
Bombeiros procuram sobreviventes nos destroços em Chernigiv: cristãos e marxistas estão preocupados com a perda de vidas neste conflito. Foto © Ministério dos Assuntos Internos da Ucrânia
A plataforma Dialop, de diálogo entre cristãos e marxistas, fez um apelo a um cessar-fogo na Ucrânia e ao regresso rápido à mesa das negociações, “para evitar o prolongamento da guerra e o imenso aumento do número de vítimas e para alcançar uma paz com justiça”.
Num comunicado enviado ao 7MARGENS na sequência de um seminário de investigação, que decorreu em Viena de Áustria coincidente com a Conferência Internacional sobre o Impacto Humanitário das Armas Nucleares, a plataforma de diálogo considera a invasão russa da Ucrânia como “uma violação flagrante da Carta das Nações Unidas e do direito internacional”. As divergências da Rússia “com e sobre a Ucrânia” deveriam “ter sido resolvidas através de negociações apoiadas pelo Conselho de Segurança da ONU, com os interesses de segurança de todos os países respeitados”, acrescenta o documento.
Esta Plataforma de diálogo impulsionada pelo Papa Francisco considera que, agora, “as sombrias realidades da batalha em curso deveriam empurrar ambas as partes para a mesa de negociações o mais rapidamente possível”.
É nessa perspectiva que a estrutura exige “um cessar-fogo imediato para salvar vidas e iniciar um processo que conduza a uma paz positiva”. Além disso, acrescenta o documento, “a guerra na Ucrânia e os arsenais nucleares presentes na região demonstram claramente como as guerras são perigosas no mundo contemporâneo, porque podem muito facilmente transformar-se numa guerra nuclear”. E na actual situação mundial “o objectivo final da eliminação total das armas nucleares torna-se tanto um desafio como um imperativo moral e humanitário”, acrescenta o texto, citando a encíclica Fratelli Tutti, do Papa Francisco.
“A uma plataforma de diálogo entre cristãos e marxistas não compete escolher os procedimentos, mas sim apontar horizontes”, diz ao 7MARGENS José Manuel Pureza, presidente do conselho científico da Plataforma, dirigente do Bloco de Esquerda e antigo membro da Comissão Nacional Justiça e Paz, da Igreja Católica, de quem o 7MARGENS publicou já um texto sobre esta dinâmica.
“Em minha opinião (estritamente minha) é evidente que isso pressupõe usar mecanismos multilaterais de negociação política, como a ONU ou a OSCE, q têm sido flagrantemente subalternizados neste contexto”, acrescenta o mesmo responsável.
O texto do comunicado recorda ainda a assinatura e ratificação do Tratado sobre a Proibição de Armas Nucleares, que entrou em vigor em 2021 e conta agora com 87 Estados-membros, “um primeiro passo importante para um mundo sem armas nucleares” e que abre “a possibilidade de reiniciar o debate sobre a criação de zonas livres de armas nucleares na Europa, o que poderá tornar-se um elemento crucial de uma nova arquitectura de segurança europeia”. Nessa linha, o grupo convida todos os governos a aderir ao acordo “e a assumir o compromisso de recusar totalmente a posse e/ou utilização de armas nucleares”.
A Plataforma considera-se, em si mesma, “um exercício de diálogo contínuo entre diferentes culturas”, nascida em 2014 a partir de uma ideia do Papa Francisco durante um encontro com o então primeiro-ministro grego Alexis Tsipras, o antigo líder do Partido Comunista da Áustria e membro da Rede Transform!, Walter Baier, e o teólogo austríaco Franz Kronreif, do movimento dos Focolares.
“O que era supostamente impossível, tornou-se uma prática com resultados positivos”, diz o texto. “Com base nisto, apelamos a todos os intervenientes relevantes nesta guerra (governos, organizações da sociedade civil, igrejas, etc.) a que se comprometam com iniciativas concretas de encontro e diálogo como única forma de transformar a guerra num processo político pacífico.”
Ao fazer a proposta, o Papa tinha na ideia um espaço de diálogo entre a esquerda europeia e os católicos, que debatesse os desafios que o planeta enfrenta ao nível social e ambiental. A Plataforma tem promovido a realização de e diversos encontros de formação e debates nos quais têm participado académicos, investigadores e estudantes de diferentes países.