
A lista de padres abusadores resulta de uma auditoria iniciada em 2020 por iniciativa da própria Companhia de Jesus no Canadá e levada a cabo com o apoio de investigadores independentes. Foto © Jésuites du Canadá.
A Companhia de Jesus no Canadá divulgou esta segunda-feira, 13 de março, uma lista com os 27 religiosos da sua congregação acusados “de forma credível” de abuso sexual de menores desde 1950. Do total, apenas três se encontram vivos, tendo já sido “afastados do ministério ativo enquanto as suas ações são investigadas” e colocados “sob supervisão estrita”, assegura o provincial canadiano, Erik Oland, em comunicado.
Esta lista resulta de uma auditoria iniciada em 2020 por iniciativa da própria Companhia de Jesus no Canadá e levada a cabo com o apoio de investigadores independentes. Devido a alguns atrasos relacionados com a pandemia, o estudo só agora foi concluído e a publicação dos seus resultados, bem como dos nomes dos acusados com credibilidade, pretende “expressar o compromisso com a transparência e a prestação de contas” por parte dos Jesuítas.
“Nem todos verão a publicação da lista como um passo positivo. Estamos cientes de que ver o nome de um agressor impresso pode reabrir velhas feridas. No entanto, estamos a publicar esta lista em parte a pedido de vítimas e grupos de defesa de vítimas para ajudar a promover a cura, reconhecer a magnitude do seu trauma e sofrimento, reconhecer a sua experiência e promover justiça e transparência”, escreveu o padre Erik Oland.

Entre os três padres acusados que se encontram vivos inclui-se John Pungente, 83 anos, reconhecido professor e investigador na área da literacia mediática, e co-autor de diversos livros e cursos, entre os quais o premiado “Finding God in the Dark”, que combina a alfabetização espiritual inaciana com a alfabetização mediática, com o objetivo de transformar o visionamento de filmes mainstream num caminho para a promoção do crescimento espiritual.
Pungente foi diretor do Colégio St. Paul, em Winnipeg, e nos últimos anos tem continuado a trabalhar como consultor de profissionais dos média e ministrado palestras de alfabetização mediática na Universidade de Toronto, sendo presidente da Associação Canadiana de Organizações de Educação para os Média (CAMEO) e diretor do Jesuit Communication Project, em Toronto.
Os outros dois padres “credivelmente acusados” e ainda vivos são Francis Whelan e David Eley, todos falantes de inglês ligados à que era anteriormente designada de Província do Alto Canadá. A Companhia de Jesus no Canadá conta atualmente com um total de 208 clérigos.
“O único caminho a seguir é contar a verdade, curar e reconciliar”
No seu comunicado, o responsável pela Companhia de Jesus no Canadá reconhece que, relativamente ao drama dos abusos sexuais de menores, a Igreja católica “passou por fases de negação total, culpabilização da vítima e incompetência moral”, e que isso “minou a credibilidade de uma instituição que, segundo a sua própria razão de ser, deveria ter sido testemunha de tudo o que contribui para a promoção da dignidade moral de cada pessoa humana, mais do que a sua humilhação”.
“Ao encontrarmo-nos com sobreviventes, ouvirmos as suas histórias e lermos os relatos das suas experiências, sentimos vergonha e convencemo-nos de que o único caminho a seguir é contar a verdade, curar e reconciliar”, afirma.
Relativamente a este estudo, Erik Oland assinala ainda que “a grande maioria dos casos se revelou depois da morte do alegado abusador” e que “alguns destes casos nunca chegaram à justiça penal ou civil”. Assim, adverte que “embora tenha sido feita uma pesquisa nos arquivos tão exaustiva quanto possível, ainda é possível que outros nomes apareçam. A lista deve ser considerada um documento vivo, que pode ser adicionado ou modificado no futuro à medida que informações adicionais sejam apresentadas”.
Esta é a última de uma série de medidas tomadas pelos jesuítas do Canadá desde a década de 1990 para combater os abuso sexuais e as suas consequências no seio da congregação. Entre as medidas já implementadas, inclui-se a “avaliação psicológica” dos candidatos à Companhia de Jesus “para garantir que têm as bases necessárias para uma vida saudável como Jesuítas” e a obrigatoriedade de todos os padres da Companhia participarem numa “formação anual sobre prevenção de abusos e vida celibatária saudável”. Foram também desenvolvidos “procedimentos abrangentes para receber e investigar denúncias de abuso sexual de menores”.
“Não podemos reescrever o passado”, assume o provincial, mas “queremos contribuir para a reconciliação, corrigir os erros do passado e reconstruir a confiança”, conclui.