
O padre Joshtrom Isaac Kureethadam é o responsável pela Ecologia e Criação do Dicastério para o Desenvolvimento Humano e Integral. Foto Direitos Reservados
O inquérito elaborado pelo 7MARGENS e pela Família Cristã é um “trabalho pioneiro”, considerou o padre Joshtrom Isaac Kureethadam, coordenador do sector Ecologia e Criação no Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, do Vaticano, que na manhã desta terça-feira, 25, será um dos intervenientes na conferência de imprensa de apresentação da Plataforma de Acção Laudato Si’, em Roma.
“A Plataforma não é apenas para propor objectivos, mas antes um caminho de espiritualidade. Para cada um dos sete objetivos, encontrámos, com a ajuda de 91 pessoas, uma lista de coisas a fazer”, explica o padre Joshtrom. A adesão será voluntária, mas, no caso português, a realização do inquérito 7MARGENS/Família Cristã pode ser um estímulo para muitas instituições católicas, considera. “Talvez quem se tenha saído melhor no vosso inquérito, e que já faz coisas, possa aderir no primeiro ano à Plataforma, fazendo com que outros se sintam motivados para ir aderindo nos anos seguintes”, diz, em conversa com o 7MARGENS e a FC.
Este trabalho começou por envolver vários membros e responsáveis da rede Cuidar da Casa Comum (CCC), a quem foi pedido que, de cada um dos capítulos da encíclica Laudato Si’ registasse todas as sugestões concretas ou ideias inspiradoras feitas pelo Papa no documento.

Só cinco não responderam
Com base nesse levantamento, o 7MARGENS e a Família Cristã elaboraram um questionário que, após formulações mais extensas, acabou com 34 perguntas. Estas incluem questões muito concretas como a reciclagem, separação de lixos ou acolhimento de refugiados, bem como questões mais vastas e abertas. Como por exemplo a primeira: “A diocese/congregação/movimento/instituição tem definidas metas ecológicas, traçadas a partir da Laudato si? Se sim, quais são e qual o calendário para a sua concretização?”
No caso das 21 dioceses, foi pedido que a resposta tivesse em conta apenas as estruturas diocesanas (cúrias, casas de retiro, seminários…) e não todas as instituições católicas existentes no respectivo território.
Além das dioceses, o inquérito foi enviado para sete congregações religiosas: Irmãs Doroteias, Servas de Nossa Senhora de Fátima, Religiosas do Sagrado Coração de Maria, Maristas, Jesuítas, Missionários da Consolata e Salesianos. Faziam parte da lista ainda nove movimentos e instituições: Santuário de Fátima, Universidade Católica Portuguesa, Rádio Renascença, Fundação Fé e Cooperação, Movimento dos Focolares, Opus Dei, Leigos para o Desenvolvimento, Corpo Nacional de Escutas e Movimento Apostólico de Schoenstatt.
Dos 37 inquéritos enviados, só cinco não foram devolvidos, como ficou dito no texto onde se apresentam as conclusões principais. Os padres jesuítas pediram e coligiram respostas de todas as instituições da Companhia de Jesus em Portugal e as Doroteias enviaram respostas de quatro das suas escolas. Uma vez coligidas as respostas, pedimos uma análise dos dados e um comentário a três especialistas, ao presidente da Conferência Episcopal Portuguesa e ao padre Johstrom, enquanto responsável por esta área no Vaticano.

Uma sugestão para os bispos portugueses
A falta de metas ecológicas não é um exclusivo português, de acordo com o padre Joshtrom. Essa, aliás, foi uma das razões que levou o Papa a proclamar o Ano Laudato Si’, que agora terminou. “Percebemos que houve um entusiasmo muito grande na altura” da publicação da encíclica. Mas esse arrebatamento inicial passou. “Achámos que era preciso voltar a falar do tema. O Papa disse que o grito da Terra e dos pobres estava a ficar cada vez mais alto e era preciso voltar a falar da encíclica”, explica.
Comentando os dados recolhidos, Joshtrom Kureethadam valoriza o retrato obtido. “Os mínimos estão lá, não são tudo más notícias. A maioria das respostas são na casa dos 50%, e é preciso construir a partir daí”, sugere, indicando duas áreas que lhe parecem prioritárias: dar “mais protagonismo aos jovens”, pois isso pode “até pode ser uma forma de os fazer regressar à Igreja”; e, por outro lado, ter “estratégias globais, porque fazer acções individuais não será suficiente”.
“Precisamos de uma conversão ecológica em acção, mas com uma estratégia definida: ter uma paróquia que se transforma neutra em carbono em sete anos, mas que, ao mesmo tempo, consegue aumentar a espiritualidade, colocar os pobres no centro, mudar estilos de vida…”, indica o responsável do Vaticano, de origem indiana, da diocese de Kerala.
Tudo isto, organizado e promovido pela “equipa de ecologia da Conferência Episcopal”, sugere ainda. Mas essa não existe em Portugal, esclarecem os jornalistas. “Bom, talvez depois do vosso artigo se possa criar uma”, conclui o padre Joshtrom, com um sorriso.