
Depois do VII Congresso de Líderes de Religiões Mundiais e Tradicionais, que decorreu no Cazaquistão em setembro de 2022 (imagem acima), os líderes religiosos voltarão a encontrar-se em novembro, agora em Abu Dhabi. Foto © Vatican Media.
Uma cimeira global com os líderes religiosos de todo o mundo terá lugar em Abu Dhabi (Emirados Árabes Unidos), de 6 a 7 de novembro, para discutir o papel crucial das comunidades religiosas face às alterações climáticas. A organização deste evento, que antecede a COP 28 no mesmo país, já havia sido avançada pelo Papa, durante uma entrevista no início de agosto, mas na altura Francisco referiu-se a ele como “um encontro para a paz”.
O anúncio oficial foi feito esta quarta-feira, 6 de setembro, pela agência de notícias dos Emirados Árabes Unidos, WAM, segundo a qual o evento será organizado pelo Conselho Muçulmano de Anciãos (MCE, na sigla inglesa) – presidido pelo Imã de Al-Azhar Ahmed Al-Tayeb -, em colaboração com a Presidência da COP28, o Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUMA) e a Igreja Católica.
“Espera-se que os líderes religiosos que representam as principais religiões, académicos e especialistas ambientais do mundo participem no evento de dois dias com o objetivo de discutir as responsabilidades éticas dos líderes religiosos na abordagem à crise climática”, adianta a WAM.
O comunicado acrescenta que “a reunião também abordará a colaboração entre a fé e a ciência para colmatar a lacuna entre as evidências empíricas e os ensinamentos espirituais, discutir estratégias para amplificar as vozes dos líderes religiosos para melhorar a justiça climática e destacar formas de envolver as comunidades de base na consecução do desenvolvimento sustentável”.
Citado no comunicado, o Secretário-Geral do Conselho Muçulmano de Anciãos, Mohamed Abdelsalam, destaca que “a cimeira preliminar de líderes religiosos para a COP28 chega num momento crítico onde a intensificação da ação climática em todos os sectores da sociedade, a erradicação da ignorância sobre as alterações climáticas e a sensibilização para as questões ambientais se tornaram imperativas”.
O site italiano Il Sismografo, dedicado a assuntos religiosos, avança que, durante o evento, será apresentada e estudada pelos participantes a segunda parte da Encíclica Laudato si’, que o Papa Francisco publicará no dia 4 de outubro .
O primeiro Pavilhão da Fé numa COP
Durante a COP28, que decorrerá de 30 de novembro a 12 de dezembro, o MCE e o PNUMA, em colaboração com a Presidência da COP28, serão ainda co-anfitriões do Pavilhão da Fé, o primeiro pavilhão deste tipo num evento da COP.
“O nosso objetivo é proporcionar um palco global para promover o envolvimento religioso e o diálogo inter-religioso com o objetivo de inspirar objetivos ambiciosos e ações concretas para enfrentar a crise climática”, explica Majid Al Suwaidi, diretor-geral da COP28, também citado no comunicado. “As comunidades e organizações religiosas desempenham um papel crucial em ajudar o mundo a enfrentar as alterações climáticas”, acrescenta.
A COP28 terá lugar na Expo City Dubai e deverá reunir mais de 70 mil participantes, incluindo chefes de estado, funcionários governamentais, líderes da indústria internacional, representantes do setor privado, académicos, especialistas, jovens e atores não estatais.
Conforme determinado pelo Acordo Climático de Paris, a COP28 apresentará o primeiro balanço global de sempre – uma avaliação abrangente do progresso em relação aos objetivos climáticos. O objetivo é que todas as partes cheguem a acordo sobre um roteiro claro para acelerar o progresso através de uma transição energética global pragmática e de uma abordagem de “não deixar ninguém para trás” para uma ação climática inclusiva.
O alerta de António Guterres

Numa reação ao anúncio da parte da Organização Meteorológica Mundial (OMM) e do serviço climático europeu Copernicus de que o verão deste ano foi o mais quente jamais registado no Hemisfério Norte, o secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou esta quarta-feira que “o colapso climático começou”.
“O nosso clima está a implodir mais depressa do que conseguimos aguentar, com fenómenos meteorológicos extremos a atingir todos os cantos do planeta”, lamentou Guterres.
Já no dia anterior, o secretário-geral das Nações Unidas havia exigido, na Cimeira do Clima de África, que decorreu em Nairobi (Quénia), que os países desenvolvidos cumpram as suas promessas no combate à crise climática, que atinge desproporcionalmente o continente.
O chefe da ONU afirmou que “ainda é possível evitar os piores efeitos” da crise climática, embora seja necessário um “salto qualitativo” na “ação climática” e mais “ambição”, especialmente por parte dos países desenvolvidos, que devem reduzir as suas “emissões líquidas para perto de zero” até 2040.