
O ambiente na COP27, no Egito. Foto © UNFCCC_COP27_6Nov22_AroundTheVenue_KiaraWorth-11.
A guerra na Ucrânia e o consequente aumento da procura de combustíveis fósseis reduzem de modo significativo a expetativa quanto aos resultados da Cimeira do Clima da ONU que este domingo, 6 de novembro, começou em Sharm-el-Sheik (Egito). A novidade desta poderá mesmo resumir-se à entrada na agenda do tema da fatura a pagar pelos países ricos aos mais pobres. No local, as medidas de segurança são impressionantes e em Lisboa, como um pouco por todo o mundo, preparam-se manifestações e protestos.
“Não estamos no caminho certo para [garantir que a temperatura média do planeta não sobe mais do que] os 1,5 graus” reconheceu, na sessão inaugural da Cimeira do Clima (COP27), Alok Sharma, o presidente da Cimeira que teve lugar em Glasgow (Escócia) há um ano. Para Sharma “esta década é crítica. A escala do desafio que temos à nossa frente é enorme. Não estamos no caminho para os 1,5 graus, mas manter a inação é míope, é algo que só pode significar uma catástrofe climática”.
Contra a catástrofe climática há, porém, poucas decisões significativas em perspetiva e ainda menos ações em curso. Mesmo a introdução na agenda da COP27 da questão das perdas e dos danos, embora sendo uma novidade não será suficiente para “salvar” esta Cimeira. Este tema relaciona-se com determinar quanto devem os países mais ricos pagar aos países mais pobres pelos custos que estes têm de suportar pelas alterações climáticas decorrentes das emissões de gases com efeito de estufa com origem nos primeiros.
O desfile de primeiros-ministros e Chefes de Estado começa amanhã, mas o início atrasado de várias horas da sessão inaugural (à espera do acordo sobre a inclusão na agenda do ponto sobre perdas e danos) deu já indicações de que esta será uma cimeira difícil e ninguém arrisca prever que daqui até ao seu termo a 18 de novembro se criem condições para que ela possa vir a ser recordada como um êxito.
O que é tão mais dececionante quanto, segundo revelou um relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM) da ONU, divulgado no dia 5 de novembro, “os últimos oito anos foram os oito mais quentes desde que há registos”. O limite de 1,5ºC acordado internacionalmente para o aquecimento global está agora praticamente fora alcance, visto que a temperatura média global em 2022 ficará, de acordo com a OMM, cerca de 1,15°C acima da média pré-industrial (1850-1900). Ou, olhando o mesmo fenómeno através de outros dados: a temperatura média subiu “no período 2013-2022 de 1,14°C acima da linha de base pré-industrial de 1850-1900, o que compara com os 1,09°C da média entre 2011 e 2020”.
O mundo está agora mergulhado na crise climática de forma dramática, como reconheceu o secretário-geral da OMM, Prof Petteri Taalas, na apresentação do referido relatório: “Quanto maior o aquecimento, piores os impactos. Temos hoje níveis tão altos de dióxido de carbono na atmosfera que os 1,5°C do Acordo de Paris são já muito difíceis de alcançar”.
Protestos em Lisboa
“A prisão de centenas de pessoas pelas autoridades egípcias nas últimas duas semanas” por serem suspeitas de estarem ligadas “a protestos durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP27) mostra a da dura realidade política do Egito” caracterizada pela “detenção arbitrária em massa para esmagar a dissidência” lê-se num comunicado da Amnistia Internacional divulgado dia 5 de novembro.
De acordo com aquela organização defensora dos direitos humanos “no período que antecedeu a COP27, as autoridades egípcias libertaram 766 prisioneiros após a decisão do Presidente egípcio de reativar um Comité Presidencial de Perdões em abril. No entanto, no mesmo período, a Amnistia Internacional documentou a prisão do dobro desse número: 1.540 pessoas foram interrogadas sobre o exercício da liberdade de expressão e associação”.
Em Lisboa, estudantes ativistas do clima vão ocupar algumas instalações universitárias e de escolas secundárias na segunda-feira, dia 7 de novembro, protestando contra a inação dos Governos e afirmando que: “o custo da inação – exploração, uso e importação de combustíveis fósseis – é o custo de milhões de vidas. O custo da inação é o fim da civilização como a conhecemos hoje. Tomar a ação necessária e urgente pelo fim dos combustíveis fósseis e por justiça climática não vai ser fácil, mas é definitivamente mais fácil do que viver em caos climático.”
Outros protestos terão lugar no dia 12 de novembro, dia de ação global, em que várias organizações ambientalistas promovem uma marcha contra o fracasso climático que sairá pelas 14h00 do Campo Pequeno, em Lisboa.
Antecipando o início da Cimeira, representantes das principais religiões assinaram no dia 2 de novembro uma carta onde fazem um apelo conjunto à adoção de um tratado internacional pela não proliferação dos combustíveis fósseis [ver 7MARGENS].