
As imagens que vieram a público revelam crianças e adultos yanomami subnutridos e a precisar de assistência médica urgente. Foto © Condisi-YY / Divulgação.
Os bispos católicos do Brasil já haviam feito vários apelos em defesa do povo yanomami, os líderes das comunidades indígenas da floresta amazónica e de várias organizações humanitárias também. Mas as imagens e números que vieram a público este sábado, 21 de janeiro, na sequência da visita do Presidente Lula da Silva e de uma comitiva de ministros à região, são impressionantes. O estado de emergência sanitária foi declarado e os bispos manifestam-se de novo: “estarrecidos”, “indignados” e ao mesmo tempo “profundamente solidários” com o povo e com todos aqueles que estão a “tentar evitar mais mortes” na Amazónia.
“Estamos vendo as imagens dos corpos esqueléticos de crianças e adultos do Povo Yanomami no Estado de Roraima, resultado das ações genocidas e ecocidas do Governo Federal anterior, que liberou as terras indígenas já homologadas para o garimpo ilegal e a extração de madeira, que destroem a floresta, contaminam as águas e os rios, geram doenças, fome e morte. Mais de 570 crianças já perderam a vida” [durante o último governo], escreveram os bispos da região, num comunicado divulgado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
A reserva indígena Yanomami é um vasto território de quase 10 milhões de hectares e onde vivem atualmente mais de 30.400 pessoas, de acordo com dados oficiais. Na década de 1990, os yanomami perderam um quinto da população devido a doenças importadas por garimpeiros, cuja atividade Bolsonaro tentou legalizar, no âmbito da sua política de defesa da exploração de recursos naturais da Amazónia.
Nos últimos anos, devido ao crescimento do garimpo, que contamina os rios e cria escavações com depósitos de água que geram proliferação de mosquitos, houve um aumento muito grande de casos de malária, contaminação por mercúrio e desnutrição.
Lula da Silva criou agora uma comissão nacional de coordenação para combater a falta de assistência médica à comunidade indígena e a ministra da Saúde, Nísia Trindade, avançou que será instalado um centro de operações de emergências de saúde pública na região. “Somaremos esforços na garantia da vida e superação dessa crise”, assegurou Lula numa publicação no seu perfil de Twitter, quando ia a caminho do estado amazónico de Roraima, na fronteira com a Venezuela, onde se localiza grande parte do território Yanomami. No regresso, voltava a escrever: “Mais que uma crise humanitária, o que vi em Roraima foi um genocídio”.
Mais que uma crise humanitária, o que vi em Roraima foi um genocídio. Um crime premeditado contra os Yanomami, cometido por um governo insensível ao sofrimento do povo brasileiro.
📸: @ricardostuckert pic.twitter.com/Hv5vrYw477
— Lula (@LulaOficial) January 22, 2023
Na sua nota, os representantes religiosos dizem apoiar ““as decisões corajosas do Presidente da República e vários ministros, ministras e assessores que visitaram a região, tomando as medidas necessárias e urgentes para expulsar os invasores e salvar muitas vidas de pessoas à beira da morte”.
Citando a exortação pós-sinodal do Sínodo para a Amazónia, “Querida Amazónia”, os bispos referem estar “diante de mais uma situação em que se repete o que foi denunciado pelo Papa Francisco: ‘os povos nativos viram muitas vezes, impotentes, a destruição do ambiente natural que lhes permitia alimentar-se, curar-se, sobreviver e conservar um estilo de vida e uma cultura que lhes dava identidade e sentido’”.