
O Presidente de Timor-Leste, José Ramos-Horta, durante o seu discurso na 78ª sessão da Assembleia-geral da ONU, em Nova Iorque. Foto © ONU/Cia Pak.
Ao terceiro dia de debates na 78ª assembleia-geral da ONU, a decorrer esta semana em Nova Iorque, chegou a vez do Presidente de Timor-Leste partilhar os avanços e desafios dos 20 anos de democracia no seu país. José Ramos-Horta falou de uma nação que ainda luta contra a pobreza extrema e teceu duras críticas às instituições financeiras internacionais por “continuarem indiferentes” aos pedidos de cancelamento da dívida de países como Timor-Leste.
“Apesar de uma diminuição significativa da pobreza, a pobreza multidimensional é ainda elevada, situando-se nos 45,8%, e é ainda mais elevada entre crianças. Tirar o nosso povo da pobreza extrema, da insegurança alimentar, da mortalidade neonatal, do raquitismo, da subnutrição infantil são alguns dos desafios que estamos determinados a enfrentar nos próximos cinco anos”, afirmou José Ramos-Horta.
Assinalando que Timor-Leste até tem bons indicadores financeiros, a começar pelo rácio de dívida face ao PIB nos 16%, “um dos mais baixos do mundo”, e tendo apenas contraído mil milhões de dólares em dívida desde 2012, com uma taxa média de 2%, que contrasta com juros à volta de 10% exigidos aos países africanos nas emissões financeiras internacionais, Ramos-Horta apelou a um maior apoio internacional.
“Digo isto aos bancos e a outras instituições de crédito: cancelem esta maldita dívida”, pediu o Presidente de Timor-Leste, alertando: “Continuamos a testemunhar os presidentes super-ricos de bancos e países credores que, mesmo confrontados com a agonia da pobreza e o aumento do custo de vida nos países mais empobrecidos, continuam indiferentes aos apelos internacionais para o cancelamento da dívida”.
Ramos-Horta pediu ainda “uma nova perspetiva sobre o nexo climático e de segurança, que confronte os impactos das alterações climáticas e da degradação ambiental na paz e segurança e que garanta que a busca de uma transição energética não piora a situação de segurança nos países frágeis”.
Considerando que as atuais iniciativas nesta área não dão a devida atenção aos países de baixo rendimento e aos arquipélagos pequenos e isolados, Ramos-Horta defendeu que só “o efeito combinado do desbloqueio do financiamento através do alívio da dívida, da aceleração do financiamento internacional a baixas taxas de juro e a um aumento significativo da ajuda oficial ao desenvolvimento” é que poderá “permitir a estas nações embarcarem em projetos que fomentam o desenvolvimento de indústrias limpas e, ao mesmo tempo, lidar com as perdas e danos resultantes das alterações climáticas”.