Covid ataca eu-tanásia e faz dela “cré”-tanásia?
Até parece: depois da preocupação (sincera?) com os “idosos”, sugere-se que estes não têm assim tanta utilidade para o bem da família e da sociedade. Por isso, até convém não falar do contributo deste numeroso grupo para o crescimento da economia: não só pelo dinheiro que movimentam como também por alimentarem variados tipos de emprego e por serem a retaguarda de trabalhadores e famílias mais jovens; e que são o grande público-alvo de muitas iniciativas empresariais. Só interessa dizer que as pessoas mais idosas ou gravemente doentes ocupam excessivamente os hospitais, dificultando o atendimento à gente mais nova e mais rentável economicamente (por hipótese).
Apeteceria dizer, em conformidade com esta posição, que a “cré-tanásia” se devia estender a todas as pessoas inúteis e sobretudo às que fazem mal à sociedade, com especial incidência, no interesse do bem-estar geral, sobre “certos” políticos, dirigentes de bancos, etc… Enfim: um feliz regresso ao puro nazismo. Evidentemente, a lei louvaria a coragem de todos aqueles que, independentemente da idade ou profissão, escolhessem sacrificar-se ao bem público, aceitando a sua “cré-tanásia” …
Moral da história: a covid19 deixou bem à vista que a sociedade não se sabe preparar para a vida. Tem medo de sofrer, mas pouco ou nada se importa de fazer sofrer. Tem medo de morrer, mas não se importa de matar – aos outros e a si própria – mais ou menos violentamente. E utiliza outra modalidade de gerir a morte (a não confundir com a “cré-tanásia”) – a que podíamos chamar “crio-tanásia”: levar à “morte pelo frio” ou frieza nas relações humanas e nas estratégias de domínio e enriquecimento.
Outra moral da história: os movimentos em prol da vida humana (e onde muita gente dedica a vida à vida dos outros) dão frequentemente a imagem de ficarem presos ao sentido negativo de eutanásia: como se tivessem medo de identificar as causas reais da indiferença e desprezo para com o valor da vida. Perdem-se no jogo da burocracia: lei para lá, lei para cá, artigo para lá ou para cá, vírgulas e interrogações a mais ou a menos…
Precisa-se de coragem e bom-senso para abaixo-assinados contra as causas concretas, que multiplicam a indiferença e os ataques directos ao respeito devido a todos os seres humanos. E outros tantos abaixo-assinados pela promoção de atitudes e comportamentos que dêem mais vida à nossa vida, respeito sincero e relação amistosa.
Contra a corrupção e abuso de poder, sem medo de concretizar. Por exemplo: a nova escravatura no trabalho, que impede e até destrói a saúde física e psíquica, atitudes humanas e o desenvolvimento cultural, aniquilando os contributos positivos da família, utilizando mão-de-obra barata para a descartar, abusando notoriamente da gente nova mais responsável e matando à nascença muitos futuros promissores…
Ou a favor de explícito reconhecimento do valor de certas profissões em que mal pensamos – mas cuja actividade não só é imprescindível como especialmente dura e perigosa. Por exemplo, os recolectores do lixo, expostos a um arriscado ambiente higiénico e que não costumamos cumprimentar… Ou as forças de segurança, castigadas quantas vezes por terem que seguir ordens menos sensatas, acusadas e agredidas tanto por não aparecerem como por terem aparecido…
Temas? Basta olhar para a vida e meditar.
A sociedade precisa de ser mais criativa, para que todas as gerações promovam a vida. Cada pessoa, quando é a sua vez de sair do palco desta vida, deve entregar ao actor seguinte a deixa necessária para o final feliz do enredo da história humana.
Em todas as idades, cumpre-nos passar o testemunho de como é bom saber apreciar a maravilha que é viver.
Em todas as idades, é próprio do ser humano exercitar mentalidade aberta, livre de ideias feitas – a que nos podemos apegar sem razão suficiente; e ser capaz de auto-crítica, de aceitar opiniões novas, enriquecendo continuamente o nosso nível cultural.
Sentimentos positivos de respeito pela dignidade humana, racionalmente discutidos e fundamentados, são a fonte de atitudes e comportamentos que trarão respostas eficazes aos desafios da nebulosa e ideologicamente manipulada questão da eutanásia.
