
A assembleia sinodal que o Papa Francisco convocou e terá o seu culminar em outubro de 2023, com a reunião dos bispos, será aberta formalmente em Roma no próximo dia 10 de outubro. Foto: Direitos reservados.
Católicos leigos mais formados, capazes de intervir na sociedade, e bispos próximos e capazes de acolher todos e de mudar estruturas quando necessários. Algumas das ideias que surgem das respostas de nove movimentos católicos à segunda pergunta do inquérito do 7MARGENS sobre o próximo Sínodo da Igreja Católica.
A assembleia sinodal que o Papa Francisco convocou e terá o seu culminar em outubro de 2023, com a reunião dos bispos, será aberta formalmente em Roma no próximo dia 10 de outubro e em cada diocese a 17. A propósito, elaborámos um questionário com três perguntas, que foi enviado a 63 estruturas e movimentos católicos, do qual resultaram nove respostas, conforme foi explicado num texto anterior.
Recordamos a segunda pergunta que foi colocada aos diferentes movimentos contactados pelo 7MARGENS e dos quais que recebemos nove respostas:
Para que a Igreja Católica em Portugal acolha o desafio do Sínodo como uma oportunidade de renovação (pessoal, comunitária e de modos de funcionar) norteada pela Boa Nova de Jesus:
a) que devem fazer os leigos?
b) que recomendações faria aos Bispos?
As Fraternidades Leigas Dominicanas entendem que os leigos devem “dar um passo à frente em termos de formação teológica e de iniciativa”.
“Os leigos devem (…) estar ativos no serviço à Igreja”, atentos às necessidades dela, respondem as Equipas de Casais de Nossa Senhora.
Por sua vez, para as Oficinas de Oração e Vida (TOV, da sigla em espanhol), os leigos “devem, em espírito de humildade e autocrítica, começar por interrogar-se se são fiéis ao Evangelho no seu apostolado”. E resumem o enunciado de várias atitudes e disposições com aquela que é a frase-chave da espiritualidade das TOV: “O que faria Jesus no meu lugar?”. “Se, em cada situação, os leigos fizerem esta pergunta, a sua ação será certamente fecunda”, concluem.
A resposta de O Ninho, instituição de apoio e promoção de vítimas da prostituição, concretiza: “Antes de mais, deveriam regressar à intervenção eclesial os católicos que foram marginalizados ou desanimaram por sentirem a Igreja distanciar-se das realidades contemporâneas.” Leigos mais comprometidos a reunirem em pequenos grupos, seguindo o método da Ação Católica (Ver-Julgar-Agir); criar maiores exigências formativas e de ação aos candidatos ao sacramento do Crisma com menos de 18 anos são outras das ideias enunciadas pelos diferentes movimentos.
Em ordem ao próximo Sínodo, O Ninho propõe que se organizem assembleia trimestrais nas paróquias, semestrais em cada diocese (“para o acolhimento das propostas paroquiais“) e um nacional por ano (“para se conhecerem as propostas diocesanas”). A instituição acha que nem todos os que vão à missa participariam, “mas uma pequena parte haveria de responder positivamente”.
Para a Ação Católica dos Meios Independentes (ACI), os leigos devem “assumir uma participação ativa e representativa no seio das suas paróquias e movimentos, porque são eles o espelho da Igreja junto da sociedade em que vivemos”. Deveriam ser “apontados como os que lutam pela justiça, pela paz e pelo bem comum”, já que, pelo seu “estilo de vida e prática religiosa”, demonstram aos demais “a alegria de se sentirem amados e enviados a defender os mais desfavorecidos desta vida”.
Por fim, a Obra Católica Portuguesa de Migrações (OCPM) gostaria que os leigos investissem tempo pessoal na formação (“para conhecer melhor os documentos da Igreja e a sua história”) e na oração. Eles deveriam “conciliar a vocação com a profissão, envolver mais as periferias, ser ponte entre o terreno e a hierarquia da Igreja”.
Recomendações dos leigos aos seus bispos
No capítulo das recomendações aos bispos, as Equipas de Nossa Senhora gostariam de os ver mais presentes nas atividades dos jovens, para “lhes exporem as preocupações da Igreja e incentivá-los a ajudar com quanto lhes for possível”.
Para a pastoral de migrações importa que os bispos aprendam a “valorizar e interligar os diferentes sectores e carismas da pastoral da Igreja”, em ordem a “uma Igreja de comunhão, apesar da nossa diversidade”.
As Oficinas de Oração citam de novo Ignacio Larrañaga, seu fundador, com indicações que podem aplicar-se ao tipo de bispos que desejam ter:
– “Da verticalidade à horizontalidade; não absolutista, mas fraternal; não piramidal, mas transversal”;
– “Viver com a mente aberta e alerta; (…) alterar certas estruturas, sempre e quando seja necessário; assim como (…) conservá-las se demonstram validade”.
– Conceder “autonomia às estruturas locais”; governar “com respeito, paciência e benignidade, mas tudo conjugado com firmeza e resolução”.
As Fraternidades Dominicanas desejam que os bispos estejam próximos das comunidades locais, que as conheçam bem, de modo a poderem identificar as que “estão fora ou nas fronteiras” e a “perceberem onde estão os excluídos”. Juntam ainda uma recomendação: preocupem-se com a formação permanente dos seus estudantes, diáconos e presbíteros.
A proximidade e a disponibilidade “para acolher todos” é também vincada pel’O Ninho. Porém, esta instituição não se fica por princípios. Quer que os bispos deixem de ser príncipes, para se assumirem como “irmãos na fé”; estejam “nos lugares onde há gente vítima de exclusão social, incluindo as instituições que a acolhem”; não promovam a “cultura de castas”, mas demonstrem “iguais preocupações pela vida do clero e dos leigos”; criem tempos “para que não crentes possam refletir com os crentes temas de interesse comum”, como foi o “Pátio dos Gentios”; pedem que não esqueçam que o “bom pastor’ deixou as 99 ovelhas e saiu à procura de uma que andava perdida; e que deem mais atenção às “esperanças e angústias” das mulheres vítimas da prostituição.
O Ninho aspira, em suma, de entre várias outras preocupações, a que os bispos católicos deem “sinais evidentes, com gestos proféticos na linha do testemunho do Papa Francisco, que estão, verdadeiramente, de acordo com as suas orientações pastorais”.
Texto com os contributos de António Marujo, Eduardo Jorge Madureira e Jorge Wemans