
O arcebispo polaco Sławoj Leszek Głódź, conhecido pelo seu estilo de vida luxuoso, foi alvo de diversas acusações de abuso psicológico e encobrimento de pedofilia. Foto: Wikimedia Commons.
É uma atitude fora do comum no Vaticano: substituir um bispo no próprio dia em que celebra os 75 anos (a idade a partir da qual pode retirar-se, devendo apresentar o pedido de resignação). Mas parece que o Papa não quis esperar nem mais um dia para afastar o arcebispo polaco de Gdansk, Sławoj Leszek Głódź, acusado de encobrir inúmeros casos de abuso sexual dentro da Igreja. Nesta quinta-feira, 13 de agosto, dia em que Głódź assinalava o seu 75º aniversário, a Santa Sé comunicou que Francisco tinha aceite a sua resignação e nomeado um administrador temporário para a diocese.
Głódź é um dos visados na polémica despertada por dois documentários da autoria do jornalista polaco Tomasz Sekielski, que denunciaram o modo como a hierarquia da Igreja no país foi negligente em relação a inúmeros casos de abuso sexual, tendo protegido os abusadores.
Conhecido pelo seu estilo de vida luxuoso, o arcebispo foi também acusado publicamente por 16 padres da sua diocese, em outubro do ano passado. Os clérigos escreveram uma carta ao núncio apostólico, relatando o seu envolvimento em casos de abuso psicológico e encobrimento de pedofilia.
Já em março deste ano, um grupo de leigos da diocese de Gdansk escreveu diretamente ao Papa pedindo o afastamento de Głódź antes mesmo que ele completasse os 75 anos, alegando que ela tinha perdido “a credibilidade moral necessária para exercer o ministério de bispo diocesano”.
Três meses depois, o grupo católico Enough Harm, constituído por leigos de diversas dioceses polacas, apelou novamente ao Papa que interviesse para “reparar a Igreja” da Polónia, tendo publicado o pedido como anúncio de página inteira no diário italiano La Repubblica.
“Por favor, olhe com carinho para a Igreja da Polónica, onde os bispos estão a esconder casos de pedofilia. A lealdade à instituição é cega, surda e mais importante do que as vítimas. O episcopado e o núncio apostólico estão a fingir que não veem isto”, podia ler-se no anúncio.
O facto de o Papa ter decidido afastar o arcebispo de Gdansk logo no dia do seu aniversário é um sinal da “sua forte desaprovação” em relação ao que está a passar-se na Polónia, considera Anne Barrett Doyle, da Bishop Accountability, uma associação norte-americana de apoio à denúncia de abusos na Igreja, citada pelo Crux.
Doyle defende, no entanto, que Francisco poderia fazer mais, e questiona: “Se ele está indignado com a proteção do arcebispo em relação aos abusadores, porque não denunciá-lo publicamente? Porque não despedi-lo explicitamente, em vez de dar-lhe a dignidade da reforma?”