Refugiados na Sicília

Chegaram a bom porto, com dores, pesadelos e sonhos

| 8 Ago 2021

Operação de resgate no Ocean Viking. Foto de Flavio Gasperini, no Twitter da @SOSMedItalia.

 

Quando se procura por Lampedusa ou por Sicília no Google, as respostas remetem para praias convidativas, tartarugas que vão a terra pôr ovos, vulcões ou património arquitetónico deixado pelos romanos. Mas nada de bases de migrantes; nada de desastres humanitários ali mesmo ao pé, nada mesmo de refúgio regular de náufragos salvos in extremis. Não existem, no reino googliano.

Foi para Lampedusa que viajou o Papa Francisco, na sua primeira viagem pastoral, depois de eleito. Viajou, quase de improviso, ao encontro das urgências dos mais descartados das periferias. Foi também a dois portos da Sicília que este fim-de-semana chegaram finalmente o Ocean Viking e o Sea Watch, dois navios carregados até mais não de gente, de humanos, de pessoas como nós. Salvos em condições dramáticas no fim-de-semana anterior, incluindo várias crianças e uma mulher em fim de gravidez.

Eram mais de meio milhar numa das embarcações e perto de 260 noutra. Falámos deles no 7Margens há dias. As tripulações tinham lançado apelos urgentes às autoridades da zona para que lhes fosse indicado porto seguro para atracar, como aliás, eram obrigados pelas leis marítimas. Felizmente chegaram a bom porto. Felizmente Salvini já não manda em Itália, ainda que ande por perto.

Além das pessoas, os barcos vinham, como habitualmente carregados de histórias miseráveis. E de sonhos. Os sonhos são sempre extraordinários, como são os sonhos: um sítio para ficar, um trabalho para ganhar a vida e educar os filhos, umas condições que lhes permitam ser gente. Regressar é que nunca. E todos temem ser isso que lhes pode acontecer. As histórias que cada um carrega são do mais terrível que imaginar se possa. Em cima da fome, do cansaço e do medo, a violência dos ladrões e dos chantagistas, incluindo autoridades.

Mal saíram da Líbia, quando a Europa já se lhes oferecia pelo menos como miragem, surgiram-lhes os contrabandistas. “Com armas maiores do que o meu braço”, dizia um deles. Ficaram sem água nem combustível e sem modo de comunicar. Uma lata de combustível encontrada numa barcaça abandonada deu-lhes para avançar mais um pouco. “Rezamos, rezamos e, graças a Deus, vocês nos encontraram”. É Zidane, escritor de 31 anos, do Iémen, que conta a história, no convés do Ocean Viking, a um membro do SOS Mediterranée.

Quantas histórias não hão-de ainda ser contadas… se a solidariedade dos povos europeus se impuser à frieza estival dos jogos de interesses e dos corredores das diplomacias.

 

Os silêncios de Pio XII foram uma escolha – e que custos teve essa opção?

“A Lista do Padre Carreira” debate

Os silêncios de Pio XII foram uma escolha – e que custos teve essa opção? novidade

Os silêncios do Papa Pio XII durante aa Segunda Guerra Mundial “foram uma escolha”. E não apenas no que se refere ao extermínio dos judeus: “Ele também não teve discursos críticos sobre a Polónia”, um “país católico que estava a ser dividido pelos alemães, exactamente por estar convencido de que uma tomada de posição pública teria aniquilado a Santa Sé”. A afirmação é do historiador Andrea Riccardi, e surge no contexto da reportagem A Lista do Padre Carreira, que será exibida nesta quarta-feira, 31 de Maio, na TVI, numa parceria entre a estação televisiva e o 7MARGENS.

Apoie o 7MARGENS e desconte o seu donativo no IRS ou no IRC

Breves

 

JMJ realizou em 2022 metade das receitas que tinha orçamentado

A Fundação Jornada Mundial da Juventude (JMJ) Lisboa 2023 obteve no ano passado rendimentos de 4,798 milhões de euros (menos de metade do previsto no seu orçamento) e gastos de 1,083 milhões, do que resultaram 3,714 milhões (que comparam com os 7,758 milhões de resultados orçamentados). A Fundação dispunha, assim, a 31 de dezembro de 2022, de 4,391 milhões de euros de resultados acumulados em três anos de existência.

Debate em Lisboa

Uma conversa JMJ “conectada à vida”

Com o objectivo de “incentivar a reflexão da juventude” sobre “várias problemáticas da actualidade, o Luiza Andaluz Centro de Conhecimento (LA-CC), de Lisboa, promove a terceira sessão das Conversas JMJ, intitulada “Apressadamente conectadas à vida”.

“É o fim da prisão perpétua para os inimputáveis”, e da greve de fome para Ezequiel

Revisão da lei aprovada

“É o fim da prisão perpétua para os inimputáveis”, e da greve de fome para Ezequiel novidade

Há uma nova luz ao fundo da prisão para Ezequiel Ribeiro – que esteve durante 21 dias em greve de fome como protesto pelos seus já 37 anos de detenção – e também para os restantes 203 inimputáveis que, tal como ele, têm visto ser-lhes prolongado o internamento em estabelecimentos prisionais mesmo depois de terminado o cumprimento das penas a que haviam sido condenados. A revisão da lei da saúde mental, aprovada na passada sexta-feira, 26 de maio, põe fim ao que, na prática, resultava em situações de prisão perpétua.

Especialistas mundiais reunidos em Lisboa para debater “violência em nome de Deus”

30 e 31 de maio

Especialistas mundiais reunidos em Lisboa para debater “violência em nome de Deus” novidade

A Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL) acolhe esta terça e quarta-feira, 30 e 31 de maio, o simpósio “Violence in the Name of God: From Apocalyptic Expectations to Violence” (em português, “Violência em Nome de Deus: Das Expectativas Apocalípticas à Violência”), no qual participam alguns dos maiores especialistas mundiais em literatura apocalíptica, história da religião e teologia para discutir a ligação entre as teorias do fim do mundo e a crescente violência alavancada por crenças religiosas.

Agenda

There are no upcoming events.

Fale connosco

Autores

 

Pin It on Pinterest

Share This