A beleza da criação, do amor e da Liberdade

Contos do Belo

| 29 Mai 2021

A ideia destes Contos surgiu-me de um necessário diálogo do nosso olhar sobre O Belo, da importância desse olhar ao longo da história da humanidade e de sentir quanto pode ajudar a criar o Amanhã em, ou após, pandemia(s).

As fotos e aguarelas que ilustram os contos são da minha autoria (menos a assinada por Ana Ferreira) e os desenhos são das três crianças entre os quatro e os oito anos com quem gravei um tempo de leitura comentada até ao quarto conto e com quem conversei sobre o que iria escrever nos contos seguintes. São referidas como “as crianças” nos comentários que introduzo, sem indicar a qual delas diz respeito.

A D. Rosa é uma vizinha que vive na minha rua. Vive dependente de uma filha que trata dela, num r/chão de uma casa muito simples. A D. Rosa não sabe ler nem escrever. Nos seus 86 anos a vida trouxe-lhe muito e tirou-lhe outro tanto.

Ana Cordovil

 

O BELO

Bom Dia,
Sou o Belo!
Gosto muito de ser o Belo!
Apareço de surpresa e levo emoções aos corações.
Os meus anos são tantos quantos os anos da Criação.
Mas não sou velho, sou tão novo como os que nascem agora.
Sei que por vezes não me veem, mas eu ando sempre por aí.
Os mais novos anunciam-me, mas são os mais velhos que maiores tesouros guardam de mim.
Por vezes há um olhar que me descobre e então… fazemos a FESTA!
Outras vezes ninguém me vê.
Parecem distraídos…

Vou contar-te como o Belo se pode tornar num tesouro que alegra as maiores tristezas
e pode colorir cada vida por mais esquecida que pareça estar.

Tanto a D. Rosa como as 3 crianças abriram bem os olhos e pediram para ouvir mais…

A LUZ

“Faça-se a luz”
 Génesis. 1,1-10

O escuro. Ana Cordovil

Era uma vez o nada.
Não se encontrava mesmo nada…
Nem som
Nem sopro
Nem cheiro
Nem luz
Nada!

O escuro era uma gruta, um buraco, um vazio que chamou por ajuda.
Tanto chamou que o Belo ouviu e perguntou:
“Quem me quer?”
E o escuro respondeu:
“…aqui!
…não me vês?”
Sim, o Belo viu.
E soube que tinha de ajudar.
O Belo lembrou a Luz e convidou a Luz a visitar o escuro.

Devagar, assim como uma surpresa, a Luz deu transparências diversas ao escuro e ao descobrirem como era belo fizeram a FESTA. O escuro e a Luz prometeram nunca mais se separar e brincarem para sempre.
E o Belo renasceu!

 

D. Rosa não sabia ler nem escrever mas gostava muito de ouvir estórias.
                                                                       Ouviu
                                                                                 Sorriu
                                                                                           e disse:
                                                                                                         “Venha cá mais vezes. É bom!”

 As três crianças já estavam habituadas a ouvir estórias e conversar sobre elas.

“É giro…, mas não percebo bem o que é o Belo… é o bonito, talvez…”
“O Belo trouxe a luz para ajudar o escuro?…”
“Viram?!
O escuro pode ser o belo!
Eu cá quero fazer uma gruta…”

Propus que lêssemos mais um pouco…

 

O CÉU

“E Deus chamou céus ao firmamento.”
Génesis 1,8

Céu estrelado. Ana Cordovil

Era uma vez dois elementos muito amigos, o escuro e a luz que de tanto brincarem já não conseguiam desembaraçar-se / desentrelaçar-se.
A confusão era tal naquele novelo que tiveram mesmo de pedir ajuda.
“Ajuda!
Socorro!
Há por aí quem possa ajudar-nos?”
Tanto barulho fizeram que o Belo ouviu e veio saber:
“Mas que grande algazarra!
Que se passa?”
Não havia dúvidas… os dois amigos precisavam de ajuda para se organizarem nas suas brincadeiras.
O Belo pensou e distribuiu o escuro e a luz com equilíbrio.
Ao escuro pediu que trouxesse serenidade e colocou nele pontos brilhantes de luz cintilantes, umas vezes eram mais intensos, outras mais fracos.
E assim surgiu o Céu que clareava ou escurecia conforme a brincadeira dos pontos brilhantes.

