
Entre os mais de 1.640 livros proibidos ou colocados na sombra em cinco mil escolas dos EUA, 674 títulos abordam explicitamente temas LGBTQ+ ou têm protagonistas (ou personagens secundários proeminentes) que são LGBTQ+. Foto © 7Margens.
Mais de 1.640 títulos de livros foram proibidos em cerca de cinco mil escolas dos EUA ao longo do ano letivo 2021-2022, revela um estudo publicado hoje, 19 de setembro, pelo PEN America, que calcula em cerca de quatro milhões o número de estudantes afetados pelas proscrições.
Os dados recolhidos pelo estudo evidenciam “o ritmo cada vez mais rápido com que categorias inteiras de livros estão a ser retirados das prateleiras das salas de aula e das bibliotecas escolares”, atingindo “especialmente as obras com protagonistas de cor, as que abordam questões de raça e as com personagens e temas LGBTQ+”. Em termos mais precisos: 674 títulos proibidos (41%) abordam explicitamente temas LGBTQ+ ou têm protagonistas (ou personagens secundários proeminentes) que são LGBTQ+; 659 títulos proibidos (40%) têm protagonistas (ou personagens secundários proeminentes) de cor; finalmente, 338 títulos proibidos (21%) abordam diretamente questões de raça e racismo.
Por outro lado, o relatório do PEN America estima que pelo menos 40 por cento das proibições estão ligadas a pressões políticas, ou a legislação destinada a restringir o ensino e a aprendizagem.
Este é um dos aspetos que mais preocupa Suzanne Nossel, diretora executiva do PEN América, para quem a investigação mostra que, ao contrário do que se pensa, “as proibições de livros” nas escolas não resultam da intervenção “de cidadãos individuais preocupados”, mas sim “de uma campanha coordenada para banir certos livros”, campanha “lançada por organizações sofisticadas, ideológicas e com muitos recursos”. Segundo Nossel, “este movimento de censura está a transformar as escolas públicas em campos de batalha política, criando clivagens nas comunidades, excluindo professores e bibliotecários dos seus empregos e lançando um balde de água fria sobre o espírito de investigação aberta e a liberdade intelectual que sustentam uma democracia florescente”.
De igual modo, Jonathan Friedman, diretor dos Programas de Expressão e Educação do PEN America e principal autor do relatório, afirmou que as campanhas organizadas para proibir certos livros nas escolas e nas bibliotecas escolares “retira a um número cada vez maior de estudantes o acesso à literatura que os tornaria aptos a enfrentar os desafios e as complexidades da cidadania democrática”, acrescentando: “O trabalho de grupos que organizam e defendem a proibição de livros nas escolas é especialmente prejudicial para estudantes de origens historicamente marginalizadas, que vêm desaparecer das salas de aula e das prateleiras das bibliotecas escolares as histórias que validam as suas vidas.”