Manuel Alte da Veiga é professor universitário aposentado
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Breves
Após 371 dias de cativeiro
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O padre alemão Hans-Joachim Lohre, missionário há mais de 30 anos no Mali e raptado em novembro do ano passado perto da escola onde trabalhava, em Bamako (capital do país), foi libertado no domingo, após 371 dias de cativeiro, avançou a fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), que apoiava o seu trabalho na região.
“Em cada oportunidade, estás tu”
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Workshop presencial e online
Originalidade e dignidade do humano em debate no Vaticano
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A partir de 26 de novembro
Igreja da Graça acolhe duas mostras de arte sacra contemporânea
Como forma de celebrar o Natal e “presentear os visitantes”, a Igreja da Graça, em Lisboa, vai inaugurar, já este domingo, 26 de novembro, duas mostras de arte sacra contemporânea, que reúnem trabalhos de mais de 30 artistas portugueses.
Para o biénio 2023-2025
Centro de Reflexão Cristã elege direção “comprometida com orientações do Papa Francisco”
O Centro de Reflexão Cristã (CRC) acaba de eleger uma nova direção para o biénio 2023-2025, que se assume comprometida “com os princípios do Concílio Vaticano II e com as orientações do Papa Francisco”. Presidida por Inês Espada Viera (até agora vice-presidente), a direção que agora inicia funções promete “novas iniciativas”, que já estão a ser preparadas.
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Boas notícias

Iniciativa da Assembleia da República
Plataforma PAJE e associação ProChild distinguidas com o Prémio Direitos Humanos 2023 novidade
Duas organizações que têm trabalhado na área da proteção das crianças foram as escolhidas pela Assembleia da República para receber o Prémio Direitos Humanos 2023: a P.A.J.E. – Plataforma de Apoio a Jovens ex-Acolhidos e o ProChild – Laboratório Colaborativo. Será ainda atribuída a Medalha de Ouro Comemorativa do 50.º Aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos aos membros da extinta Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa, adianta um comunicado divulgado pelo Parlamento.
É notícia
Entre margens
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Falemos claro, sem personalizar ou localizar, mas pelo que acontece, quase sempre e em toda a parte, nos mesmos cargos, e nas mesmas circunstâncias. Intervenhamos numa atitude conventual, numa expressão que hoje praticamente não se usa e nem sei se se pratica, a chamada “correcção fraterna”. Quero referir-me aos últimos acontecimentos, particularmente, na Igreja; novos Bispos sagrados e novos cardeais purpurados ou investidos e também novas colocações de Párocos. (Serafim Falcão)
O Papa Francisco e a COP28 do Dubai
A COP28 do Dubai que inicia dia 30 de novembro motivou ao Papa Francisco a redação da exortação apostólica Laudate Deum sobre a crise climática, que regista uma intensa carga política: estatisticamente, dos seus 73 pontos, 60 são de natureza exclusivamente política e apenas 13 com conteúdo espiritual, religioso, ou diretamente ligado à vivência da fé cristã. (Dina Matos Ferreira)
“Não me detenhas” | O regresso das impertinentes (I)
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Com os seus 87 anos, Ken Loach está tentado a dar por concluída a carreira de realizador com esta película que representou um duro esforço ao longo de dois anos e meio. Contudo, como admite em recente entrevista (Revista do Expresso, 24 novembro), talvez o exemplo de Manoel de Oliveira o leve a prosseguir ainda.
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Jornada extensa. Temporã. Três da manhã. Viagem longa. Escalas. Fuso horário. Reuniões à chegada. Demasiadas. Oito da noite. O cansaço a impor-se. A fome a acusar negligência. Ingredientes de sobra para encerrar o dia. Pausar. Parar mesmo. No entanto insuficientes para ignorar os relatos que começáramos a escutar.
Aquele que habita os céus sorri
como se o cuidado nos devolvesse o tempo presente
Breve comentário do p. António Pedro Monteiro aos textos bíblicos lidos em comunidade, no Domingo de Cristo Rei do Universo – XXXIV do Tempo Comum A. Hospital de Santa Marta, Lisboa, 25 de Novembro de 2023.
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