 

A D. Rosa
Sorriu e disse quase em segredo.
“Há muito tempo que não vejo o céu com estrelas… sabe, eu fui trabalhar ainda gaiata e lá… viam-se mais estrelas e guiavam-nos no escuro da noite”… e voltou a sorrir porque gostava daquelas recordações.

As crianças entusiasmaram-se com esta parte da brincadeira das luzes no céu, pois já tinham descoberto que…
“Às vezes parece que as estrelas andam atrás de nós e afinal somos nós que rodamos…”
“e temos a ilusão que a lua se mexe,… parece que ela nos está a seguir…, mas somos nós que nos mexemos”

Mas ainda acrescentaram…
“O céu pode ter estrelas e nuvens”

E já vinha aí o próximo conto…

 

A TERRA  

“…ao elemento árido… Deus chamou-lhe terra…”
Génesis 1,10

Terra. Ana Cordovil

Era uma vez o Céu todo vaidoso!
Gostava das suas luzes a brilhar e achava-se belo.
O Céu parecia não ter limites para as brincadeiras das luzes que ora se juntavam, ora fugiam e mostravam não saber onde parar.
Elas riam muito e achavam imensa graça a tanta malandrice. Mas andavam um bocado confundidas.
Então o Céu começou a pensar que precisava de ajuda para trazer alguma ordem …
E chamou:
“Oh! Belo, ainda me podes ajudar?…”
Teve de esperar um pouco, pois o Belo estava longe dali…
Mas logo apareceu e quis saber:
“E agora meu amigo que se passa?”
E o Céu explicou então:
“Não sei bem onde colocar as luzes sem se magoarem e poderem divertir-se na mesma… é que não tenho ideia como hei de fazer?…”
O Belo escolheu um elemento surpresa que colocaria entre os pontos de luz e a cada um deu o seu lugar.
A partir desse momento aos pontos de luz chamou estrelas que cintilavam no Céu.
Ao elemento novo chamou Terra e essa era a maior surpresa que estava por descobrir…

 

Começaram as crianças por comentar:

“Não percebi porque é que as cores andavam misturadas? É estranho… “
“Eu cá acho que o Belo pode ser Deus que veio ajudar a organizar as cores.”

E outra
“O Belo também pode ser o bom…”

A D. Rosa
Adormeceu ao ouvir este conto.
Quando acordou lembrou-se de ter ouvido que vinha aí uma surpresa…
                                                                                                                      e quis ouvir mais…

  Uma das crianças pediu para ser ela a ler o próximo conto.

 

A ÁGUA

“Reúnam-se as águas que estão debaixo dos céus”
Génesis 1,9

Terra no meio. Ana Cordovil

Era uma vez uma surpresa…
O Céu e as Estrelas não paravam de dançar à roda da Terra.
Em cada volta trazia novas cores, mas ainda sem saberem onde seria o seu lugar.
Os azuis anunciavam leveza, os verdes e castanhos brincavam com o vermelho. Todos queriam andar em movimento e o amarelo iluminava todos e levava brilho ao escuro.
Havia que encontrar alguma coerência… e resolveram pedir ajuda.
Fizeram uma tal algazarra que o Belo veio saber o que se passava.
Ouviu com atenção.
E resolveu ajudar.
Havia que separar as cores na Terra na correta relação dos diferentes materiais.
Assim, os líquidos juntaram-se e criaram fios de água que corriam entre as matérias mais duras, trazendo-lhes a humidade necessária para aí poderem crescer plantas verdes, castanhas e vermelhas onde o amarelo brilhava.
Surgiram ainda grandes superfícies de água que abraçavam as partes duras da Terra e se chamariam lagos e mares.
Esta proposta encantou todos e a Terra no meio do Céu ficou ainda mais bonita.
No Céu uma estrela mais forte passou a iluminar a Terra que, ora de um lado, ora do outro, mostrava toda a sua natureza. A esta estrela o Belo chamou Sol.
Tanta beleza!
Quantas surpresas virão ainda …?

