
Arcebispo de Colombo, cardeal Malcolm Ranjith. Foto da página de Facebook da diocese de Colombo, Sri Lanka.
Os bispos do Sri Lanka expressaram a sua “profunda preocupação pela triste situação que existe hoje no país”, avançando com uma descrição muito crítica do que se passa na ilha, num momento em que os protestos aumentam por todo o país face à crise alimentar que se vive.
A Conferência Episcopal do Sri Lanka descreveu o terrível quotidiano cingalês, citada num comunicado das Obras Missionárias Pontifícias: “As pessoas andam pelas estradas, sem produtos básicos como alimentos, combustível e gás doméstico e industrial. Os pacientes são deixados na mão sem medicamentos necessários para se tratamentos. Os pais desejam encontrar produtos lácteos para bebés e crianças. A tragédia que atingiu a nossa nação é, sem dúvida, a pior do nosso tempo.”
A crise no Sri Lanka acelerou com a queda do turismo devido à pandemia da covid-19 e, sobretudo, devido a um passo drástico para uma agricultura ‘ecológica’ que levou a que a produção do país, segundo várias estimativas, tenha ficado reduzida a menos de metade.
Segundo os bispos, “o país está paralisado e tem que viver dia a dia”, o que conduz a um “aumento desenfreado dos preços dos produtos de primeira necessidade”, com a escassez a afetar “seriamente o dia-a-dia das pessoas que são obrigadas a fazer longas filas nas ruas”.
A Igreja Católica tentou ajudar através da Caritas, mas não é suficiente, resume o episcopado. “Em primeiro lugar”, pedem os bispos, “a produção de alimentos deve ser melhorada. Para isso, o setor agrícola deve receber subsídios substanciais em fertilizantes”. E pedem ainda que, “em vez de participar em disputas políticas, é imperativo pensar no futuro do país. Não deve haver incitamento ao ódio entre as pessoas, especialmente com base na raça, religião e partidos políticos”.
Os constantes protestos e manifestações, especialmente de jovens, levam “a abordar a necessidade de mudança do sistema”. Para os bispos, estes protestos são legítimos, porque “as principais causas da crise económica foram a corrupção desenfreada e a má gestão dos sucessivos governos e a instabilidade política”.
Os bispos pedem e imploram que a corrupção pare e que “a independência absoluta dos tribunais” seja consagrada na Constituição do Sri Lanka, porque só assim “o país poderá avançar com a esperança de soluções de longo prazo, como autossustentabilidade agrícola, economia orientada para a exportação, investimento estrangeiro e turismo”.
A tensão entre a Igreja Católica e o poder político tem sido grande, sobretudo depois dos atentados na Páscoa de 2019. O arcebispo de Colombo, cardeal Malcolm Ranjith, tem sido muito criticado por políticos próximos do poder.