
O relatório foi publicado poucos minutos antes do fim do mandato da comissária Michelle Bachelet. Foto © UN Human Rights.
A China cometeu “graves violações de direitos humanos” contra muçulmanos uigures na região noroeste de Xinjiang, que poderão ser considerados “crimes contra a humanidade”, de acordo com um relatório divulgado esta quarta-feira, 31 de agosto, pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos.
O relatório, publicado poucos minutos antes do fim do mandato da comissária Michelle Bachelet, à meia-noite (hora de Genebra), foi repetidamente adiado, e a sua divulgação veementemente contestada pela China, refere a CNN. Chega a público quatro anos depois de um comité de especialistas da ONU ter chamado a atenção, em agosto de 2018, para “relatos confiáveis” de que mais de 1 milhão de uigures e outros povos de minorias muçulmanas haviam sido internados coercivamente em campos extrajudiciais em Xinjiang para “reeducação” e doutrinação.
O relatório refere-se a “detenções arbitrárias” e “padrões relacionados de abuso” dentro do que as autoridades de Pequim afirmam serem “centros de educação e treino vocacional”, entre os anos 2017 e 2019. Com base na análise de documentos públicos e informações recolhidas em entrevistas com 40 pessoas de etnias uigures, cazaques e quirguizes, conclui que as detenções durante esse período “foram marcadas por padrões de tortura ou outras formas de tratamento ou punição cruel, desumano ou degradante”.
“A extensão da detenção arbitrária e discriminatória de membros da comunidade uigur e outros grupos predominantemente muçulmanos pode constituir crimes internacionais, em particular crimes contra a humanidade”, lê-se no relatório.
O documento inclui descrições feitas pelos entrevistados, que referem a administração regular de injeções ou comprimidos que provocavam sonolência e “várias formas de violência sexual”, incluindo alguns casos de violação e nudez forçada.
O governo chinês, que repetidamente se opôs à divulgação do relatório, respondeu com um documento de 131 páginas – quase três vezes o tamanho do relatório da ONU, com 45 – no qual condena as descobertas como sendo “baseadas na desinformação e mentiras fabricadas por forças anti-China.” “Xinjiang tomou medidas para combater o terrorismo e o extremismo de acordo com a lei, efetivamente restringindo as ocorrências frequentes de atividades terroristas. Atualmente, Xinjiang desfruta de estabilidade social, desenvolvimento económico, prosperidade cultural e harmonia religiosa.”, assegura Pequim.
Omer Kanat, diretor executivo do Uyghur Human Rights Project, considera que este relatório poderá ser “revolucionário para a resposta internacional à crise uigur”. “Apesar das negações vigorosas do governo chinês, a ONU agora reconheceu oficialmente que crimes horríveis estão a acontecer”, destacou em comunicado assinado por um grupo de 60 organizações uigures de 20 países.
No passado mês de julho, a Amnistia Internacional denunciou a ocorrência de 48 novos casos de prisões arbitrárias entre as minorias muçulmanas na região de Xinjiang.