
Uma das questões em causa é a da “distância moral” dos materiais utilizados no fabrico das vacinas. Foto: BaLL LunLa/Shutterstock
Os bispos de Inglaterra e do País de Gales afirmam, em comunicado, que “os católicos podem, em sã consciência, receber qualquer uma” das vacinas contra a covid-19, “para o bem dos outros e de si próprios”. Entretanto, quem entender recusar uma vacina específica, “continua a ter o dever de proteger os outros do contágio”.
Em setembro último, a Conferência Episcopal daquelas nações do Reino Unido solicitou ao Governo esclarecimentos quanto à origem e eventual uso de tecidos e células provenientes de fetos abortados, matéria que se inscreve na doutrina católica relativamente ao aborto, contrária a esse uso. Idênticas preocupações foram apresentadas noutras partes do mundo, por igrejas cristãs, católicas e protestantes.
Das três vacinas que estão prestes a surgir no mercado, a da AstraZeneca, desenvolvida com a Universidade de Oxford, recorreria a materiais fetais. Em resposta enviada aos bispos, foi reconhecido que algumas instituições de investigação estão a pesquisar linhagens celulares desenvolvidas a partir de restos de fetos abortados no passado, dando, porém, garantia de que nenhum novo embrião humano será usado na fabricação da vacina.
Invocando posições recentes quer da Pontifícia Academia da Vida quer da Congregação para a Doutrina da Fé sobre estas matérias, segundo as quais “se pode, em sã consciência e por grave motivo, receber uma vacina fornecida desta forma, desde que haja uma distância moral suficiente entre a atual administração da vacina e a ação injusta original”, a Conferência Episcopal aconselhou os católicos a tomar a vacina, salvaguardando a liberdade de consciência de cada um, de acordo com o comunicado de dia 3.
Para compreender o sentido e alcance desta “distância moral”, podem citar-se estas declarações à Reuters, difundidas em 16 de novembro passado, da autoria de David Matthews, professor de Virologia da Universidade de Bristol e coautor do estudo da vacina da AstraZeneca:
“Muitas vacinas de vírus são feitas em linhas de células derivadas de embriões/fetais e, em seguida, a vacina é purificada dessas células para padrões excecionalmente elevados. A maioria dessas linhas celulares (…) foram derivadas de amostras de tecido retiradas de fetos abortados nas décadas de 1960 e 1970 e as células foram cultivadas em laboratórios em todo o mundo desde então.”