
Assembleia sinodal da Igreja Católica em Espanha reuniu neste sábado, 11 de junho, em Madrid, com a participação de 600 pessoas. Foto: Direitos reservados
Crescer na sinodalidade, promover a participação dos leigos e superar o clericalismo são as três urgências principais assumidas na síntese sinodal da Igreja em Espanha apresentada neste sábado, 11 de junho, a uma vasta assembleia reunida em Madrid.
Estas três urgências respondem à perceção de que “o desejo de continuar avançando está condicionado à existência de sinais concretos que motivem um maior envolvimento e gerem esperança. Sabemos que somos ouvidos, mas não somos protagonistas da vida e da missão da Igreja”.
O balanço do percurso sinodal presente na síntese final é entusiasta, dá origem a um agradecimento explícito ao Papa por o ter convocado, sublinha que se abriram “caminhos de esperança” assentes “na fidelidade de Deus que cumpre sempre as suas promessas”, mas está, contudo, por decidir. O seu significado depende, em última instância, da futura adoção dos tais “sinais concretos” que permitam aos leigos serem verdadeiros “protagonistas da vida e da missão da Igreja”.
Nesse contexto de um balanço ainda por decidir, o documento refere que muitos grupos manifestaram “a necessidade de um acolhimento mais cuidadoso às pessoas que necessitam de maior apoio nas suas circunstâncias pessoais devido à sua situação familiar – os divorciados e recasados –, ou a sua orientação sexual”, porque “como Igreja, longe de permanecer em grupos identitários que apagam rostos [diferentes dos nossos], devemos olhar, acolher e acompanhar cada pessoa na sua situação específica”.
Ainda que sinalizadas como tendo sido muito evocadas durante o processo de reflexão a nível de base, estas questões não originam prioridades pastorais para além da afirmação: “a Igreja oferece-se à sociedade (…), especialmente àquelas pessoas que vivem na periferia por causa da sua origem étnica, da sua situação familiar ou económica, ou por causa da sua orientação sexual. Cada uma delas, independentemente das suas circunstâncias, tem um lugar na Igreja que lhe deve ser oferecido de forma clara, sem exclusões.”
Noutros temas que têm suscitado controvérsia, a síntese nacional é mais conclusiva. É o caso do celibato dos padres e da ordenação das mulheres, temas sobre os quais se começa por referir: “Parece-nos conveniente incorporar nesta síntese, (…), o pedido sobre a necessidade de aprofundar a questão do celibato facultativo no caso de sacerdotes e a ordenação de casados; em menor grau, a questão da ordenação de mulheres também surgiu. De qualquer forma, em relação a estas questões, deteta-se um claro pedido de que, como Igreja, dialoguemos sobre elas para permitir que o Magistério as compreenda melhor e possa oferecer uma proposta profética à nossa sociedade”. Ou seja, são assuntos sobre os quais os pedidos de alteração ficam claramente registados e se assume o compromisso de sobre eles continuar a refletir nas sedes próprias de decisão.
Participação dos leigos para superar o clericalismo
Os três leigos (um homem e duas mulheres da comissão nacional nomeada pelo episcopado espanhol) que apresentaram o texto final (um documento de 11 páginas) a uma assembleia de cerca de 600 pessoas, entre as quais 60 bispos e 80 sacerdotes, divulgaram os números mais relevantes da consulta sinodal: participaram 14.000 grupos, envolvendo mais de 215.000 pessoas, a maioria leigos, em geral pessoas já envolvidas na vida da Igreja, principalmente mulheres. No polo oposto registou-se fraco envolvimento de jovens e de famílias e também de não-crentes ou de pessoas mais distantes da Igreja. A síntese final será enviada, juntamente com todas as contribuições recebidas, à Secretaria-Geral do Sínodo no Vaticano.
Sem ambiguidade alguma é o modo como o documento retém as contribuições a propósito do clericalismo, “a principal crítica que aparece nas contribuições [recebidas] dos grupos”, referido como “o autoritarismo na Igreja (autoridade entendida como poder e não como serviço), com suas consequências correspondentes –clericalismo, pouca participação nas decisões, distanciamento dos fiéis leigos”, que só poderá ser superado através, por exemplo, de “consultas anuais, paroquiais ou diocesanas, para dar a oportunidade de [todos] se expressarem e contribuírem para os planos pastorais. Trata-se de promover outras estruturas de participação que tornem o Povo de Deus corresponsável na ação evangelizadora e caritativa da Igreja.”
A respeito da participação dos leigos, “deve sublinhar-se com especial ênfase – lê-se no documento final – que é tempo de passar da consulta à codecisão: urge que os órgãos existentes não se limitem a ser consultivos, mas que neles se tomem decisões” efetivas. “Seria oportuno, a partir de uma reflexão eclesial e canónica, definir os assuntos em que a participação dos cristãos leigos tivesse carácter decisório”.
No campo do serviço à sociedade a síntese dos contributos locais lembra que “não somos Igreja para nós próprios, somos para os outros” e, “no entanto, percebe-se uma clara fratura entre Igreja e sociedade. A primeira é vista como uma instituição reacionária e pouco proativa, distante do mundo atual. Em parte, consideramos que a responsabilidade é nossa, pois não sabemos comunicar bem tudo o que somos e fazemos. Esta imagem da Igreja magoa-nos” e “ leva-nos a um profundo desânimo que impede a presença evangelizadora e transformadora da realidade”.
Para fazer face a esta situação, “a Igreja – diz o texto – deve aproximar-se dos homens e mulheres de hoje, sem renunciar à sua natureza ou fidelidade ao Evangelho, estabelecendo um diálogo com outros atores sociais, a fim de mostrar o seu rosto misericordioso e contribuir para a realização do bem comum (…) ao mesmo tempo, esta presença na realidade pode ajudar-nos a escutar a voz de Deus na vida social para melhor responder aos desafios que ela nos coloca”.