Carta do arcebispo Gadecki ao bispo Bätzing

Bispo polaco acusa bispos alemães de se afastarem do Evangelho

| 26 Fev 2022

Stanislaw Gadecki (Foto): “Não devemos ceder às pressões do mundo, ou aos padrões da cultura dominante, pois isso pode levar à corrupção moral e espiritual.” Foto © Silar | Wikimedia Commons

 

O presidente da conferência episcopal polaca, arcebispo Stanislaw Gadecki, divulgou uma carta aberta que endereçou a 22 de fevereiro ao seu homólogo alemão, o bispo Georg Bätzing, e na qual afirma que “tendo em conta os frutos” da via sinodal alemã “tem-se a impressão de que o Evangelho nem sempre tem estado na base da reflexão” feita pelos participantes.

A carta aberta do arcebispo polaco é um facto inédito na relação entre a Igreja católica da Polónia e a da Alemanha e constitui um novo passo na contestação aos temas e proposições em debate no contexto do sínodo alemão protagonizada pelos sectores católicos mais conservadores.

Recorde-se que a última reunião da via sinodal alemã realizada entre 3 e 5 de fevereiro deu um voto favorável às recomendações sobre o celibato opcional dos presbíteros, a abertura do diaconato às mulheres e a possibilidade de todos participarem na escolha do seu bispo (ver 7MARGENS). No final daquela assembleia, o núncio apostólico na Alemanha, o arcebispo Nikola Eterović, criticou veemente as conclusões votadas, lembrando que “o Papa frequentemente fala da sinodalidade e dos aspetos positivos a ela associados, mas também incentiva a evitar uma falsa compreensão e os erros.”

Contra aquelas orientações se insurge o arcebispo polaco Gadecki na carta em que ataca em cinco pontos as conclusões da via sinodal alemã: a tentação de buscar a plenitude da verdade fora do Evangelho; a tentação de acreditar na infalibilidade das ciências sociais; a tentação de viver com um complexo de inferioridade; a tentação do pensamento corporativo; a tentação de sucumbir à pressão [dos modismos eclesiais e sociais].

O presidente da conferência episcopal polaca não tem dúvidas e exorta assim os seus irmãos alemães: “Não devemos ceder às pressões do mundo, ou aos padrões da cultura dominante, pois isso pode levar à corrupção moral e espiritual.” E prossegue apelando: “Evitemos a repetição de slogans gastos e das reivindicações do costume como a abolição do celibato, o sacerdócio das mulheres, a comunhão dos divorciados e a bênção das uniões de pessoas do mesmo sexo.”

Gadecki defende que a crise contemporânea da Igreja na Europa é sobretudo uma crise de fé. “A crise de fé é uma das razões pelas quais a Igreja tem dificuldades em proclamar uma doutrina teológica e moral clara”, escreve, para concluir que “a autoridade do Papa e dos bispos é sempre mais necessária quando a Igreja passa por um momento difícil e quando é pressionada a desviar-se dos ensinamentos de Jesus”.

 

Críticas sobem de tom

O presidente da conferência episcopal alemã, o bispo Georg Bätzing, furtou-se a comentar a missiva do seu homólogo polaco, dizendo que “não é costume responder a cartas abertas”, ou a outras posições “difundidas pela comunicação social”.

Mas não faltaram outras reações. Enquanto, num extremo, o vigário-geral da diocese de Essen, o Padre Pfeffer, reagia ao texto do arcebispo polaco, afirmando que a carta parece vir “de um passado católico distante” e mostra “até que ponto “o legado de João Paulo II continua a determinar o clima de pensamento e ação de algumas partes da Igreja Universal”, o bispo de Gorlitz, Wolfgang Ipolt, veio pôr água na fervura. Em declarações à agência católica alemã citadas pela GuadiumPress de hoje, 26 de fevereiro, declarou: “No contexto do caminho sinodal na Alemanha, sempre sublinhámos que somos e queremos fazer parte da Igreja universal. A carta da Polónia é uma voz da Igreja universal. Devemos, primeiro, ouvi-la. O arcebispo Gądecki fala de várias tentações às quais a Igreja como um todo pode sucumbir. Quem poderá negar que essas tentações existem? A Igreja na Polónia enfrenta atualmente desafios muito semelhantes aos que temos na Alemanha.”

As críticas ao desenrolar do processo sinodal alemão têm vindo a subir de tom nos últimos tempos, através, por exemplo, da iniciativa intitulada “Novo Começo”, centrada na figura de Bernhard Meuser, um jornalista e editor católico da Baviera, muito conhecido, entre outras coisas, por ter orientado a publicação do Youcat, (o catecismo para os jovens). A iniciativa “Novo Começo” difundiu um longo manifesto em que rebate uma a uma as principais posições do Caminho Sinodal, documento que entregou, com 6.000 mil assinaturas, ao Papa Francisco em audiência no dia 5 de janeiro de 2022.

Muito antes desta audiência já o cardeal alemão Gerhard Müller, ex-prefeito da Congregação para a Doutrina da fé (substituído no cargo pelo Papa Francisco, a 1 de julho de 2017), publicara um artigo no The Catholic Thing de 19 de julho de 2021, acusando a via sinodal alemã de ser um processo em que “uma maioria de bispos alemães e funcionários leigos” negam de “forma herética” as verdades fundamentais da fé católica “em contradição aberta com o Vaticano II” (ver 7MARGENS).

 

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