
Fotografia retirada do Facebook “Coração Silenciado”.
Foi por causa da “reacção desastrosa” da hierarquia católica ao relatório da Comissão Independente sobre os abusos sexuais na Igreja Católica que várias vítimas decidiram avançar para a constituição da Coração Silenciado – Associação de Vítimas de Abuso na Igreja. “Percebemos que cada vítima ia continuar sozinha e desamparada e decidimos juntar-nos para nos apoiarmos uns aos outros”, diz Filipa Almeida ao 7MARGENS, para justificar a iniciativa.
Para já, “se a associação for convidada a participar no encontro do Papa Francisco com as vítimas de abuso”, uma das ideias será entregar-lhe “cartas das vítimas que não possam participar” nesse encontro. “Queremos manifestar-lhe que estamos juntos no propósito de erradicar os abusos e proteger e acolher as vítimas”, diz a mesma responsável da associação cuja constituição vinha a ser preparada desde Março.
O registo foi feito quinta-feira, 13, em Lisboa e os estatutos consagram o fim da associação: “a defesa dos direitos humanos, promovendo a protecção e apoio às vítimas de abusos na Igreja Católica, a colaboração com todas as entidades públicas e privadas na defesa e exercício dos direitos e interesses das vítimas”.
Também “a investigação e estudos sobre os seus problemas, com vista à informação e prevenção desses abusos” fazem parte dos objectivos consagrados estatutariamente, a par da “contribuição para a adopção de medidas legislativas para a sua protecção e apoio, assim como o estabelecimento de contactos e colaboração com entidades que prossigam fins análogos noutros países”.
O nome da Associação retoma o de uma página digital criada por uma vítima de abuso há alguns meses, conforme o 7MARGENS noticiou na altura, depois da divulgação do relatório sobre os abusos sexuais.
A associação foi, para já, constituída por sete pessoas, número mínimo de associados exigido por lei. Entre elas, está também António Grosso, uma das pessoas que já apareceram a dar a cara como vítima de abusos por parte de membros do clero em Portugal.
No futuro, diz Filipa Almeida, a Coração Silenciado pretende “formar grupos de apoio e suporte, zelar pelos direitos das vítimas, acompanhá-las nos processos de denúncia e participar em projectos de alteração de leis civis e canónicas relativas aos abusos”.
A par disso, a associação quer ainda fazer “trabalho conjunto com outras associações no país e no mundo, participar em reuniões de âmbito eclesiástico onde se projeta a criação de ambientes mais seguros” e realizar debates e sessões de estudo sobre o tema.