
Foto © Masha Raymers/Pexels
Um dia destes, alguém chamou a minha atenção para as duas árvores defronte à minha casa. Duas árvores da mesma natureza; mas enquanto uma delas estava coberta de folhas, a outra estava desfolhada.
A segunda, já sem folhas, estava mais exposta, mais vulnerável, mais triste, mas apesar de tudo, viam-se pequenos e viçosos rebentos verdes a brotar nela.
Além das mudanças a que as árvores ficam sujeitas ao atravessarem as quatro estações do ano, era notório que esta árvore tinha passado por algo que a deixou doente, quase à morte.
Este cenário levou-me às muitas mães que neste momento estão a ver os seus filhos a serem levados para a frente do conflito entre a Rússia e a Ucrânia, servindo eles de “carne para canhão”, como se diz.
Mas não só estas mães inundaram o meu pensamento. Também aquelas que no Paquistão viram as suas crianças sucumbindo nas grandes cheias provocadas pelas monções e as que sobreviveram a esta catástrofe agora morrem de malária.
Ainda pensei nas muitas mães cristãs que tanto são esquecidas e que, em países onde há perseguição religiosa, veem os seus filhos a serem mortos ou arrancados dos seus braços para não serem educados nos princípios cristãos.
Como árvores desfolhadas são todas estas mães. Mães desfilhadas! Certamente as suas almas ficam expostas e vulneráveis pelo sofrimento; um vazio profundo abate-se sobre elas, os seus rostos são tristes, e os corações doentes e toldados pela sombra da morte e da lembrança da despedida angustiante em que viram pela última vez os seus filhos.
Ousaria dizer que muitos de nós, neste momento, ao tomarmos conhecimento destas histórias, enquadrámo-nos na primeira árvore que não está desfolhada. Mas é tão importante não esquecermos o nosso próximo que está bem ao nosso lado! Semelhante a nós, da mesma natureza, mas sujeito a circunstâncias penosas, sofre a perda dos seus mais queridos. Hoje, são estas mães, amanhã poderemos ser nós, e certamente não gostaríamos de ser esquecidos. Quando não esquecemos somos impelidos a fazer alguma coisa, e quando não conseguimos chegar perto delas, o cristão tem algo poderoso e eficaz, algo que não tem barreiras nem medidas: a oração. Oração por conforto e consolo divino para estas mães desfilhadas. Oração dirigida ao Pai do Céu que tem o consolo certo porque também conheceu a mesma dor quando o Seu Filho Jesus Cristo morreu numa cruz.
Acredito e desejo profundamente que à semelhança daqueles pequenos e viçosos rebentos que brotam da árvore que recupera de uma grande perda, um dia, pouco a pouco, na vida destas mulheres e mães surja um novo tempo, uma nova estação, uma nova roupagem que revelará que se reergueram mais fortes, mais sábias e mais belas.
“Porque há esperança para a árvore, pois, mesmo cortada, ainda se renovará, e não cessarão os seus rebentos.” (Bíblia, Livro de Job 14: 7))
Isabel Ricardo Pereira é missionária evangélica; contacto: isabeljose@sapo.pt