversa com a jornalista Prisca Materanya que a investigação realizada sobre crimes cometidos em território congolês — chamada de “Exercício de Mapeamento” — não é obra dos congoleses, é fruto da investigação do gabinete do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos. Trata-se, argumentou, das “mais graves violações dos direitos humanos e do direito internacional humanitário cometidas no território da República Democrática do Congo entre março de 1993 e junho de 2003”.
Sébastien Muyengo, de Uvira, questionou a presença estrangeira nestas violações de direitos humanos. “Claro que há muitos congoleses que são mencionados aqui, mas será difícil provar ao mundo que foram os congoleses que se massacraram em Kasika, Makobola, Katogota, Kavumu, que enterraram mulheres vivas em Mwenga. E só Deus sabe se aqueles que ocupam Bunagana hoje são todos congoleses.” E acrescentou: “A grande questão que evitamos fazer-nos, por medo de sermos chamados de xenófobos, é saber quem hoje é congolês e quem não é, bem como por que não organizamos censos científicos dignos desse nome.”
Muyengo recorda outro bispo, que hoje é apelidado de “Romero do Congo” (numa referência ao arcebispo salvadorenho Óscar Romero, que foi morto), e cuja causa de beatificação está bem encaminhada. Trata-se de Christophe Munzihirwa, um jesuíta que serviu por uma década como bispo na República Democrática do Congo.
Munzihirwa, que foi nomeado arcebispo de Bukavu em 1995, foi morto a tiro por forças militares em 29 de outubro de 1996 por defender os direitos humanos e condenar a primeira Guerra do Congo. No entanto, à passagem dos 26 anos do seu assassinato, quando tinha 70, a violência na RDC continua inabalável, apesar da ausência de notícias na comunicação social internacional.