 

A D. Rosa ouviu e timidamente disse “Está bonito!”, não encontrava palavras para dizer do gosto que sentia em ter companhia.

Com este conto as crianças entenderam melhor a necessidade que a Terra teve de organizar as cores.
Falavam as três ao mesmo tempo, lembrando a confusão das cores quando andavam misturadas… e numa procura de palavras disseram:
 “…havia uma grande confusão e veio o Belo e organizou tudo para as plantas poderem crescer… e o azul que tinha de regar as partes duras.”

Uma delas voltou a lembrar:
“Agora podemos ir fazer o que eu pedi: Uma gruta?”

Combinaram ir fazer a gruta do escuro depois de lerem os contos.

 

A VIDA

Água Montesinho. Ana Cordovil

 “Produza a terra verdura,…
Animais com movimento… segundo a sua espécie…
E o homem e a mulher… Com um sopro de vida.”
Génesis 1,24-26

Era uma vez muitas cores que passeavam na Terra, se abraçavam, riam, fugiam, voltavam e espantavam-se com o novo que sempre surgia.
Mas queriam mais, sabiam que tinham força, imaginação e alegria para fazer acontecer!
Reuniram-se para verem quem poderia ajudar a organizar tantas ideias.

E chamaram o Belo.

O Belo andava há muito no meio das cores pois pressentiu agitação a mais…

Vendo tantas possibilidades de criação, o Belo ajudou a nascer a Vida que surgiu na terra e nas águas, trazendo à Terra um número infinito de diferentes plantas que mudavam de cores conforme a luz e de seres que em grupos diversos se habituaram a brincar uns com os outros.

Nas águas nasceram plantas de todas as cores que pareciam dançar e no meio delas surgiram muitos seres que gostavam de se divertir em correrias e saltos fantásticos.

Os seres vivos aprenderam como multiplicar-se e povoaram a Terra trazendo-lhe Vida.

Cada ser foi descobrindo o seu lugar na Terra e a mulher e o homem também.

 

D. Rosa ouviu… estava um pouco intrigada….
E resolveu perguntar como se chamavam esta mulher e este homem.

Mas neste conto ainda não sabíamos o nome deles. E se o tinham não nos tinham dito.

Uma das crianças lembrou-se de já ter falado com o pai sobre a origem da vida.
“O meu pai contou-me que a origem da Vida pode ter acontecido há muitos, muitos, anos. Apareceram bolhas na água que juntaram seres que vieram a transformar-se em animais e lentamente foram dando origem a outros animais e mesmo aos homens. E pode ser que as pessoas tenham vindo dos macacos. Quando eram como os macacos, viviam na natureza todos juntos e aprendiam com o exemplo de cada um o que era melhor para se entenderem.”

… “E eu acho que o Belo veio ajudar as pessoas a serem de outra forma!”
E outra acrescentou:
“As pessoas aprenderam a viver com Jesus… e com os pais. Começaram por aprender a caminhar e a saltar” – disse uma das crianças na sua voz decidida, dando um salto que exemplificava essa possibilidade.

Mas já vinha aí mais um conto.

