
A votação dos bispos durante a sua assembleia de inverno foi esmagadoramente favorável a uma proposta que sublinha a centralidade da Eucaristia na vida da comunidade cristã, bem como a um plano pastoral sobre o tema. Foto © USCCB.
Os bispos dos Estados Unidos optaram por uma via de não confrontação com o Papa Francisco, na votação que realizaram esta quarta-feira, dia 17, sobre a Eucaristia, e que apontava para a recusa da comunhão a políticos católicos com posições contrárias às posições oficiais da Igreja sobre temas como o aborto e a eutanásia.
Depois das polémicas e confrontos entre os próprios bispos, e de um veemente apelo do núncio apostólico, Christoph Pierre, no discurso de abertura – “uma igreja dividida nunca será capaz de guiar o povo”, afirmou –, a votação foi esmagadoramente favorável a uma proposta que sublinha a centralidade da Eucaristia na vida da comunidade cristã, bem como a um plano pastoral sobre o tema.
Na reta final dos trabalhos da sua assembleia de inverno, 222 bispos dos 233 reunidos em Baltimore desde a última segunda-feira votaram a favor do documento preparatório (houve oito votos contra e três abstenções). A votação foi anónima e feita com recurso a meios eletrónicos.
De fora ficaram, assim, medidas fraturantes como a recusa da comunhão aos políticos católicos que assumam, na sua ação, posições contrárias à doutrina oficial da Igreja, nomeadamente no que respeita ao aborto e eutanásia. O tema assume um forte cunho político, tendo em conta que o atual Presidente do país, Joe Biden, e a presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, são católicos praticantes e defendem que não devem impor as suas convicções.
O texto aprovado traz por título “O mistério da Eucaristia na vida da Igreja” e não deixa de recordar a doutrina, quando diz: “Se um católico na sua vida pessoal ou profissional rejeitasse consciente e obstinadamente as doutrinas definidas da Igreja, ou repudiasse consciente e obstinadamente o seu ensino definitivo sobre questões morais, ele ou ela diminuiria seriamente sua comunhão com a Igreja.”
Os responsáveis da Conferência dos Bispos dos Estados Unidos preferiram investir num texto que se pretende pedagógico e formativo para os membros da Igreja, num país em que, segundo os estudos de opinião, os católicos andam afastados do significado da Eucaristia que é “a fonte e o culminar da vida cristã”.
Campanha de redescoberta da Eucaristia durará 3 anos
De acordo com o Pew Research, num estudo de 2019, 69 por cento dos que se afirmam católicos consideram que o pão e o vinho são “símbolos do corpo e sangue de Jesus Cristo”, distanciando-se, assim, da fé na “transubstanciação” e na “presença real” de Cristo no pão e no vinho consagrados na missa.
Estes e outros dados fizeram soar as campainhas de alarme entre o episcopado, colocando o assunto na agenda da preocupação dos bispos. A eleição de Biden e a recusa de alguns prelados em dar-lhe a comunhão, que já vinha de trás, introduziu no processo uma carga político-ideológica que se tornou motivo de divisão entre os bispos.
A Congregação da Doutrina da Fé e o próprio Papa enviaram, nos meses recentes, vários sinais de que a polarização não era o caminho desejável. Na sua intervenção de abertura, o núncio apostólico aproveitou o tema do processo sinodal para referir que, “agora mais do que nunca”, a Igreja precisa da “escuta atenta, se quiser superar a polarização que este país enfrenta”.
E, convocando declarações do Papa, Christopher Pierre observou que existe “a tentação de tratar a Eucaristia como algo a ser oferecido a uns poucos privilegiados, em vez de procurar caminhar com aqueles cuja teologia ou discipulado está em falha, ajudando-os a compreender e apreciar o dom da Eucaristia, e ajudando-os a superar as suas dificuldades”.
O documento aprovado pela Conferência dos bispos é a peça central de um plano estratégico que assenta numa campanha de redescoberta da eucaristia, que se prolongará por três anos. Tal plano inclui o lançamento de um site, a produção de materiais de apoio e a preparação especial de meia centena de presbíteros que viajarão pelo país a apoiar este movimento de despertar. Todo o processo desembocará num congresso eucarístico nacional, a realizar em junho de 2024, na cidade de Indianápolis.