
No início de 2022, as Nações Unidas ajudaram a realojar populações deslocadas devido à violência em Port-au-Prince. Foto © IOM Haiti/Monica Chiriac.
“Chegou a hora de acordar do nosso torpor, de dizer com todas as nossas forças: não à insegurança! Não aos sequestros! Não à legalização, por cumplicidade, da atividade das quadrilhas armadas! Não a qualquer projeto de aniquilação do Estado!”, escrevem os bispos do Haiti na sua mensagem deste domingo, 31 de julho, em que incitam “o povo, empresários, políticos, representantes de instituições e da sociedade civil” a unirem-se no combate contra “o flagelo da insegurança”.
“A deterioração geral da situação no país preocupa-nos cada vez mais como pastores deste povo que tanto sofre”, assim começa a longa mensagem da Conferência Episcopal do Haiti difundida pela agência SIR. Os bispos descrevem “a presença agora descontrolada e sistemática de gangues armados”, que se junta à “corrupção, pobreza extrema, precariedade generalizada, sequestro, desconfiança interpessoal” que marcam a realidade quotidiana do Haiti.
A Conferência Episcopal reconhece-se “surpreendida e indignada com a impotência das autoridades estatais, que deixam o campo aberto a gangues fortemente armados” que impunemente “sequestram, destroem, matam, queimam” e pergunta: “por que não age o Estado para reprimir com o rigor necessário (dentro dos princípios do Estado de Direito) para colocar os bandidos em condições de não fazer mal? É impossível neutralizar as fontes que fornecem armas e munições a grupos e a indivíduos, ou há pessoas intocáveis que beneficiam” desse comércio?
É contra este torpor permissivo que os bispos clamam ser “urgente trabalhar o quanto antes para desarmar as quadrilhas” e decidem juntar a sua voz “à de todos aqueles que sofrem com esta situação e que aspiram à segurança e à paz, para exigir a intervenção imediata das autoridades estatais responsáveis pelo bem-estar dos cidadãos.”.
Segundo relato das Nações Unidas de 16 de julho, entre janeiro e o final de junho foram documentados “934 assassinatos, 684 feridos e 680 sequestros em toda a capital”. Depois disso, a violência cresceu de tal modo que “num período de cinco dias, de 8 a 12 de julho, pelo menos mais 234 pessoas foram mortas ou feridas em confrontos entre gangues na área de Cité Soleil (arredores da capital, Port-au-Prince)”.