Diocese deu dois bispos a Braga

Há mais de oito paróquias para cada padre de Bragança e a situação vai agravar-se

| 11 Dez 2022

Ordenação episcopal de Delfim Gomes: dos 62 padres do clero de Bragança, só 39 são párocos – a diocese tem 356 paróquias. Foto © Agência Ecclesia/OC

Ordenação episcopal de Delfim Gomes: dos 62 padres do clero de Bragança, só 39 são párocos – a diocese tem 356 paróquias. Foto © Agência Ecclesia/OC

 

Análise

Num ano, transferiram-se para a arquidiocese de Braga dois sacerdotes oriundos do presbitério brigantino: o ex-bispo de Bragança, D. José Cordeiro, e o agora auxiliar de Braga, D. Delfim Gomes, ordenado no domingo, 4 de dezembro, na catedral de Bragança. Isto apesar de o clero da diocese transmontana ser um dos mais diminutos do país em termos absolutos e o mais sobrecarregado quanto ao número de paróquias por padre.

De acordo com as últimas estatísticas disponíveis no Anuário Católico, em 2014 Bragança-Miranda tinha 77 presbíteros para 361 paróquias, o que dava, em média, mais de quatro paróquias para cada padre. No país, esta média oscilava entre os 0,8 paróquias de Leiria-Fátima e os 2,7 de Portalegre-Castelo Branco. É certo que, em 2014, Bragança e Lamego eram as dioceses com menos população, pouco mais de 130 mil habitantes cada. Lamego tinha, então, 133 padres diocesanos para 223 paróquias, distribuídas pelos seus 2.848 km2 de área. Enquanto os de Bragança tinham de garantir a paroquialidade de mais de 600 localidades, dispersas pelos seus 6.545 km2. Bragança é a quinta diocese mais extensa do país, a seguir a Évora (13.547 km), Beja (12.300 km2), Portalegre-Castelo Branco (9.150 km2) e Guarda (6.759 km2).

Desde então o panorama só se agravou. As paróquias não diminuíram significativamente. Apesar de terem sido elaborados vários estudos, tendo como objetivo a diminuição de paróquias, só se avançou na cidade de Bragança. Em 2018, foi suprimida uma das suas sete paróquias (a Paróquia Escolar, a única pessoal) e as restantes seis, territoriais, foram fundidas em duas.

Hoje, o clero diocesano reduz-se a 62 padres. Destes, apenas 39 são párocos, uma vez que os outros não exercem o seu ministério devido à idade avançada, à doença ou por estarem a residir fora da diocese. A média subiu para mais de oito paróquias por padre.

Não há perspetivas que o clero aumente, pois há apenas dois seminaristas nos últimos anos de formação, que engloba os seis anos de Seminário Maior e os de estágio pastoral. Isso significa que não são expectáveis mais de duas ordenações presbiterais nos próximos nove a dez anos.

É neste contexto que o contributo do presbitério de Bragança-Miranda para o episcopado português adquire maior relevância: a diocese acolheu com alegria a nomeação de D. Delfim Jorge Gomes para bispo auxiliar de Braga, no passado dia 7 de outubro, o dia em que a diocese celebrava o aniversário da sua catedral e reunia em assembleia anual o seu clero.

No dia 3 de dezembro de 2021, D. José Cordeiro, bispo de Bragança-Miranda tinha sido nomeado arcebispo de Braga, de que tomou posse a 12 de fevereiro. Aguarda-se desde então a nomeação do novo bispo de Bragança, que ainda não aconteceu. Por isso, a diocese alegrou-se com a nomeação episcopal de mais um membro do seu presbitério, mas a sua alegria não foi completa porque ainda continua em “sede vacante”. Enquanto envia bispos para outras dioceses, continua à espera que seja nomeado o seu.

Apesar disso, Bragança rejubilou de novo, no domingo dia 4 com a ordenação episcopal de D. Delfim Gomes. Ele é o primeiro bispo, na multissecular história desta diocese, nascido e batizado nesta cidade. Aqui cresceu, daqui saiu para frequentar o Seminário Maior no Porto, aqui regressou para ser ordenado diácono, presbítero – e agora bispo!

É também o primeiro padre a ser ordenado bispo desde que o núncio Ivo Scapolo assumiu, em agosto de 2019, a sua missão em Portugal, como representante diplomático do Papa no país. Até agora, têm sido transferidos bispos para as dioceses que vagaram, como foi o caso de Viana do Castelo, de Angra do Heroísmo e Leiria-Fátima, e ainda não tinha sido nomeado nenhum padre. Viana ficara vaga pela morte de D. Anacleto Oliveira. Angra, com a transferência de D. João Lavrador precisamente para Viana. Para substituir este em Angra, foi nomeado o bispo auxiliar do Porto, D. Armando Domingues. Leiria-Fátima ficou vaga devido à resignação do cardeal D. António Marto, que foi substituído pelo então bispo de Setúbal, D. José Ornelas.

 

Partilhar o clero?

Neste quadro, deveria, por isso, a diocese de Bragança-Miranda ser recompensada. Outras poderiam disponibilizar alguns dos seus padres, porventura aí subvalorizados, para ajudarem a colmatar saídas como as de D. José Cordeiro e D. Delfim Gomes.

Infelizmente, não é expectável que tal venha a acontecer. Não tanto pela falta de solidariedade entre as dioceses, mas, sobretudo, porque os bispos consideram, regra geral, que têm poucos padres para acorrerem às suas necessidades, seja pela extensão de algumas das suas dioceses, seja pela elevada concentração de população, no caso de outras.

A solução, então, terá de passar necessariamente pela corresponsabilização dos leigos na assistência pastoral às comunidades dispersas pelo Nordeste Transmontano. Tal implicará um forte investimento na sua formação teológica e pastoral. Algo que não está feito e que não se afigura uma tarefa fácil.

Por um lado, a diocese, tal como acontece com os presbíteros e também por causa disso, não tem teólogos e pastoralistas formados em número suficiente para garantirem essa formação. Nem dinheiro para pagar aos que venham de fora fazê-la, como acontecia no passado, por exemplo para a reciclagem do clero. Então terá de encontrar soluções imaginativas. A pandemia, por exemplo, veio demonstrar e vulgarizar o ensino à distância, através dos meios digitais. Uma solução muito mais barata, ainda que não a ideal. Haverá outras…

O que não pode continuar a acontecer é que as paróquias e as minúsculas comunidades da diocese estejam votadas ao abandono e só se reúnam na missa da festa ou, o que é mais grave, quando há algum funeral. Precisam-se animadores das comunidades que, em nome da Igreja e sob a orientação do pároco, as liderem e reúnam, sobretudo aos domingos, para aprofundarem, viverem e celebrarem a sua fé, colmatando as ausências do presbítero.

Neste contexto é urgente que seja nomeado rapidamente o próximo bispo. Que ele seja portador do dinamismo do Espírito Santo para reacender a chama da candeia que ainda fumega (cf. Isaías 42,3).

 

Fernando Calado Rodrigues é padre católico da diocese de Bragança-Miranda.

 

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