
Um mineiro artesão menor de idade a fazer a triagem do cobalto, no Lago Malo, próximo de Kolwezi (República Democrática do Congo). Foto © Amnesty International e Afrewatch.
Os veementes apelos do Papa Francisco, no Congo, para que os grandes interesses internacionais retirassem as “garras” das riquezas dos povos africanos aparentemente não chegaram à China. Segundo informa a agência Asia News, as empresas chinesas buscam em África minerais estratégicos para responder à procura de carros elétricos e híbridos no seu país.
“As crescentes tensões geopolíticas com os EUA obrigam o gigante asiático a explorar novos mercados”, observa a agência, para acrescentar que metais como lítio, cobalto e níquel estão mais difíceis de adquirir, dadas as limitações à compra adotadas por Washington e os seus aliados, entre os quais o Canadá. Este país, que controla 1.400 das 2.400 mineradoras que operam no mundo, impôs restrições que prejudicaram os interesses de Pequim.
Ainda que a maioria das reservas minerais se encontrem na América Latina e haja aí grande abertura aos investimentos das empresas chinesas, a instabilidade, as lutas sociais e a baixa produtividade tornam nessa região do planeta menos interessante para elas.
Há anos que os chineses decidiram apostar em África. E se é verdade que alguns dos problemas da região sul-americana se encontram igualmente neste continente, o que é diferente é a facilidade com que podem explorar as populações locais na indústria extrativa, sem que isso levante demasiados problemas. Ora, continua a Asia News, dois terços do cobalto mundial e 10 por cento do cobre estão em África e está nos seus começos a exploração do lítio.
Faz, assim sentido, recolocar as palavras do Papa, logo no primeiro dia da sua recente visita a África, num discurso em Kinshasa, em que se dirigiu às potências mundiais, incluindo as asiáticas, que continuam a olhar para este continente “como uma reserva de matérias-primas a serem exploradas para os próprios interesses”:
“Este país e este continente merecem ser respeitados e ouvidos – sublinhou Francisco – merecem espaço e atenção: tirem as mãos da República Democrática do Congo, tirem as mãos da África! Basta com este sufocar a África: não é uma mina para explorar, nem uma terra para saquear”.