Missão de paz

Cardeal Zuppi, enviado do Papa, está em Moscovo depois de ter ido a Kyiv

| 27 Jun 2023

cardeal matteo zuppi foto c CEI

Matteo Zuppi, que é arcebispo de Bolonha e presidente da Conferência Episcopal Italiana, além de antigo membro da Comunidade de Sant’Egídio, poderá encontrar-se com o patriarca Cirilo. Foto © CEI.

 

O cardeal italiano Matteo Zuppi chegou a Moscovo ao fim do dia desta terça-feira, 27 de junho, na qualidade de enviado do Papa Francisco, para encontros relacionados com a guerra da Ucrânia na perspetiva da paz. A deslocação segue-se àquela que fez, em 5 e 6 deste mês, a Kyiv, durante a qual se encontrou com o Presidente Zelensky.

O principal objetivo da iniciativa é, segundo um comunicado da Sala de Imprensa do Vaticano, “encorajar gestos de humanidade, que possam ajudar a promover uma solução para a atual situação trágica e a encontrar formas de alcançar uma paz justa”.

Zuppi, que é também arcebispo de Bolonha e presidente da Conferência Episcopal Italiana, além de antigo membro da Comunidade de Sant’Egídio, poderá encontrar-se com o patriarca Cirilo, líder da Igreja Ortodoxa Russa, durante os dois dias de permanência em Moscovo.

O caminho para o encontro entre Cirilo e o cardeal deve ter sido aplanado nos últimos dias, em especial depois do encontro entre Francisco e o metropolita António, chefe do Departamento de Relações Externas do Patriarcado de Moscovo, no passado dia 16, data em que o Papa regressou a Santa Marta, após o internamento na Clínica Gemelli.

A estadia de Matteo Zuppi na capital da Federação Russa ocorre num momento em que se regista ainda alguma tensão, depois da movimentação das milícias privadas do grupo Wagner a caminho de Moscovo. Ainda que se mantenham questões por esclarecer, aparentemente a situação caminha para a normalização.

O Papa tem procurado não comprometer possibilidades de diálogo entre as partes em guerra e tem sido comedido nas acusações ao regime de Putin, embora tenha assumido claramente que houve uma invasão da Ucrânia por parte da Rússia.

Quem tem sido reticente ou mesmo crítico da ideia de uma mediação do Vaticano é o Presidente ucraniano. Zelensky disse, em maio último, depois de uma audiência com Francisco, em Roma, que a Ucrânia não precisa de uma mediação com o agressor. Mostrou-se, no entanto, aberto, aos bons ofícios da Santa Sé nomeadamente na recuperação de centenas de crianças que o exército russo levou para o seu país e na troca de prisioneiros.

 

Católicos da Ucrânia insatisfeitos com o Papa

Sviatoslav Shevchuk, chefe da Igreja Greco-Católica na Ucrânia, gostaria que o Papa Francisco se colocasse inequivocamente, incluindo a nível diplomático e político, ao lado da Ucrânia, condenando os agressores. Foto: Direitos reservados.

 

Quem não parece satisfeito com a posição do Papa é o chefe da Igreja Greco-Católica na Ucrânia, Sviatoslav Shevchuk, que fez declarações contundentes, durante uma recente entrevista à agência noticiosa ucraniana Glavcom.

“Gostaríamos – afirmou o hierarca – que o Papa Francisco se colocasse inequivocamente, incluindo a nível diplomático e político, ao lado da Ucrânia, condenando os agressores. Gostaríamos que ele dissesse claramente quem é o agressor e quem é a vítima”.

No mesmo registo, Sviatoslav Shevchuk que é também arquieparca (equivalente a arcebispo) metropolitano de Kyiv, continuou: “Com base nos gestos do Papa e na perceção que a Ucrânia tem dos movimentos do Vaticano, posso dizer que, atualmente, tudo o que o Papa tentou fazer pela Ucrânia, desde o início da invasão em grande escala, falhou”.

Shevchuk entende que não é por oportunismo – “para não incomodar ninguém” – que o não posicionamento claro ao lado de Kyiv surge do lado do Vaticano, já que este não dispõe de instrumentos a nível político, restando-lhe “o uso do diálogo, das palavras, da diplomacia”, observou.

O chefe da Igreja Greco-Católica na Ucrânia reconhece, entretanto, uma diplomacia da ação humanitária a favor do povo ucraniano, que levou, por exemplo, a “salvar a vida de crianças de vários orfanatos que acabaram em território ocupado”. Reconhece, por outro lado, que o Papa “quer realmente fazer tudo para acabar com esta guerra”, que considera “um dos maiores desafios deste pontificado”. Mas contesta o facto de  Francisco não ter tomado uma posição aberta e clara de apoio a Kyiv.

 

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