“Reconhecimento da verdade deve ser feito”

Cardeal Marto admite investigação independente sobre abusos sexuais, mas bispos estão divididos

| 13 Out 2021

P. Manuel Barbosa, porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa CEP), explica que será criada uma comissão nacional para lidar com os casos de abusos que surjam. Imagem: agência Ecclesia.

 

 

São quatro expressões usadas pelo cardeal António Marto, bispo de Leiria-Fátima, que deixam entender a sua posição sobre a possibilidade de uma investigação independente a eventuais casos de abusos sexuais por parte de membros do clero: “A Igreja está disposta a olhar a realidade, para pôr fim a este escândalo”, cuidar do apoio às vítimas e ter uma “atitude preventiva e sem contemplação”.

Questionado directamente sobre a possibilidade de uma comissão independente, tal como aquela que em França divulgou na semana passada o seu relatório, o cardeal Marto foi claro: “Não há contemplações neste campo e todas as acções que tiverem de ser feitas pelo reconhecimento da verdade deverão ser feitas”. E reafirmou: “A Igreja está disposta a olhar e a realizar com determinação todos os esforços necessários para pôr fim a estes dramas, a esta chaga que a atingiu profundamente, quer com o cuidado das vítimas, no acolhimento, no apoio humano, psicológico, espiritual e de reparação, quer atendendo ao presente numa atitude preventiva, de prevenção, e sem contemplações.”

Já o conselho permanente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), que o próprio cardeal Marto também integra, está ainda dividido pelo tema. Pelo menos, a avaliar pelo resumo da reunião que na manhã desta terça, 12, decorreu em Fátima. O secretário da CEP, padre Manuel Barbosa, afirmou que a Igreja “reconhece a gravidade da situação” e que o episcopado “se julgar conveniente, pode tomar outras medidas” para além do que já está em vigor. Basicamente, existe uma comissão de protecção de menores em cada diocese, que está preparada para recolher eventuais queixas de abusos. Mas estas comissões têm estado num papel sobretudo passivo, ao contrário da pró-actividade que o Papa Francisco e os organismos do Vaticano têm pedido.

 

“Dor, tristeza, vergonha, luto”

Com uma diferença de duas horas entre as duas conferências de imprensa – do padre Manuel Barbosa, sintetizando a reunião matinal do conselho permanente da CEP, e do cardeal Marto, abrindo a peregrinação de 12-13 de Outubro – percebeu-se claramente que a opinião no interior do episcopado português – e desde logo, nos membros do conselho permanente da CEP – não é unânime.

Para já, o padre Barbosa disse que o episcopado assumirá na sua assembleia plenária de 8-11 de Novembro a constituição de um grupo coordenador das 21 comissões diocesanas (vinte dioceses territoriais mais a diocese militar), para decidir sobre “procedimentos comuns” para os casos de abusos e para o estabelecimento de boas práticas na instituição. Mais do que isso, “se a CEP julgar conveniente, poderá decidir tomar outras medidas”.

Manuel Barbosa reafirmou a necessidade de rejeitar o encobrimento e abusos e fazer justiça às vítimas. Mas os bispos não dizem, para já, como se faz isso sem averiguar toda a extensão dos casos.

Já o cardeal António Marto não poupou palavras. “Faço minhas as palavras do Papa: dor, tristeza, vergonha. Acrescentaria uma outra palavra, o luto. É uma situação de luto para a Igreja” em dois aspectos: “O luto para interiorizar tudo o que significa esta chaga no coração da Igreja, mas também para olhar para o futuro com olhar novo”, referiu, admitindo que é uma “tarefa árdua fazer com que tais dramas “não se possam repetir para reconstruir a dignidade e a esperança no novo caminho”. E acrescentou: “Apelo a fazer todos os esforços”, de modo a reconstruir “a dignidade e a esperança”, repetindo, com o Papa, “que muitos dos piores ataques à igreja vêm do seu interior, com este tipo de comportamentos”.

O cardeal Marto insistiu ainda em que é preciso a Igreja colocar-se “à escuta dos outros, à escuta do mundo e à escuta do Papa – o Papa está sempre a oferecer o seu ensinamento, a sua luz e a sua coragem”. E concluiu: “A minha posição é clara.”

 

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