Estudo faz recomendações concretas

Com mais de 100 alegados abusadores vivos, Igreja tem de “atuar”, diz comissão

| 14 Fev 2023

O escândalo dos abusos no Canadá ainda está para durar. Foto © karl-fredrickson | Unsplash

 

O coordenador da Comissão Independente (CI) para o Estudo dos Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica em Portugal, Pedro Strecht, estima que mais de uma centena dos religiosos apontados como alegados abusadores ainda se encontrem vivos, e alguns deles no ativo. Face ao elevado risco de reincidirem no mesmo crime, o relatório pede medidas concretas da parte da Igreja, a começar pelo impedimento de que essas pessoas estejam na proximidade de crianças e jovens.

O número foi avançado pelo médico pedopsiquiatra em entrevista à SIC Notícias, depois de, durante a apresentação do relatório final sobre os abusos na Igreja portuguesa, o mesmo ter explicado aos jornalistas que não era ainda possível fazer uma extrapolação do número total de alegados abusadores, por faltar “cruzar alguns dados”.

Strecht assinalou que o trabalho do Grupo de Investigação Histórica, que analisou os arquivos das dioceses, levou à “descoberta de mais situações desconhecidas, não reportadas à comissão”. “O somatório destes casos e, sobretudo, depois, a percepção de pessoas que estão vivas e ainda no ativo, ou já não… é que nos vai levar ao número final”, disse o responsável, acrescentando que, nesta fase, há apenas um número “aproximado”, que “será, claramente, superior a uma centena”.

O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), José Ornelas, havia assegurado algumas horas antes, em conferência de imprensa, que, depois de analisado o relatório e a lista de nomes dos padres agressores que estão ainda no ativo, a qual será partilhada pela CI até ao final de fevereiro, serão tomadas as devidas medidas. Tal deverá acontecer no seguimento a assembleia extraordinária dos bispos, agendada para o dia 3 de março, precisamente com o objetivo de debater as conclusões deste relatório.

“Temos protocolos” para agir em relação a esses casos, explicou o bispo de Leiria-Fátima: “Se há denúncia, o bispo deve fazer uma investigação sumária para averiguar a sua plausibilidade. Os casos são depois enviados para a Santa Sé, que tem mecanismos de averiguação”. Ao mesmo tempo, acrescentou, são enviados ao Ministério Público. A mesma lógica será seguida em relação a eventuais casos de encobrimento.

 

Comissão pede supervisão externa de todos os religiosos em contacto com crianças

apresentacao relatorio final comissao abuso sexuais de crianças na igreja foto clara raimundo

Importa “assegurar uma supervisão continuada, preferencialmente externa e de qualidade profissional, de todos os membros da Igreja que se encontram em lugares profissionais de proximidade direta com crianças”, defende a Comissão Independente. Foto © Clara Raimundo.

 

A CI dedica um capítulo do relatório a “recomendações específicas à Igreja Católica portuguesa”, no qual sublinha ser necessário, “perante a lista de alegados abusadores ainda vivos” e “sabendo-se do risco comum de perpetuação do mesmo tipo de crime por esse tipo de alegados abusadores”, estudar “caso a caso, diocese a diocese, depoimentos que os referem e, sempre que necessário, atuar dentro do previsto na Lei Canónica e/ou Lei Penal”.

A comissão refere ainda a necessidade de “reforçar a prevenção do abuso sexual de crianças, adotando um conjunto de medidas”, nomeadamente impedindo “que aqueles sobre quem recaia alguma suspeita nesta matéria sejam destacados para atuar na proximidade de crianças e de jovens”.

Importa também, acrescenta o relatório, “assegurar uma supervisão continuada, preferencialmente externa e de qualidade profissional, de todos os membros da Igreja que se encontram em lugares profissionais de proximidade direta com crianças e/ou dirijam estruturas de acolhimento, educação ou atividades diversas, desde as religiosas a outras, bem como a todos os outros que, na sua dependência direta, exerçam o mesmo estatuto ou papel em locais geridos por membros da Igreja Católica”.

A comissão considera que se “impõe uma análise periódica da verdadeira vocação religiosa e uma avaliação psicológica externa em caso de dúvidas vocacionais e/ou de comportamentos que indiciem risco no campo dos abusos sexuais de menores”.

O relatório alerta ainda para o facto de os padres viverem frequentemente sozinhos e de isso se traduzir muitas vezes em “sentimentos de grande solidão”, o que pode conduzi-los a comportamentos de risco (do ponto de vista da sua saúde física e mental). É, por isso, “indispensável a Igreja cuidar das condições de vida dos seus sacerdotes e membros de ordens religiosas que lidam, no dia a dia, com grande sobrecarga de trabalho e atividades de elevada intensidade emocional”. Nesse sentido, “criar espaços de convívio e partilha entre sacerdotes no seu quotidiano, onde as experiências são contadas e integradas, é um passo importante”, defendem.

O relatório destaca, por fim, que “a CEP deve proceder a uma reflexão/avaliação sobre o funcionamento efetivo  das Comissões Diocesanas já que, independentemente dos Regulamentos existentes, a sua concretização é desigual: desde logo quanto a prioridades e foco da sua atuação, mas também quanto ao protocolo de boas práticas que deve nortear a sua conduta junto das vítimas (como responder a quem faz a queixa, capacidade de escuta e empatia, celeridade das respostas, necessidade de manter contacto, etc.)”.

 

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