 

O AMOR

Enamoramento Sara. Ana Cordovil

 “Deixo-vos agora um mandamento novo:
Amais-vos uns aos outros como eu vos amei”
Evangelho de João, 13, 34

 

Escrever amor. Ana Cordovil

 

Era uma vez a Terra onde cresciam plantas sem fim que todos os dias mudavam de cores, se entrelaçavam e cresciam sabendo que o Céu, ora com o sol, ora com as estrelas, lhes trazia o dia e a noite para crescerem e descansarem.
Os seres a que se chama animais aprenderam como crescer e fortalecerem-se em harmonia.
Parecia estar tudo certo.
Mas houve um tempo em que o vazio entrou nas suas vidas. Não sabiam ao certo para onde queriam ir…
Juntaram-se todos e perceberam que precisavam de ajuda.
O Céu e a Terra lembraram-se de chamar o Belo.
“Vem cá Belo!
Depressa!
Estamos mesmo a precisar de ti!”

Houve um silêncio…
que dentro dele trazia tristeza, mas…
…sem saberem bem de onde…
                                                                                                O Belo apareceu.
Que bom!
Ficaram logo melhor!

O Belo ouviu-os e sentou-se no meio deles.
Fizeram uma grande roda para assim resolverem onde encontrar o sentido de que precisavam.
O Belo chamou então a mulher e o homem e pediu que trouxessem Alegria a toda a Terra.
A partir desse momento a mulher e o homem teriam maiores responsabilidades na Terra e no seu futuro.
A mulher e o homem enamoram-se e ensinaram todos e cada um conforme a sua natureza a Amarem-se.
O Amor unia os seres pelo afeto que sentiam entre eles e descobriram como era bom emocionarem-se com o gosto que tinham nisso.
Esse Amor fê-los desejarem que a Vida se alargasse a mais iguais de cada espécie e o tempo trouxe muitos novos seres que cresciam em sabedoria.
O Belo gostou do que viu e agradeceu o dom do Amor na Vida.

 

D. Rosa já tinha ouvido uma história parecida com esta. O seu coração emocionou-se e lembrou-se que nem sempre encontrou Amor.
Desde pequena a D. Rosa só se lembra de trabalhar quase sempre sem carinhos. Numa das casas em que trabalhou lembra-se dos gatos que andavam sempre atrás dela para brincarem pois pareciam gostar dela. Agora que a D. Rosa está mais só, gostava de ter um gato, mas não tem quem possa cuidar dele.

 As crianças gostariam de dar um gato à D. Rosa, mas quem tem um animal tem de poder cuidar dele e a D. Rosa não pode nem tem quem o possa fazer. 

“…O Amor é muito difícil de explicar” começaram a dizer as crianças quase envergonhadas.
“É talvez uma amizade que cresce entre as pessoas. E depois resolvem viver juntas.”
“Eu não consigo explicar muito bem os gostos, mas o Amor… cresce porque se gosta das mesmas coisas.”

Isto de falar de emoções é mais delicado…

Resolvemos retomar a leitura de mais um conto.

 

A VONTADE

 “Mais do que distantes
Estão os montes lá dos céus
Vossos pensamentos estão dos meus.”
Padre Alberto Neto, inspirado em Isaías 55, 9

Vontade. Ana Cordovil

 Era uma vez a Terra no meio de um universo de uma beleza sem palavras onde as emoções traziam Alegria a todos.
As relações amorosas que se criavam eram novidade e todos aprendiam a crescer na diferença e a agradecer.
Mas com o andar dos dias descobriram que nem sempre era assim tão fácil.
Surgiam dúvidas e receios…
Por pouco se armava confusão e alguns não sabiam entender-se sem se magoarem.
Havia muitas ideias a nascer e estava a tornar-se difícil tomar decisões.
Tinham mesmo de pedir ajuda!
Agora com vozes tão diversas esse chamamento pareceu um canto de dor e dúvida.

O Belo ouviu… e não gostou.
Correu a saber o que se passava.

