
Católicos praticantes foram dos grupos com menor abstenção nestas eleições. Foto © Element5 Digital | Unsplash
Quatro em cada dez católicos franceses votaram em candidatos de extrema-direita na primeira volta das presidenciais em França, revela uma sondagem à boca das urnas realizada pelo Ifop para o jornal La Croix publicada hoje, dia 11 de março.
Três candidatos –Marine Le Pen, Éric Zemmour e Nicolas Dupont-Aignan – atraíram 40 por cento do voto católico, mais 7,6 pontos percentuais do que na totalidade dos votos. Ao contrário, os votos dos eleitores sem religião dariam a vitória (30%) a Jean-Luc Mélenchon (esquerda radical) que disputaria a segunda volta com Emmanuel Macron (26%), sem a presença de Marine Le Pen (20%).
Os resultados deste estudo revelam também uma tendência do voto católico em Emmanuel Macron (29%) muito próxima do resultado global obtido pelo atual Presidente e confirmam as sondagens divulgadas durante a campanha eleitoral [ver 7MARGENS] quanto à radicalização à direita do voto dos católicos franceses.
Contudo, cerca de um quinto dos leitores católicos votaram em candidatos à esquerda de Macron, percentagem que é igual ao apontado pelas sondagens realizadas à boca das urnas na eleição presidencial de 2017.
A abstenção é mais pequena (22%) entre os católicos franceses do que no conjunto dos seus concidadãos (25%) e menor ainda entre os católicos praticantes (18%). Em termos de alta participação cívica, os católicos são ultrapassados pelos protestantes franceses, comunidade em que apenas se abstiveram 17 por cento dos recenseados. De acordo com o estudo do Ifop os eleitores muçulmanos votaram maioritariamente (69%) no candidato da esquerda radical, enquanto os protestantes privilegiaram o voto em Emmanuel Macron (36%).
O voto vizinho das abadias e dos santuários
Quem ganhou a primeira volta das presidenciais nos pequenos círculos dos mais conhecidos santuários marianos, lugares de peregrinação e abadias de França?
A jornalista Youna Rivallain analisa na edição de dia 11 de março do jornal católico La Vie como se votou em Lisieux, Taizé, Lourdes, Chartres e outras freguesias marcadas pelas suas raízes espirituais muito próprias.
Apesar da importância do fator religioso, outras características locais parecem por vezes serem mais determinantes das tendências de voto, tonando difíceis as generalizações. Em Lourdes, por exemplo, o candidato da direita rural, Jean Lassalle, recolhe 9,95 por cento dos votos (715 votos), que comparam com os 3,13 por cento dos votos que obteve a nível nacional. Porquê? Em boa parte porque este candidato nasceu numa terra a 75km de Lourdes e é, de há muito, deputado eleito pela região. A sua defesa da “França rural” coloca-o genericamente em boa posição na maioria dos círculos dos lugares religiosos mais significativos pelo facto destes se situarem fora dos grandes centros urbanos.
Mas em Taizé os resultados foram bem diferentes: Emmanuel Macron recolheu 60 por cento dos votos e Jean-Luc Mélenchon 20 por cento; ou seja, o atual Presidente da República garantiu a preferência de 36 eleitores enquanto o candidato da esquerda radical convenceu 12 habitantes de Taizé!
Em Lisieux, a cidade de Santa Teresinha do Menino Jesus, os resultados recortam os obtidos a nível nacional, mas nas localidades das grandes abadias o voto pende de forma significativa para a direita. Na freguesia da abadia beneditina de Fontgombault, Éric Zemmour (extrema-direita) é o primeiro (com 38,02%, que comparam com os 7,07% que obteve a nível nacional), seguido de Marine Le Pen (17,71% contra os 23,15% nacionais). Mas também aqui o universo dos leitores era pequeno: um total de 247.
Os locais célebres dos caminhos de peregrinação parecem situar-se mais à esquerda: é o caso da cidade medieval de Puy-en-Velay (Haute-Loire), cuja história está ligada à da peregrinação a Santiago de Compostela, e onde Jean-Luc Mélenchon surge em primeiro lugar (26,10%), à frente de Emmanuel Macron (25,76%). Também em Vézelay, outra cidade essencial no caminho para Santiago de Compostela, Emmanuel Macron (29,21%) e Jean-Luc Mélenchon (23,71%) estão em primeiro lugar.
O cenário é o mesmo em Chartres, importante local de peregrinação (a próxima deve acontecer no fim de semana de Pentecostes) onde os grandes vencedores são Emmanuel Macron (30,79 %) e Jean-Luc Mélenchon (22,81%).