
Irmão Aloïs em Karlsruhe (Alemanha), durante a assembleia do Conselho Mundial de Igrejas, em Setembro. “Será que poderíamos considerar a Igreja cada vez mais como a grande família dos que escolhem amar seguindo Cristo?”, questiona o responsável de Taizé na mensagem para 2023. Foto © Albin Hillert/WCC.
Reconhecendo que “estamos a passar por um período de intensa polarização e agravamento das divisões nas nossas sociedades e, às vezes, até nas igrejas e famílias”, o irmão Aloïs, prior da comunidade ecuménica de Taizé, apela a que caminhemos, particularmente os cristãos, “juntos com os outros”, em direção à “fraternidade universal”.
“Comecemos por fazer crescer a unidade visível dos cristãos!”, desafia na sua mensagem para 2023, que será entregue esta quarta-feira, 28 de dezembro, aos cerca de cinco mil jovens que irão participar no 45º Encontro Europeu de Taizé, que terá lugar em Rostock (Alemanha) até 1 de janeiro.
Para isso, defende no texto enviado ao 7MARGENS, “não é preciso esperar que se harmonizem primeiro todas as questões teológicas”. Em alternativa, o responsável propõe “outra abordagem: começar e recomeçar sempre por rezar juntos. Esta prática de unidade permitirá que o povo de Deus avance rumo a uma confissão de fé comum”.
Até porque considera que o olhar sobre a Igreja pode mudar depois isso: “será que a poderíamos considerar cada vez mais como a grande família dos que escolhem amar seguindo Cristo?”, pergunta o irmão Aloïs.
Neste sentido, o responsável de Taizé revela que “está a ser preparado um evento para aumentar a unidade visível dos cristãos: intitulado “Together, um encontro do Povo de Deus”, que acontecerá a 30 de setembro de 2023. “Mais informações serão publicadas em breve, por ocasião da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos”, avança na mensagem.
Reconhecer o mal que se fez nas Igrejas
Numa referência aos inúmeros casos de abusos sexuais que têm sido identificados no seio da Igreja, o irmão Aloïs pede ainda que “esta procura da unidade visível” seja “acompanhada pelo reconhecimento do mal que se fez também nas nossas Igrejas e pelo firme empenho em realizarmos as mudanças necessárias”.
“Muitas pessoas tiveram a sua confiança quebrada”, reconhece. “Também em Taizé a confiança de alguns foi traída, bem o sabemos”, escreve na sua carta aos jovens, assumindo que “a confiança é uma realidade frágil, que precisa de ser sempre renovada e reconstruída” e que “isto só é possível ouvindo quem foi ferido”.
No caso concreto do encontro em Rostock, “Taizé tem trabalhado com as igrejas locais desde o final de outubro para desenvolver medidas para proteger as pessoas”, pode ler-se na página do evento. “Todos os envolvidos no encontro” foram instruídos para “denunciar imediatamente qualquer assédio, abuso ou violência sexual” e foi criada uma “equipa de proteção” especificamente para este encontro, cujos contactos estão disponíveis no mesmo site.
“Rezar pela paz é mais urgente do que nunca”

Referindo-se ainda ao “contexto da guerra que atinge a Ucrânia e tantos outros lugares do mundo”, o prior de Taizé, que passou os últimos cinco dias em visita a Kiev e Lviv, refere que “algumas pessoas têm dificuldade em rezar, como se Deus estivesse ausente ou calado diante do mal”. No entanto, explica, “ao rezarmos pela paz, desperta também o nosso sentido de responsabilidade e a nossa solidariedade para com todos aqueles que sofrem terrivelmente com o drama da guerra”. Por isso, “rezar pela paz é mais urgente do que nunca”.
Na sua mensagem, o responsável da comunidade monástica ecuménica da Borgonha (Sudeste de França) diz que a guerra e outros problemas que enfrentamos no mundo de hoje podem originar “uma ansiedade profunda, que pode marcar a nossa visão do mundo e a forma como olhamos para nós mesmos. Alguns chegam a pôr em causa Deus e a sua presença no mundo”. Para o prior de Taizé, “a inquietação é uma reação compreensível. É até salutar quando nos estimula a ver e a compreender, sem ingenuidade mas com lucidez, os perigos que nos ameaçam”. No entanto, alerta, é preciso “cuidado para não ceder ao fatalismo, ao cinismo ou ao medo, que correm o risco de nos fechar numa espiral negativa”.
E conclui: “não nos deixemos impressionar apenas pelo que vem até nós a partir de fora, mas acolhamos também esta luz interior, esta confiança que se chama fé”.