Agora o problema já era mais complicado, pois envolvia muitos que precisavam de diferentes respostas.
O Belo sabia que o Tempo mais fácil tinha terminado porque agora o que trouxesse para ajudar seria entendido de diferentes modos.
Começou por chamar a Vontade e disse a cada ser que usasse dela na justa medida para criar harmonia entre todos.
Cada ser começou a saborear o uso da Vontade e descobriram muitas possibilidades de se valorizarem e crescerem em relação.

O Belo agradeceu este Tempo de procura e desejou que ele trouxesse mais beleza a cada dia.

 

D. Rosa não sabia que dizer.
Abriu bem os olhos e pensou que a vontade dela era poder sair de casa pelo seu pé, mas as pernas não queriam obedecer-lhe e diziam-lhe que era “proibido sair” …
Ela queria muito era ter mais saúde e dinheiro para sair daquela casa tão pequena e dar uma vida melhor à filha que cuidava dela.

 As crianças também não sabiam bem que dizer.
“Porque é que as pessoas não se entendem?” – sussurraram baixinho.

 A verdade é que tinham vontade de saber a resposta.

 

A LIBERDADE

A partir deste instante
a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
e a sua morada será sempre
o coração do homem.”
Thiago de Mello, Os Estatutos do Homem

ILUSTRAÇÃO 11:  Aguarela de © Ana Ferreira

Aguarela © Ana Ferreira

 

Era uma vez uma Terra onde todos viviam experimentando diferentes vontades.
Partilhavam ideias e as experiências que faziam e encantavam-se com o riso que aquecia as brincadeiras.
Quantas descobertas por fazer…
E quanta vontade habitava em todos para conhecer mais e mais.
Mas vieram dias em que as vontades, de tão diversas, chocavam e não conseguiam perceber que escolhas fazer.
Cada um defendia a sua como sendo a melhor, mas acabava por não ser aceite pelos outros. Decidir como avançar estava de novo a ser muito difícil.
Atrapalhados e sem saberem bem o que fazer, resolveram pedir mais uma vez ajuda ao Belo.

Belo, oh Belo, onde estás?
Por que te escondes?
Porque nos deixastes sós?”

Desta vez o Belo estava atento pois sabia que estes tempos seriam difíceis, mas muito importantes para o futuro.

Durante largos dias ouviu diferentes vontades e percebeu que era altura de chamar a Liberdade.
A Liberdade deu a cada um a possibilidade de decidir. E todos entenderam: cada outro tinha também a sua Liberdade de escolha.

A Liberdade trazia a cada ser a alegria de sonhar.
E como era bom!
Apareceram novos projetos e as ideias começaram a ganhar força.
Resolveram ouvir todos e procurar o melhor projeto, tomando em conta a Liberdade de escolher sem esquecer o que poderia vir a acontecer.
Abriam-se novos caminhos que prometiam muito.
E não esqueceram que a Liberdade era para todos.
O Belo esperou que os seres na Terra encontrassem o melhor e foi descansar.

 

D. Rosa estava outra vez sem saber muito bem o que dizer. A verdade é que gostava de estar assim com companhia, pois agora era muito raro aparecer alguém. A pandemia ou lá o que era não a deixava receber visitas e as poucas que apareciam vinham sempre de cara meio tapada e não davam beijos nem abraços que lhe faziam tanta falta…

 As crianças pensaram e disseram:
“A liberdade é bom!… sobretudo quando temos vontade de ir brincar.”

E outra lembrou.
“As pessoas às vezes têm ideias boas que não conseguem fazer sozinhos. Chamam um amigo e preguntam: Vem cá ver se consegues? E depois veem que juntos conseguiram!”

