
O altar-palco, que deverá estar pronto entre maio e junho, terá uma área de implantação de cinco mil metros quadrados (o equivalente a metade de um campo de futebol), disse aos jornalistas Filipe Anacoreta Correia. Foto © Clara Raimundo / 7MARGENS.
A construção das infraestruturas nos quatro espaços da cidade de Lisboa conde irão decorrer os principais momentos da Jornada Mundial da Juventude irá custar à autarquia da capital 35 milhões de euros. O vice-presidente da Câmara, Filipe Anacoreta Correia, apresentou os detalhes desse investimento numa conferência de imprensa que decorreu esta quarta-feira, 25 de janeiro, no Parque Tejo, um dia depois de o Observador ter divulgado que a construção do “altar-palco”, onde decorrerão a vigília e missa de encerramento da jornada, foi adjudicada por 4,2 milhões. O autarca, que tem o pelouro da JMJ na vereação lisboeta, garante que este palco “corresponde àquilo que é o pedido pelo promotor” da Jornada e que, face aos requisitos exigidos pela Fundação JMJ e pela Santa Sé, foi escolhida a proposta com o melhor preço.
Entre os requisitos apresentados pela Fundação JMJ, explicou Filipe Anacoreta Correia, estão uma “capacidade em cima do palco para duas mil pessoas”, incluindo mil bispos, 300 concelebrantes, 200 coralistas, 30 intérpretes de língua gestual, 90 músicos da orquestra, e ainda convidados e equipa técnica. Além disso, foi pedido que o palco tivesse “visibilidade para a maioria dos peregrinos”. Sendo estimada a participação de um milhão e meio de pessoas, distribuídas por uma área de cerca de cem hectares, “isto implica a colocação do palco a uma altura de nove metros”.

O palco será construído numa estrutura elevada em três plataformas, que ao centro contará com uma escadaria para acesso de jovens. Imagem cedida pela CML.
O altar-palco, que deverá estar pronto entre maio e junho, terá uma área de implantação de cinco mil metros quadrados (o equivalente a metade de um campo de futebol). Será construído numa estrutura elevada em três plataformas, que ao centro contará com uma escadaria para acesso de jovens. O projeto prevê também a inclusão de dois elevadores destinados a pessoas com mobilidade reduzida, “um no interior e outro no exterior” da estrutura, referiu o engenheiro António Lamas, presidente da empresa municipal Sociedade de Reabilitação Urbana (SRU), que acompanhou os jornalistas numa visita às obras a decorrer no Parque Tejo.
“Por baixo das plataformas [do palco], haverá casas de banho, zona de paramentação, capela do Papa e outros equipamentos, que ocupam praticamente metade dos cinco mil metros quadrados”, acrescentou o responsável pela empresa de obras públicas.
De acordo com Filipe Anacoreta Correia, apesar de a construção ter sido adjudicada por ajuste direto à Mota-Engil, a Câmara Municipal pediu propostas a sete empresas diferentes, tendo recebido orçamentos que variavam entre os 4,4 e os 8,4 milhões de euros. Depois da consulta inicial, foram selecionadas quatro dessas empresas para repetição da consulta, e numa terceira fase houve ainda nova consulta às duas empresas com melhores propostas. Estas eram, nas palavras do vice-presidente da autarquia, as “maiores empresas de construção de Portugal”. Foi então definido um preço base de procedimento em 4,24 milhões de euros e selecionada a “empresa que apresentou a melhor proposta em todas as fases do procedimento”.
José Sá Fernandes, coordenador do grupo de projeto para a JMJ, afirmou ter ficado “surpreendido” com este valor. “Sabíamos que ia ser de grande dimensão, o problema é a opção técnica que se toma. Uma coisa é saber que vou ter de fazer um grande palco com um estrado, outra é a opção que define que vou ter uma coisa mais ou menos barata. Não estou a dizer que este palco não custe isto, mas podiam haver soluções bastante mais baratas”, referiu ao portal Sapo 24.
“19 milhões ficam na cidade”

