
uma familia de refugiados ucraniana chega à fronteira com a Roménia: o problema dos refugiados é bem mais que apenas na guerra na Ucrânia. Foto © Albin Hillert | COE
A Caritas Internationalis está preocupada com “a falta de solidariedade internacional” em acolher refugiados e pessoas que solicitam asilo. Num comunicado divulgado a propósito do Dia Mundial do Refugiado, assinalado nesta segunda-feira, 20, aquela organização da Igreja Católica decidiu “levantar a sua voz “ sobre o problema, alertando para a “dignidade e os direitos de todos os deslocados” que “não podem ser ignorados”.
“Toda a pessoa tem o direito fundamental de procurar e desfrutar de asilo”, afirma a organização, que federa as organizações nacionais com o mesmo nome, num comunicado citado pela Agência Ecclesia. “Os apelos por segurança e por uma vida digna para os refugiados, na sua maioria, permaneceram inaudíveis, e a Caritas Internationalis não ficará surda ao clamor dos pobres do nosso mundo nem ficará calada sobre sua situação e a sua resiliência na reconstrução das suas vidas”, diz o texto.
De acordo com a organização católica, a segurança, a dignidade e os direitos humanos dos requerentes de asilo estão também em risco por causa dos acordos que “criaram muros físicos e legais” através do exercício de controlos regionais de fronteira e processos de asilo por parte de entidades externas às autoridades estatais.
Mais de 100 milhões de pessoas foram deslocadas à força em todo o mundo devido a perseguição, conflito, violência ou violações de direitos humanos e desastres climáticos, nos primeiros meses de 2022, “os níveis mais altos de deslocamento já registados”, assinala a Cáritas. Todos estes factores são causas que levam muitas pessoas a procurar refúgio e “não podem ser considerados separadamente”. Sé de 2019 a 2021, mais de 8436 migrantes, incluindo requerentes de asilo, perderam a vida, e 5534 migrantes desapareceram em trânsito, recorda ainda a organização.
O comunicado exemplifica que os membros da Confederação da Cáritas da Europa, Médio Oriente e África ajudaram requerentes de asilo que fogem de conflitos e violência a chegar a “destinos seguros e comunidades acolhedoras onde podem recomeçar as suas vidas”. Com outras organizações religiosas, aquela confederação defendeu também a abertura de corredores humanitários, o resgate e o desembarque seguro de pessoas em risco de vida no Mediterrâneo e em todo o mundo.
As Cáritas do Sudão do Sul e do Uganda são “particularmente activas” em campos de refugiados e deslocados internos com programas educacionais e distribuição de parcelas de terra para que os refugiados possam voltar a viver do seu trabalho, em colaboração com o ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados).
Na Jordânia, que acolhe 83% dos refugiados sírios, a organização católica está a trabalhar com o Governo para “encontrar soluções humanitárias sustentáveis” para estas vítimas da guerra.
Papa recorda Síria
Na manhã desta segunda-feira, o Papa Francisco recordou a “amada e martirizada Síria”, com os seus “milhares de mortos e feridos”, e os “milhões de refugiados dentro do país e no exterior”.
Ao receber os membros do Sínodo da Igreja greco-melquita (católicos de rito bizantino), o Papa afirmou que o conflito no Leste da Europa, na Ucrânia, “não deve fazer esquecer” a guerra na Síria, que dura há doze anos. Recordou a propósito que, no seu primeiro ano de pontificado (Francisco foi eleito a 13 de Março de 2013), o Papa convocou uma noite de oração na Praça São Pedro onde também participaram muçulmanos.
“E ali nasceu essa expressão: ‘Amada e martirizada Síria’. Milhares de mortos e feridos, milhões de refugiados dentro do país e no exterior, a impossibilidade de iniciar a reconstrução necessária”, referiu o Papa.
“Não podemos permitir que a última faísca de esperança seja tirada dos olhos e corações dos jovens e das famílias! Portanto, renovo meu apelo a todos aqueles que têm responsabilidade, dentro do país e da Comunidade internacional, para que seja alcançada uma solução equilibrada e justa para a tragédia na Síria.”
Em entrevista ao Vatican News, portal de notícias do Vaticano, o núncio apostólico em Damasco, cardeal Mario Zenari, lamentou que a Síria tenha desaparecido “do radar dos media internacionais”, com a pandemia da covid-19, “a crise no Líbano”, e agora a guerra na Ucrânia.
“A Síria continua com uma das crises humanitárias mais graves do mundo. Basta dizer que, além das inúmeras mortes causadas por este conflito, há cerca de 14 milhões de pessoas, das 23 milhões do passado, que estão fora de suas casas, fora de suas aldeias, fora de suas cidades”, acrescentou o cardeal.
O núncio acrescenta que “cerca de sete milhões de pessoas desalojadas internamente” vivem por vezes “sob as árvores ou em barracas sujeitas às intempéries”, e o inverno foi “particularmente rigoroso”, para além dos “milhões de refugiados nos países vizinhos”.