Mas valia a pena conhecer mais contos sobre o Belo…

  

O MEDO

“Ainda que eu atravesse o mais escuro vale,
Não terei receio de nada.”
Salmo 23, 4

Medo. Ana Cordovil

Era uma vez a Terra onde a Liberdade e a Vontade aprenderam a crescer em conjunto no coração de todos os seres que experimentavam formas muito diversas de serem felizes.
O Tempo trouxe à Terra uma grande quantidade de mulheres e homens que viviam em pequenas comunidades que se organizavam com sabedoria.
Faziam o seu caminho sem pressa e com gosto.
Mas os dias pareciam nem sempre resultar.
Com o andar dos tempos surgiam mais dúvidas do que certezas.
Começaram então a acontecer pequenas mudanças na organização dos dias de cada espécie e decidiram ser melhor respeitarem-se na diversidade das escolhas que faziam.
Havia dias fáceis e outros que pareciam não terminar.
Os dias difíceis andavam a crescer…

A dúvida entrou nos seus corações.
E…
… descobriram que tinham Medo.

Sim, Medo!
Uma tristeza imensa crescia no coração.

Resolveram então pedir ajuda ao Belo para procurarem uma melhor maneira de viverem.
Desta vez a conversa com o Belo foi bem mais longa e foram percebendo que o Tempo lhes traria algumas dificuldades misturadas com as desejadas Alegrias.
Não sabemos o que disse o Belo porque cada um ouviu coisa diferente. O Belo só falou uma vez, todos ouviram ao mesmo tempo. Mas cada um ouviu uma conversa diferente que era só para ele e que guardou para si.

Com o tempo foram descobrindo que o Medo levava a distanciarem-se e a magoarem-se uns aos outros.

Então o Belo pediu equilíbrio no modo como iriam construir o futuro.

Não lhes ofereceu nada de novo para os ajudar, mas lembrou a eterna possibilidade de vencerem medos e construírem cada dia com Amor.
O Amor que tinham descoberto na relação era suficiente para vencerem medos.
Cada ser fez o seu caminho e soube que não estaria sozinho. O Belo estaria sempre no seu íntimo e ajudaria a olhar de novo para cada dificuldade.
Ficou essa promessa.

O que vamos conhecer do futuro a todos pertence e cada um saberá onde encontrar o Belo.

 

A D. Rosa tinha medo de ter dores e ficar sozinha.
Mas agora não queria pensar nisso.

 As crianças tinham medo de muita coisa, mas os pais ajudavam a vencer o medo.
Têm medo das guerras, têm medo de não se entenderem com os amigos e… não gostam mesmo de estar tristes.

“O Medo pode levar as pessoas a serem más. Quando não conseguimos pedir desculpa as pessoas ficam tristes. Mas às vezes é difícil pedir desculpa pois as pessoas foram brutas ou más para nós” disse uma das crianças.

“Mas se conseguimos pedir desculpa ficamos melhor,… mais felizes” acrescentou outra.

Retomamos a leitura…

 

As MELHORES MEMÓRIAS

“Implorando o sopro do ser divino,
O sopro que dá a vida,
O sopro de muita idade”
Oração Zunhis, da América do Norte,
na versão de Herberto Helder, in Rosa do Mundo

Esmeralda. Ana Cordovil

Era uma Vez uma Terra onde os homens começaram a esquecer o Belo.
Foram tempos de muitas mudanças e por vezes o coração não sabia sorrir e emocionar-se.
O céu perdeu luz, as cores andavam tristes e o ar quase não era bom para se respirar.
As crianças resolveram ajudar e descobriram que havia muitos tesouros esquecidos do Belo que moravam no coração das pessoas. Sobretudo dos mais idosos que na sua longa vida tinham tanto para contar.
As crianças reuniram-se e em conjunto desenharam um plano magnífico!
Combinaram ir a todas as casas e ouvir as melhores Memórias que cada idoso tinha para contar.
Foram dias cheios de surpresas.