O vice-presidente lembrou que, independentemente da realização da Jornada Mundial, a requalificação de toda a zona ribeirinha, desde Cascais até Loures, era já “um sonho antigo”. Foto © Clara Raimundo / 7MARGENS.
Ao longo da conferência de imprensa, Filipe Anacoreta Correia fez questão de destacar por diversas vezes que este palco será uma das estruturas que permanecerão no local após a realização da JMJ, e que inclusivamente já houve “manifestações de interesse” por parte de promotores internacionais para que naquele espaço possam realizar-se outras iniciativas no futuro – mas não quis especificar quais, por considerar prematuro.
Superior ao custo do altar-palco foi o valor da reabilitação do aterro sanitário de Beirolas, que ali se localizava, e que ficou por 7,1 milhões de euros. Para os estudos, projetos e fiscalização foram 1,6 milhões, e para os ensaios e fundações 1,06 milhões. As infraestruturas e equipamentos de saneamento, abastecimento de água e eletricidade de toda a área custarão 3,3 milhões de euros, e está também a ser construída uma ponte pedonal sobre o rio Trancão, que custará mais 4,2 milhões de euros.
Assim, o custo total da reabilitação do parque ficará em 21,5 milhões de euros, “dos quais 19 milhões ficam na cidade”, salvaguardou Filipe Anacoreta Correia. “Tivemos a preocupação de que, na medida do possível, os investimentos que fizéssemos a propósito da Jornada Mundial da Juventude ficassem na cidade.”
O vice-presidente lembrou que, independentemente da realização da Jornada Mundial, a requalificação de toda a zona ribeirinha, desde Cascais até Loures, era já “um sonho antigo”, e que agora irá finalmente concretizar-se. “De zona de aterro, de zona desqualificada, menos utilizada, temos a possibilidade de ter aqui um espaço incrível, um espaço de grande dimensão de fruição e de lazer, mas não só”, afirmou Anacoreta Correia.

No local onde será construído o palco, decorrem já os trabalhos de colocação da base. Foto © Clara Raimundo / 7MARGENS.
A Câmara Municipal de Lisboa prevê ainda gastar 13,5 milhões de euros nos restantes recintos da Jornada, nomeadamente o Parque Eduardo VII, que irá acolher a missa de abertura com o cardeal-patriarca, Manuel Clemente (onde são esperadas 200 mil pessoas), o acolhimento ao Papa Francisco (em que deverão estar 400 a 500 mil pessoas) e a Via-Sacra (para 700 mil pessoas).
De acordo com o vice-presidente da CML, “no caso do palco do Parque Eduardo VII, ainda estamos no processo de conversação com a Igreja”, a “ultimar o projeto”. Neste caso, por se tratar de uma estrutura menor, menos complexa, e mais rápida de construir, haverá “um concurso internacional, lançado nos próximos dias”, esclareceu, acrescentando que se trata de “um investimento relevante, embora substancialmente inferior e não terá utilização para além da JMJ”.
A CML será ainda responsável pela “produção integral dos três espaços principais do Festival da Juventude”, integrado na JMJ, que se localizarão no Terreiro do Paço, Alameda D. Afonso Henriques e Parque da Belavista.
Em todos os espaços, caberá à Câmara suportar os custos com iluminação, som, ecrãs gigantes, casas de banho, baias, geradores, sinalética, segurança, limpeza e recolha de resíduos.
Não olhar só para a despesa, mas também para a oportunidade

Filipe Anacoreta Correia estima que o evento tenha um retorno económico de “200 a 300 milhões de euros”. Foto © Clara Raimundo / 7MARGENS.
A cargo do Governo, estão os planos de mobilidade, segurança e saúde, as torres multimédia a ser instaladas no Parque Tejo, bem como o aluguer, montagem e desmontagem da ponte militar no mesmo local, e ainda a construção do centro de reconciliação e da feira das Vocações, na zona de Belém.
Do lado da Fundação JMJ, ficam o acolhimento e serviços relacionados com os peregrinos inscritos e voluntários, a decoração dos altares, palcos e recintos, e a organização das iniciativas do Festival Mundial da Juventude.
O 7MARGENS contactou a Fundação JMJ para obter esclarecimentos sobre qual o investimento que será suportado pela Igreja e indagar se os valores de investimento da CML são do seu conhecimento e se enquadram dentro das suas estimativas e expectativas. No entanto, até ao fecho da edição, não recebeu qualquer resposta.
Questionado sobre se os valores de investimento encontram paralelo em edições anteriores da JMJ, Filipe Anacoreta Correia disse não ter conhecimento e assinalou que Lisboa dificilmente poderá ser comparada com outras cidades onde a Jornada teve lugar no passado, dado que é a primeira vez que o espaço escolhido para a realização da vigília e missa de encerramento é o local de um antigo aterro sanitário. O autarca garantiu, no entanto, que “o diálogo com a Igreja tem sido muito regular e muito importante” ao longo de todo o processo. “Temos estado a trabalhar juntos”, frisou.
De acordo com o jornal Crux, a Jornada Mundial da Juventude que se realizou em Cracóvia (Polónia), em 2016, e que tem sido usada diversas vezes como termo de comparação com o evento de Lisboa, terá custado cerca de 50 milhões de dólares (46 milhões de euros) e sido a mais barata das “JMJ modernas”. A Jornada que teve lugar no Rio de Janeiro, em 2013, terá ultrapassado os 57 milhões de euros e deixado a arquidiocese endividada, porque “o governo brasileiro prometeu perto 14 milhões de euros para infraestruturas e nunca pagou”.
No caso lisboeta, Filipe Anacoreta Correia considera importante “não olharmos apenas para o aspeto da despesa”, mas também para “a grande oportunidade” que a JMJ representa em termos de visibilidade e futuro para a cidade, estimando que o evento tenha um retorno económico de “200 a 300 milhões de euros”.