
“Este é o dilema: ou conseguimos um pacto de solidariedade climática, ou teremos um pacto para o suicídio coletivo”, afirmou António Guterres no primeiro dia da COP27. Foto © UNIC Tóquio / Momoko Sato.
António Guterres fez o seu discurso mais dramático de sempre, afirmando que “o nosso planeta está a aproximar-se de pontos de viragem que vão tornar o caos climático irreversível”; nos corredores, John D. Podesta, assessor do Presidente Biden, procura empurrar as responsabilidades para o setor privado; China, Rússia, Índia, Japão e Austrália não se farão representar ao mais alto nível numa Cimeira do Clima de que os responsáveis governamentais parecem desinteressar-se.
No seu discurso perante os delegados reunidos em Sharm-el-Sheik (Egito), o secretário-geral das Nações Unidas não poupou nas palavras. “A humanidade tem uma escolha: cooperar ou morrer”; “o mundo está numa autoestrada rumo ao inferno climático”; “o nosso planeta está a aproximar-se de pontos de viragem em que o caos climático passará a ser irreversível”; “este é o dilema: ou conseguimos um pacto de solidariedade climática, ou teremos um pacto para o suicídio coletivo”– foram algumas das afirmações de Guterres que apelou diretamente aos EUA e à China – as duas maiores e mais poluentes economias do mundo – para que regressem às conversações e convergência que mantinham até há dois anos.
Para minimizar o previsto fracasso das negociações intergovernamentais que habitualmente são o ponto alto destas cimeiras do clima, responsáveis da administração americana, incluindo o enviado especial do Presidente Biden para as questões do Clima, John Kerry, têm insistido que as grandes empresas poluidoras devem ser chamadas a cumprir as reduções de emissões de gases com efeito de estufa a que se comprometeram e financiar o investimento dos países mais pobres para controlarem o impacto das mudanças climáticas.
“O Governo por si só não pode cobrir a maior parte do financiamento do que os países vulneráveis precisam”, disse John D. Podesta, consultor do Presidente Biden para as alterações climáticas, ao Washington Post, sublinhando que “são necessários cerca de 3.800 mil milhões de dólares anuais nos próximos três anos para cumprir as metas climáticas, incluindo reduzir as emissões e ajudar as nações a adaptarem-se aos impactos das alterações climáticas”. De acordo com um relatório da Fundação Rockefeller e da BCG Research, apenas 16 por cento desse montante foi realmente investido.
A COP27 termina no dia 18 de novembro e nenhum observador se diz otimista no que toca aos resultados que será possível obter até lá.