Passado o tempo necessário, reencontram-se e…
… reuniram tanta beleza que a Terra até começou a respirar melhor.
O Sol e as estrelas tornaram-se mais cintilantes.
As cores voltaram a encantar olhares.
Os seres descobriram-se de novo todos diferentes, mas nenhum estava a mais, nenhum podia ser substituído, ninguém podia dar o que o outro tinha de melhor para criar o bem de todos.
O Amor entre eles dava-lhes mais força para enfrentar medos e prometerem não esquecer as melhores memórias que davam sentido ao futuro.

O Belo viu tudo de longe e de perto e viu que era bom!

 

Desta vez a D. Rosa sabia que este conto falava dela e agradeceu, pois, apesar de ser mais a tristeza que invadia o seu coração, contar coisas bonitas da sua vida era uma grande Alegria.

E as crianças ouviam com toda a atenção.

 

HOJE

“Estimulai-vos a criar sociedades mais sadias e um mundo mais digno,
sem fome, sem pobreza, sem violência e sem guerras”
Papa Francisco,
Oração do Criador, in Fratelli Tutti

Janela. Ana Cordovil

Este conto será escrito por todos nós.
Estamos no ano de 2021.
A humanidade viveu o que não desejou. Neste último ano roubaram-nos amigos antes de tempo de quem não nos pudemos despedir com o carinho e atenção que gostaríamos.

Não ficámos todos bem!

A vida de muitos não encontrou descanso e o medo tronou-nos mais frágeis.
Alguns de nós tiveram possibilidade de criar dias de gratidão. Mas também vivemos outros dias de um sofrimento que parecia não ter solução.
As crianças não conseguiram ver os amigos e saborear a liberdade de brincar.

Mas…

Janela hoje. Ana Cordovil

Treinámos mil e uma respostas para enfrentar o isolamento, a fome, a indiferença e a dor sem nome.
Vale a pena alimentar e não esquecer muitas destas respostas!
Sabemos que o futuro que construirmos ficará inscrito no tempo com as nossas mãos.
E
Quando a escuridão assustar o nosso coração, saibamos redescobrir o Belo e recriar um futuro que não esqueça o cuidar dos mais desprotegidos e da natureza.

A D. Rosa pediu que não nos esquecêssemos dela.

Máscaras. Ana Cordovil

As crianças tinham propostas concretas para nos deixar:
E quando perguntei:
 “Acham que as pessoas depois desta pandemia vão ser mais atentas aos que não têm quase nada?

Uma delas contou:
“Passei na rua onde um senhor só tinha uma laranja – só! – para comer e pedi ao meu pai para lhe darmos mais comida. Demos e ele ficou mesmo contente e agradeceu. Mas há pessoas que não são assim, não se importam.”

E outra criança acrescentou:
“Há pessoas que só pensam em si. Têm casa e o que precisam e não se importam com os outros. São egoístas! Nós também temos de pensar nos outros.”

Outra entra no diálogo:
“Eu pensei, sobre o coronavírus, eu quero muito acabar com ele e pensei que ele é um alarme do tipo – Baixem a poluição! Porque vocês estão a fazer mal e se vocês continuarem a poluir, vão ficar mortos, não vão ter água, não vão beber! – foi assim um alerta. E como nós não estamos a ouvir bem ele vai continuar e talvez com mais força.”

Sobre como cuidar do ambiente adiantaram muitas ideias:
– nos supermercados acabar com os plásticos;
– procurar mais nas lojas a granel onde podemos usar os nossos recipientes para levar o que compramos para casa;
–  arranjar mais carros elétricos e transportes públicos que usam energias alternativas;
– reutilizar a roupa, não usar tanta sem necessidade e dar a quem não tem e precisa;

… uma delas avança ainda com algo que tem andado a pensar…
“As pessoas lutam por causa do dinheiro.
Mas quem inventou o dinheiro?
Devíamos acabar com o dinheiro que leva as pessoas a lutar! Cada pessoa só devia ter o que precisava, e o que tinha a mais dava aos que não tinham!
Por exemplo no supermercado cada pessoa só podia levar 20 produtos e durante um tempo os mais pobres podiam levar 30 ou 40.”

