
Carta de pedido de desculpas dos bispos do Canadá
“Juntamente com as entidades católicas que estiveram diretamente envolvidas no funcionamento das escolas residenciais e que já pediram as suas sinceras desculpas, nós, os bispos católicos do Canadá, expressamos o nosso profundo remorso e apresentamos um pedido inequívoco de desculpas”.
Assim se exprimiu a Conferência dos Bispos Católicos do Canadá, num comunicado dirigido aos povos indígenas (designados habitualmente por Primeiras Nações), resultante da assembleia anual que decorreu de segunda a sexta-feira da última semana.
Este pedido, há muito exigido pelos representantes e líderes tradicionais destas nações, bem como pelo Governo canadiano, encontrou resistências e desculpas várias, apesar de alguns responsáveis de dioceses já terem assumido como posição sua aquela que é, doravante, a posição comum.
A tomada de posição oficial do episcopado, que já se esperava, tendo em conta que o Papa Francisco deverá reunir com os líderes das Primeiras Nações em dezembro, surge na sequência do choque nacional e internacional decorrente dos achados de restos humanos não identificados de mais de um milhar de crianças, nas imediações de internatos de crianças indígenas, surgidos ao longo do último ano. Mas as condições de funcionamento e os abusos de crianças nos internatos vinham já de um relatório que inventariou estes problemas, publicado naquele país em 2015.
“Reconhecemos – afirmam os bispos – o sofrimento vivido nas escolas residenciais no Canadá. Muitas comunidades religiosas e dioceses católicas prestaram serviços neste sistema que levou à supressão das línguas indígenas, cultura e espiritualidade, sem respeitar a rica história, tradições e sabedoria dos povos indígenas.”
“Reconhecemos os graves abusos cometidos por alguns membros de nossa comunidade católica: físicos, psicológicos, emocionais, espirituais, culturais e sexuais. Também reconhecemos com tristeza o trauma histórico e contínuo, bem como o legado de sofrimento e desafios que perduram até hoje para os povos indígenas”, acrescenta este pedido oficial de desculpas.
Os bispos não se limitam a manifestar remorsos e a pedir desculpas. Assumem também alguns compromissos e responsabilidades da assunção de responsabilidades naquilo que designam por “processo de cura e reconciliação”. Assim: “Além das muitas iniciativas pastorais já em andamento nas dioceses de todo o país, e como mais uma expressão tangível deste compromisso permanente, prometemos comprometer-nos com a arrecadação de fundos em todas as regiões do país para apoiar iniciativas assumidas localmente com os parceiros indígenas”.