Cada manhã o alvoroço da luz – um (quase) inédito de Sophia
Em 1990, Henrique Manuel Pereira, seminarista e responsável editorial da Atrium – Revista dos Alunos do Seminário Maior do Porto pediu a Sophia de Mello Breyner um poema para aquela publicação. Sophia respondeu com este poema, publicado no nº 8 (ano IV) da revista. O poema, que Henrique Pereira crê que não foi ainda publicado em livro, trasncreve-se a seguir, no dia em que se assinalam 100 anos sobre o nascimento de Sophia de Mello Breyner Andresen (6 de Novembro), com o agradecimento do 7MARGENS ao agora professor na Escola das Artes no centro do Porto da Universidade Católica Portuguesa.

Página da “Atrium” com o poema de Sophia
POEMA
Cada manhã o alvoroço da luz
Me acorda: a luz atravessa a paisagem e a casa!
– A dormir tinha esquecido não as coisas
Mas sua meticulosa beleza
Múltipla
No princípio Deus disse
Faça-se a luz
E com a luz da manhã o mundo principia
Digo a luz e não o sol
Nos dias de nevoeiro emergem formas brancas
Aqui e além como se vogassem
Numa deriva cismadora e serena
Nos dias de sol os ciprestes enegrecem
E ao longe brilha o regozijo das vidraças
Sophia de Mello Breyner Andresen (inédito – 1987)