Tempo de Advento (IV)

Cada momento em que recomeço a amar

e | 20 Dez 2021

Desde há vários anos, a comunidade da Capela de Nossa Senhora da Bonança (conhecida como Capela do Rato), em Lisboa, assinala o tempo litúrgico do Advento com a publicação de postais com uma pintura encomendada a um(a) artista e um poema alusivo ao dia. Este ano, a convidada foi a artista portuense Lígia Rodrigues (que reside no Algarve), sendo os textos da autoria da escritora Leonor Xavier e do actor e encenador Luís Miguel Cintra. Por acordo com a Capela do Rato, o 7MARGENS publica aqui o último dos quatro postais com a oração respectiva, bem como a “memória descritiva” preparada pela artista, para apresentar a sua obra.

Ilustração © Lígia Rodrigues, cedida pela autora
http://www.ligiarodrigues.org/

 

 

Memória descritiva

Maria sai e vai visitar Isabel. O amor impele à ação. Maria encontra-se em movimento. Vai para, na direção de (o outro/a). A Palavra, o Verbo, faz-se carne, acontece, entra na História, no infinitamente pequeno para o elevar ao infinitamente grande. É quando a Palavra em nós e entre nós transforma ao nosso redor as situações com movimentos concretos: “tive fome e deste-me de comer…” “o que fizeres ao menor destes meus irmãos a mim o fizeste…”

Também nós repetimos Maria cada vez que saímos de nós para encontrar o outro nas suas necessidades, nas suas fraquezas….

Há naquela intensidade de olhares (entre Maria e Isabel) um encontro no Mistério. Ambas em Deus, ambas num só amor: quando se encontram é Nele que se reconhecem, cada uma no seu desígnio.

Madre Teresa, que em cada pobre via o seu Deus, o seu céu, o seu desígnio…

Naquele olhar, Isabel reconheceu aquela “a quem todas as gerações iriam chamar bem aventurada…”

E João encontra Jesus e salta de alegria. Antes de nascer já tinha visto a Luz, pois a Luz é para além das trevas.

“Onde Eu estou está o Pai…” o Sol como presença ténue entre os dois meninos, entre as duas mulheres, entre ambos os ventres… o Criador que presencia a vida a acontecer, para além do tempo, pois o Espírito previa já que todas as coisas fossem novas. E naquele voo em que acompanha a humanidade num futuro já unida, onde todos os povos se reconhecem num único Amor feito de tantos matizes, onde a individualidade não contradiz a alteridade mas lhe dá sentido…

De que tamanho sou eu? Constitui-me a medida de todos os que me circundam em presença ou em ausência, e cada gesto de amor singelo torna-se uma nova criação, como Maria, como aquele momento em que na Palavra ainda embrião já anunciava a nova criação. Assim, o manto que se estende gerando e acolhendo todos numa maternidade de Corpo místico.

De que tamanho é a noite quando chega a alvorada? Quantas vezes posso encarnar a Palavra prolongando nas nossas noites aquela luz? Com que potência nos encontramos nela… mesmo quando não se vê o brilho? Quem pode cancelar em nós aquele “sim à vida que ultrapassa o mistério da morte num infinito onde tudo é amor? Disso fala a zona sombria das árvores e da natureza que parecem subir um calvário… mas suspenso sobre a atmosfera de luz clara, nova esperança que nasce de cada momento em que a Palavra feita vida em nós vai… e faz novas todas as coisas.

Quem nos tirará esse amor? Jesus está para chegar cada momento em que recomeço a amar.

Lígia Rodrigues

 

Isabel ficou cheia do Espírito Santo
e exclamou em alta voz
“Bendita és tu entre as mulheres
e bendito é o fruto do teu ventre.”
(Lc 1,41-42)

 

Antes de nascer o Menino, no sopro do Espírito Santo,
já a sábia mulher Isabel lhe conhece os traços do corpo,
o ânimo, a alma feita humana, misterioso percurso de Deus.
Que beleza, como Lucas diz o grito de alegria,
a cumplicidade no sentir do ventre,
a imagem de duas mulheres abraçadas na força
e expressão do júbilo.
Mulheres de certezas, na esperança de que
a revolução do mundo vai chegar.
Por dor e amor vai chegar.
Senhor, ilumina em mim estes caminhos de Advento.
Ao longo dos dias, eu te espero.

Leonor Xavier 2021

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