
Reinhard Marx diz sentir-se “pessoalmente” culpado e responsável pelo silêncio e omissões da Igreja Alemã na gestão dos casos de abusos sexuais. Foto © Klaus D. Wolf/Erzbischöfliches Ordinariat München.
O cardeal Reinhard Marx, membro do Conselho de Cardeais, coordenador do Conselho para a Economia da Santa Sé e ex-presidente da Conferência Episcopal Alemã, divulgou esta sexta-feira, 4 de junho, a carta que escreveu recentemente ao Papa, apresentando a sua renúncia ao cargo de arcebispo de Munique. Na origem do pedido, que ainda não foi aceite por Francisco, estão os casos de abusos sexuais na Igreja Alemã, cuja gestão Marx considera ter sido uma “catástrofe” e pela qual pretende assumir “responsabilidades”.
Na carta, datada de 21 de maio e citada pelo Vatican News, o cardeal refere que tomou a decisão de renunciar há já cerca de um ano. “Basicamente, para mim, trata-se de assumir a corresponsabilidade pela catástrofe dos abusos sexuais perpetrados pelos representantes da Igreja nas últimas décadas”, explica.
Marx refere-se a “investigações” e “perícias” dos últimos dez anos que, segundo ele, “mostram constantemente que houve erros pessoais e administrativos, mas também uma falha institucional e sistemática”. E, acrescenta, revelam que “alguns na Igreja não querem aceitar este aspeto da corresponsabilidade e com ele a concomitância da culpa da instituição”. Consequentemente, “assumem uma atitude hostil em relação a qualquer diálogo de reforma e renovação em relação à crise do abuso sexual”.
“Não basta responsabilizar-se e reagir apenas quando, com base em documentação diversa, é possível identificar os responsáveis com os seus erros e omissões, mas é necessário esclarecer que nós, como bispos, também assumamos a responsabilidade pela Igreja como um todo”, escreveu o arcebispo, afirmando sentir-se “pessoalmente” culpado e responsável também pelo silêncio, omissões e peso dado à instituição.
“Fracassámos”, conclui o cardeal. Por isso, “renuncio como possibilidade de expressar a minha disponibilidade de assumir responsabilidades”, e também como “sinal pessoal para novos inícios, para um novo reinício da Igreja e não só na Alemanha”. “Parece-me que chegámos a um ‘beco sem saída’ que também pode tornar-se num ponto de viragem, segundo a minha esperança pascal”, sublinha.
De acordo com uma investigação encomendada pela Conferência Episcopal na altura em que Reinhard Marx se encontrava na presidência, e cujo relatório foi publicado em setembro de 2018, 1.670 padres (o equivalente a 4,4% do clero alemão) abusaram sexualmente de 3.677 pessoas entre os anos de 1946 e 2014. A maioria das vítimas eram crianças.
No ano passado, o cardeal Marx criou na sua diocese a fundação “Spes et Salus”, com o objetivo de ajudar as vítimas de abuso sexual dentro da Igreja, para a qual contribuiu com 500 mil euros do seu capital privado.