 No final desta conversa voltaram a lembrar que o Belo é bom, pode ser Deus porque ajuda e acaba em “a” … finalizou a criança que não sabia ainda ler bem e achou que a era a última letra do Belo. E todos riram porque era bom!

 

primavera 2021

Ana Cordovil é pintora; com a publicação destes Contos do Belo o 7MARGENS torna presente o Dia Mundial da Criança, que se assinala na próxima terça-feira, 1 de junho.

 

Andrea Riccardi: “O que mais me abalou foi o silêncio de Pio XII depois da Guerra”

Entrevista "A Lista do Padre Carreira"

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O atraso na abertura dos arquivos do Vaticano relativos ao pontificado do Papa Pio XII e da Segunda Guerra Mundial “prejudicou o conhecimento da realidade”, diz o historiador Andrea Riccardi. Os silêncios de Pacelli foram uma escolha para evitar males maiores, diz, mas o que não compreende é o silêncio de Pio XII depois da Guerra, sobre o antissemitismo.

Crimes sexuais: indemnizações levam quatro dioceses à falência

Califórnia

Crimes sexuais: indemnizações levam quatro dioceses à falência novidade

Quatro das 12 dioceses católicas da Califórnia pediram falência, ou estão a considerar fazê-lo, por causa de mais de 3.000 pedidos de indemnização entregues nos tribunais do Estado por vítimas de abusos sexuais de menores que aproveitaram o facto da lei ter prolongado até dezembro do ano passado a admissibilidade de processos envolvendo pessoas tendo atualmente até 40 anos.

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Breves

 

Terça, 30, às 18h

Legado de Alfredo Bruto da Costa debatido na Feira do Livro

O livro O Que Fizeste do Teu Irmão? – Um Olhar de Fé sobre a Pobreza no Mundo, de Alfredo Bruto da Costa, é o ponto de partida para o debate que, nesta terça-feira, reúne Nuno Alves, economista do Banco de Portugal e membro da direcção da Cáritas Portuguesa, com Margarida Bruto da Costa, filha do autor.

JMJ realizou em 2022 metade das receitas que tinha orçamentado

A Fundação Jornada Mundial da Juventude (JMJ) Lisboa 2023 obteve no ano passado rendimentos de 4,798 milhões de euros (menos de metade do previsto no seu orçamento) e gastos de 1,083 milhões, do que resultaram 3,714 milhões (que comparam com os 7,758 milhões de resultados orçamentados). A Fundação dispunha, assim, a 31 de dezembro de 2022, de 4,391 milhões de euros de resultados acumulados em três anos de existência.

Debate em Lisboa

Uma conversa JMJ “conectada à vida”

Com o objectivo de “incentivar a reflexão da juventude” sobre “várias problemáticas da actualidade, o Luiza Andaluz Centro de Conhecimento (LA-CC), de Lisboa, promove a terceira sessão das Conversas JMJ, intitulada “Apressadamente conectadas à vida”.

Milhares a dançar na procissão

Luxemburgo

Milhares a dançar na procissão novidade

Uma procissão dançante que dura cerca de três horas, em honra de São Willibrord, um santo dos séculos VII-VIII decorreu como é tradição desde há perto de mil anos, na última terça-feira, 30 de maio, na cidade luxemburguesa de Echternach.

Em seis anos Irlanda perde um em cada dez católicos

Censo 2022

Em seis anos Irlanda perde um em cada dez católicos novidade

Em apenas seis anos, a Irlanda, um dos países “mais católicos” da Europa, viu a taxa dos que se reconhecem como tal reduzir-se em 10 pontos percentuais entre 2016 (79%) e 2022 (96%). Os números são avançados pelo jornal The Irish Times de dia 30 de maio com base no censo de 2022, cujos resultados foram agora conhecidos.

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