Para não envolver o Papa

Cardeal Becciu quis encobrir dinheiro mal gasto de colaboradora

| 13 Out 2022

Cardeal Angelo Becciu

Cardeal Angelo Becciu. Foto © João Lopes Cardoso/Diocese do Porto

 

O cardeal Angelo Becciu ofereceu-se para reembolsar a Secretaria de Estado do Vaticano por verbas avultadas que tinha mandado transferir para uma agente e consultora e que esta teria gasto em viagens e despesas luxuosas de caráter pessoal. Esta foi a novidade que surgiu na 28ª audiência, realizada na quarta-feira, 12 de outubro, do tribunal do Vaticano que está a julgar o cardeal e outras pessoas por peculato, abuso de poder e tentativas de suborno.

No seu depoimento, o dirigente do corpo da polícia do Vaticano, Stefano De Santis, interpelado pelo promotor de Justiça Alessandro Diddi, recordou que foi através de um alerta da polícia judiciária eslovena que se ficou a saber que uma cidadã italiana, de nome Cecilia Marogna, tinha feito nove transferências para uma empresa sua em Liubliana, da conta da Secretaria de Estado no Crédit Suisse, no valor total de 575 mil euros, justificadas em supostas contribuições para missões humanitárias. Uma investigação preliminar permitiu concluir que a pessoa em causa desbaratava o dinheiro e chegava a dar conta disso na sua página no Facebook.

Este oficial e o comandante terão sido, posteriormente, convidados pelo cardeal Becciu para irem a casa deste, o que aconteceu em 3 de outubro de 2020, pouco tempo depois de ele ter perdido todos os seus direitos cardinalícios. Segundo o relato do Vatican News, nessa reunião, o cardeal terá pedido que o nome de Cecília Marogna não fosse “trazido à tona”, já que isso representaria um grave dano para ele e para a sua família”.

Sobre este ponto, o cardeal, presente na sala de sessões, fez uma breve declaração espontânea em que negou aspetos do depoimento do comissário. Negou, nomeadamente que tivesse sido ele a solicitar o encontro; reafirmou, depois, que se tratava de uma operação reservada (relativamente à qual já tinha anteriormente invocado em tribunal o segredo de Estado), e reconheceu que, que na conversa com os responsáveis da polícia, tinha dito que estava disposto a ressarcir a Secretaria de Estado pelos fundos perdidos.

Na reportagem sobre este assunto publicada pelo Religion Digital, Becciu explica as circunstâncias do encontro e esclarece que estava transtornado com uma manchete saída no mesmo dia no jornal Corriere della Sera [“Becciu enviou 700.000 euros para a Austrália para financiar testemunhas contra o cardeal Pell”] e pretendia conversar com os dirigentes policiais sobre como é possível publicar tais falsidades. Acrescentou que foram os próprios agentes a pedir que a reunião ficasse em segredo e que, por isso, não entende como o assunto vem agora a público.

Rebateu, entretanto, que estivesse preocupado com o surgimento do nome de Marogna por causa da sua família. “É verdade – terá dito no tribunal – que levantei as minhas mãos quando me falaram sobre a senhora Marogna. Levantei-as porque havia o risco de que essa notícia fosse publicada, já que era uma operação de que só o Santo Padre e eu sabíamos”, disse, referindo-se à libertação de uma freira sul-americana sequestrada no Mali.

Recorde-se que Marogna é também acusada de peculato neste julgamento, mas conseguiu não ser extraditada, pelo que, até agora, ainda não compareceu em tribunal. Em entrevistas que deu nos últimos anos, referidas pelo jornal digital The Pillar, além de dizer que trabalhou para a Secretaria de Estado do Vaticano em processos delicados como raptos e sequestros de missionários, revela que trabalhou para o cardeal Becciu, “reunindo dossiês de informações sobre as falhas morais particulares de outros altos funcionários da Igreja”.

Na sessão desta quarta-feira, o comissário De Santis dedicou ainda algum tempo do seu depoimento ao caso da Diocese de Ozieri e da Spes, uma cooperativa social representada por Antonino Becciu, irmão do purpurado. O comissário falou sobre dois depósitos no valor total de 125 mil euros, que não tinham sido feitos nas contas oficiais da Diocese e sobre alguns documentos redigidos por monsenhor Mauro Carlino para “dar cobertura” à doação da Conferência Episcopal Italiana em favor daquela Cooperativa.

O julgamento, que começou em meados de 2021, prosseguirá em nova audiência prevista para este mês, ainda sem data conhecida.

 

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