
Presépio em artesanato do Peru, à venda na loja de comércio justo do CIDAC. Foto © CIDAC
Cerâmica, presépios e têxtil do Peru, cacau do Equador, açúcar de Cuba, café da Nicarágua, Chiapas (México) e também de Cuba, chá da Índia, artesanato do Sri Lanka e Bangladesh, café e especiarias da Tanzânia e ainda um leque de alimentos vários e artesanato de 17 produtores portugueses. Tudo isto está numa loja que funciona em contra-corrente. Por duas razões: porque tenta propor circuitos de consumo que passem pelo apoio aos sectores cooperativo, associativo, da economia social e solidária; e porque em Portugal é um caso único, ao contrário do que acontece em outros países.
A iniciativa em contra-corrente de que se fala é a Loja de Comércio Justo do CIDAC (Centro de Intervenção para o Desenvolvimento Amílcar Cabral), em Lisboa, que nesta segunda-feira, 29, completa 10 anos de existência. É a única sobrevivente de uma dúzia de iniciativas semelhantes que chegaram a existir, ao longo dos últimos anos, em cidades como Barcelos, Viseu, Porto, Peniche, Évora, Faro ou Almada, por exemplo.
“Em Portugal, o comércio justo nunca teve uma expressão muito forte, estamos em contra-corrente em relação a outros países – por exemplo, só em Espanha há várias dezenas”, diz ao 7MARGENS Stéphane Laurent, responsável da loja no âmbito do CIDAC, organização não-governamental para o desenvolvimento (ONGD) que trabalha no campo da solidariedade internacional desde 1974 e se envolveu desde 1998 na promoção do comércio justo.
A loja tem, desde o início, o objectivo de “aliar o comércio a princípios de justiça, equidade e solidariedade.”, diz uma nota de apresentação da Loja de Comércio Justo (CJ), que integra uma rede solidária que reúne consumidores/as e pequenos produtores/as de África, Ásia, América Latina e Europa, em particular de Portugal.
“Como deixou de haver lojas de comércio justo em Portugal, decidimos abrir uma, porque já trabalhávamos desde 1998 no campo educativo da cooperação para o desenvolvimento.” E pode uma iniciativa assim sobreviver? “Sofremos os mesmos problemas do comércio de bairro”, explica o responsável da loja. “Muitas pessoas que já eram consumidoras do comércio justo nas várias lojas tornaram-se nossas clientes.”
A primeira iniciativa do CIDAC nesta área, além do trabalho educativo, foi com a paróquia do Campo Grande, também em Lisboa, e com a organização Cores do Globo. Vale a pena acrescentar que o trabalho educativo de sensibilização também levou clientes à loja, ao longo destes últimos anos.
As acções de sensibilização sobre as “alternativas ao sistema económico dominante” são “parte indissociável” da comercialização, informa o CIDAC. Aliás, as lojas de comércio justo nunca dissociaram o negócio da pedagogia e educação para o tema. Há sempre informação, folhetos, documentação escrita, folhetos, documentação escrita, interacção humana, comunicação, explica Stéphane Laurent. E os clientes estão genericamente satisfeitos: gostam dos produtos e da inserção da loja no comércio do bairro (Rua Tomás Ribeiro, 9, junto do Fórum Picoas).
Crítica ao consumismo é central

Chocolate da América Latina. Foto © CIDAC
Vendendo produtos alimentares, de beleza e higiene ou de limpeza, bem como artesanato, conjugando trabalho assalariado e voluntariado, a Loja de Comércio Justo pretende que se pague o preço justo pelos produtos, “garantindo relações de longo prazo e pré-financiando as encomendas”. Com isso confere “maior estabilidade e previsibilidade às cooperativas de produção”, permitindo aos produtores e produtoras “viverem com dignidade com base no seu trabalho”.
As contrapartidas exigidas são a “garantia do respeito pelos direitos humanos, a exclusão de qualquer forma de exploração do trabalho infantil, a igualdade salarial e de poder de decisão entre mulheres e homens”, lê-se ainda na informação da loja do CIDAC.
E quem avisa para a necessidade do decrescimento e para a não insistência no consumo como base do modelo económico? “Comungamos dessa opinião: um dos grandes problemas do nosso mundo é o consumismo, o impulso para consumir fora de necessidades reais, que serve muitas vezes como muleta para a violência da vida”, diz Laurent, que dá o exemplo de iniciativas como a Black Friday. Ao contrário, nas lojas de comércio justo, “a crítica ao consumismo é central, por isso não há nelas coisas superficiais, todos os produtos são duráveis”.

Têxteis da América latina na loja de comércio justo do CIDAC. Foto © CIDAC
A ideia do comércio justo surgiu no início da década de 1960, como tentativa de “denunciar as injustiças no comércio internacional propondo um modelo em que a dignidade humana, a justiça social e ambiental prevalecessem sobre a estrita procura de lucro”, resume o CIDAC, na informação sobre a loja. “A degradação ecológica, as alterações climáticas, as injustiças sociais e económicas, o aumento da pobreza estrutural afectam-nos a todas e todos e tornam mais compreensível a necessidade de uma mudança de paradigma para a nossa sobrevivência coletiva. A Loja de Comércio Justo do CIDAC é uma das muitas alternativas que visam uma transformação profunda do modelo de desenvolvimento desigual em que vivemos e que precisam da participação de todas e todos.”
Loja de Comércio Justo do CIDAC
Rua Tomás Ribeiro, 9 – Lisboa
2.ª a 6.ª feira, das 10h às 19h; sábado, das 10h às 14h (em Dezembro: das 10h30 às 19h de 2ª a 6ª e das 10h às 19h ao sábado)
loja@cidac.pt
Facebook: https://pt-pt.facebook.com/LojaComercioJusto
Web: https://www.cidac.pt/index.php/o-que-fazemos/loja-de-comercio-justo/