Uma casa para cada família

Comissões Justiça e Paz entram no debate sobre a habitação

| 27 Set 2023

A negação do acesso à habitação é, para as comissões Justiça e Paz do país, particularmente grave “no caso das pessoas sem abrigo que vivem na rua (sem teto), no das pessoas sem abrigo em alojamento temporário (sem casa) e no das pessoas em alojamento temporário partilhado. Foto © Ozias Filho.

 

É necessário “estabelecer uma relação frutuosa entre habitação (a casa, o alojamento), habitat (o bairro, o lugar) e o “habitar” (o mundo humano e planetário), levando em conta a diversidade de situações e de grupos sociais envolvidos” considera a Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP) em nota intitulada Uma casa para cada família, sobre a “gravidade da situação atual do nosso país no que ao acesso à habitação diz respeito”.

O documento resulta da reflexão alargada em que participaram, além da CNJP, uma dezena de comissões justiça e paz diocesanas e que contou com a contribuição do geógrafo e antigo (2005-2009) secretário de Estado do Ordenamento do Território e das Cidades, João Ferrão. O texto pretende “alertar para a necessidade de uma visão completa“ e aprofundada de um “problema cuja complexidade” os dirigentes daquelas instituições “não ignoram”, mas do qual não se querem alhear e por isso mesmo vêm “dar o seu contributo para o diálogo, reflexão e ação em torno desta questão”, mais do que “indicar soluções concretas” para a resolver.

A negação do acesso à habitação é, para as comissões Justiça e Paz do país, particularmente grave “no caso das pessoas sem abrigo que vivem na rua (sem teto), no das pessoas sem abrigo em alojamento temporário (sem casa) e no das pessoas em alojamento temporário partilhado, em alguns casos em condições desumanas de sobrelotação (sobretudo imigrantes, mas também estudantes e outras).” Mas há também outras duas situações que são identificadas como perigosas: “a dependência financeira grave (juros elevados de empréstimos bancários, taxas de esforço não suportáveis pelas famílias); e a “expulsão” direta (despejos; não renovação de contratos de arrendamento), ou indireta (aumento não suportável do valor das rendas), do local de residência atual”.

Para além desta negação do acesso à habitação, “o acesso a habitação digna é negado pela ausência de infraestruturas básicas (saneamento), pelo mau ou péssimo estado de conservação física dos edifícios e pela baixa qualidade da construção (pobreza energética, baixos níveis de conforto térmico)”. Finalmente, outras situações relevam da negação do acesso a uma habitação adequada por “superlotação”, por “desadequação entre as necessidades e/ou capacidades de idosos”, ou ainda por ter dimensões impróprias para permitir, por exemplo, “o trabalho à distância a partir de casa”.

Na relação da habitação com o habitat, as comissões apontam o crescimento das distâncias “entre o local de residência e o local de trabalho/estudo, o que promove uma crescente dissociação entre habitação e lugar, com a consequente perda de espírito e sentimento de pertença ao lugar e o desenraizamento em relação à comunidade local”, concluindo que “o direito ao lugar (por exemplo, como critério urbanístico, de realojamento, etc.) tem um reconhecimento social e político insuficiente”. Nesta perspetiva, o “habitar” (o mundo) permite pensar “a habitação como espaço familiar, o habitat como espaço comunitário e o “habitar” como exercício vital da família humana que corresponde a uma vida humana plena e digna, ao desenvolvimento humano integral”.

 

Referências fundamentais

Há muitos anos que um documento da CNJP não vinha a público coassinado por tantas comissões diocesanas e resultando de uma reflexão conjunta alargada. O seu título foi recuperado de uma intervenção do Papa Francisco, em 2014: “Já o disse e repito-o: uma casa para cada família. (…) Mas um teto, para que seja um lar, deve ter também uma dimensão comunitária: o bairro, e é precisamente no bairro que se começa a construir esta grande família da humanidade”. E os “princípios que podem” constituir referências “na busca de respostas à crise do acesso à habitação, que atinge hoje entre nós uma inédita gravidade” foram retirados da Doutrina Social da Igreja Católica.

Sobre esses princípios, as comissões Justiça e Paz sublinham que “o direito à habitação é um direito fundamental da pessoa e da família” e que “sem acesso à habitação está comprometida a integral realização da pessoa e não será possível a formação de jovens famílias que enfrentem o também grave problema da queda da natalidade”. Para tornar realidade este direito, “há que respeitar o direito de propriedade privada sem esquecer a função social desta”, ou seja, “o direito de propriedade privada deve facilitar a concretização do direito à habitação do seu titular e sua família, mas facilitar também (e não impedir ou limitar) o exercício do direito à habitação de outras pessoas” através, nomeadamente do “arrendamento a preços justos e não especulativos”.

