
Crianças estão em perigo no Níger. Foto © Mamoudou L. Kane / Amnesty International
Há cada vez mais crianças a morrerem ou a serem recrutadas por grupos armados, em conflitos que assolam as fronteiras do Níger com o Mali e o Burkina Faso, denuncia a Amnistia Internacional (AI), num relatório divulgado nesta segunda-feira, 13.
“Não tenho nada mais a não ser eu mesmo – O impacto devastador nas crianças em situação de conflito na região Tillabéri do Níger” é o título deste documento, que explica que os conflitos envolvem grupos armados do designado Estado Islâmico no Grande Sara (ISGS, na sigla inglesa) e da Jama’at Nusrat al-Islam wal-Muslimin (JNIM), filiada na Al-Qaeda.
De acordo com um comunicado desta organização de defesa de direitos humanos, os dois grupos já “cometeram crimes de guerra e outros abusos, como o assassinato de civis e a perseguição/destruição de escolas”, notando ainda que “devido à intensidade da violência e ao nível de organização do ISGS e da JNIM, a Amnistia Internacional considera a situação no Níger um conflito armado não internacional”.
No relatório (em inglês) agora divulgado, a AI regista alguns números expressivos: “A violência contra civis resultou em 544 mortes relacionadas com o conflito entre 1 de janeiro e 29 de julho de 2021 no Níger, valor que já ultrapassou as 397 mortes de 2020.” Entre as vítimas, contam-se mais de 60 crianças mortas às mãos dos grupos armados na zona das três fronteiras do Níger, só neste ano de 2021.
“O ISGS, que opera principalmente na fronteira com o Mali, parece ser o responsável pela maior parte das mortes em grande escala. Em algumas zonas, as mulheres e raparigas têm sido impedidas de realizar atividades no exterior, enfrentando o risco de rapto ou casamento forçado com combatentes”, acrescenta a Amnistia.

Mãe e filha no Níger. Foto © Mamoudou L. Kane / Amnesty International
Entre outros dados avançados pelo relatório está o facto de o recrutamento de crianças pela JNIM ter aumentado “significativamente”, no decorrer deste ano de 2021, perto da fronteira do Burkina Faso (na região de Torodi). “De acordo com testemunhas, a JNIM procura homens jovens e rapazes entre os 15 e os 17 anos, às vezes mais novos, incentivando-os com comida, dinheiro e vestuário”, relata a AI.
Estes dois grupos armados têm também como alvo a educação das crianças da região: escolas foram queimadas e professores ameaçados, pelo ISGS e pela JNIM, “o que resultou num encerramento generalizado de estabelecimentos educativos”.
Os números são, de novo, expressivos: “Em junho de 2021, pelo menos 377 escolas na região de Tillabéri tinham encerrado, privando mais de 31.000 crianças do acesso à educação. Os grupos armados também assaltaram instalações de saúde, dificultando o acesso das crianças aos cuidados de saúde. Devido a isso, as taxas de imunização baixaram e doenças como o sarampo estão a aumentar.”
Outros alvos relatados no documento divulgado esta segunda-feira são estabelecimentos de venda de cereais que foram incendiados; e há ainda o registo de animais roubados, o que deixa “as famílias, especialmente crianças, a enfrentarem riscos acrescidos de subnutrição e doenças relacionadas”.