Mas a estes princípios é ainda necessário juntar “os princípios da solidariedade e da subsidiariedade”, não esperando que “a completa solução do problema” seja dada pela “autonomia do mercado”, ou apenas pela “intervenção do Estado”. Esta intervenção “impõe-se para suprir as imperfeições do mercado, que hoje se revelam notórias, sem a pretensão de o substituir”, mas há que “apoiar de várias formas iniciativas do setor social e cooperativo.”

O documento termina reafirmando que os seus autores pretendem “acima de tudo salientar a necessidade de, face à extrema gravidade do problema, encontrar tais respostas de modo prioritário e urgente, apoiadas no diálogo, na concertação e no estabelecimento de compromissos claros e duradouros.”

 

Nazila Ghanea: “Espero que aumente a experiência da liberdade de religião ou crença”

Relatora especial da ONU em entrevista

Nazila Ghanea: “Espero que aumente a experiência da liberdade de religião ou crença” novidade

Relacionar a violação da liberdade de religião e de crença com questões como a tortura ou a juventude, por exemplo, são algumas das prioridades da britânica e iraniana Nazila Ghanea, que desde Agosto de 2022 é a Relatora especial das Nações Unidas sobre a Liberdade de Religião e de Crenças. Ghanea trabalha na Universidade de Oxford (Reino Unido) desde há 20 anos, exactamente quando começou a trabalhar o tema da liberdade religiosa, na pesquisa que fez para o seu doutoramento.

800 anos do Presépio de Greccio: Natal, a Festa das Festas

Pré-publicação

800 anos do Presépio de Greccio: Natal, a Festa das Festas novidade

Dois milénios depois de Belém e de Jesus e 800 anos após Greccio e S. Francisco de Assis, o que resta do Natal cristão? E como recuperar o sentido do Presépio? Afinal, no presépio de Greccio não havia Menino, mas apenas o boi, o burro e a manjedoura?… É a perguntas como essas que se propõe responder o livro “De Belém a Greccio –O Presépio de São Francisco de Assis”. Pré-publicação.

Apoie o 7MARGENS e desconte o seu donativo no IRS ou no IRC

Breves

 

COP28 entre o fracasso e a expectativa de avanços significativos

A cinco dias do fim

COP28 entre o fracasso e a expectativa de avanços significativos novidade

Nenhum participante tem expectativas muito altas em relação ao desfecho da COP28, mas o sentimento mais comum entre os ativistas do clima presentes nos Emirados Árabes Unidos é o de que ainda é possível “dar a volta” e evitar o fracasso total. Islene Façanha, colaboradora da associação ambientalista Zero, falando ao 7MARGENS a partir do Dubai, referiu a “pressão das organizações não governamentais tem sido muito forte” o que mantém em aberto as “possibilidades de avançar”.

Tolentino Mendonça e Céline Cousteau doutorados “honoris causa” pela Universidade de Aveiro

No próximo dia 15

Tolentino Mendonça e Céline Cousteau doutorados “honoris causa” pela Universidade de Aveiro novidade

O cardeal, poeta e teólogo Tolentino de Mendonça e a exploradora e autora de documentários sobre a biodiversidade Céline Cousteau vão receber o doutoramento honoris causa pela Universidade de Aveiro (UA) durante a cerimónia de comemoração dos 50 anos da Academia, anunciou a instituição. A sessão decorrerá no próximo dia 15 de Dezembro.

Americanos afastam-se das religiões estabelecidas, mas acreditam na existência da alma

Sondagem

Americanos afastam-se das religiões estabelecidas, mas acreditam na existência da alma novidade

Quatro em cada cinco americanos adultos acreditam que as pessoas têm uma alma ou espírito além do corpo físico, revela uma sondagem publicada no dia 7 de dezembro pelo Pew Research Center. O centro de investigação sublinha que “apesar de nas últimas décadas a população residente nos EUA ter vindo a identificar-se cada vez menos com uma religião estabelecida, a crença num reino espiritual além deste mundo continua a ser generalizada”.

Agenda

Fale connosco

Autores

 

Pin It on Pinterest

Share This