Apelo à ação do governo israelita

Cristãos “horrorizados e magoados” com escalada de violência na Terra Santa

| 30 Mar 2023

padre Francesco Patton, custódio da Terra Santa, durante via sacra realizada em jerusalem a 24 março 2023, observa estátua de cristo vandalizada Foto Custódia da Terra Santa

O padre Francesco Patton, Custódio da Terra Santa, observa a estátua de Cristo que foi vandalizada na Igreja da Flagelação, no início de fevereiro. Foto © Custódia da Terra Santa.

 

Os ataques contra cristãos têm vindo a intensificar-se desde o início do ano na Terra Santa, e em particular nas últimas semanas contra a comunidade católica, que se assume cada vez mais assustada e receosa. O padre Francesco Patton, Custódio da Terra Santa, sublinha que “não é coincidência que esses incidentes graves estejam a a ocorrer especificamente agora” e pede ao governo israelita que aja com determinação para pôr fim a esta escalada de tensão.

“Estamos horrorizados e magoados com os muitos incidentes de violência e ódio que ocorreram recentemente contra a comunidade católica em Israel”, afirmou o frade franciscano, em declarações ao jornal The Times of Israel. “Esperamos e exigimos do governo israelita e das autoridades policiais que ajam com determinação para acabar com estes sérios fenómenos.”

O Custódio da Terra Santa sublinha que “os ataques terroristas, por grupos israelitas radicais, visando igrejas, cemitérios e propriedades cristãs… tornaram-se quase uma ocorrência diária que evidentemente aumenta de intensidade durante os feriados cristãos”. E nem todos são noticiados, alerta.

Só nos últimos dias, foram registados três episódios de violência e intolerância anticristã em Nazaré, conta o ex-vigário patriarcal de Jerusalém dos Latinos, Giacinto-Boulos Marcuzzo, que continua a residir em Jerusalém. “Primeiro – diz à agência AsiaNews -, foram os tiros contra a escola das irmãs franciscanas, depois a invasão às irmãs salesianas com a saudação ‘Ramadan Kareem’ [Ramadão Generoso] e a exortação a que se tornassem muçulmanas. O último foi na manhã deste domingo, quando apareceram numa igreja durante a missa e pediram ao vice-pároco, um padre maronita, para recitar o Alcorão”.

O primeiro ataque referido pelo ex-vigário aconteceu a 16 de março, quando por volta das 18h30 alguns indivíduos dispararam tiros na direção da escola e do convento das irmãs franciscanas. Um gesto considerado um “precedente perigoso”, pois pela primeira vez visou uma instituição educativa cristã em Israel.

O segundo ocorreu no dia 24 de março e envolveu o instituto e a casa das irmãs salesianas, atacadas por pessoas mascaradas numa incursão que teve “uma clara matriz confessional”, refere o Vatican News. As religiosas relatam que, depois de terem aberto o portão, se viram diante de pessoas com o rosto tapado por máscaras pretas, que as intimavam a converter-se ao Islão neste “mês sagrado do Ramadão”. A agressão foi levada a cabo por pelo menos cinco jovens, que fugiram quando a guarda chegou.

Marcuzzo recorda que têm havido também ataques contra locais de culto e centros cristãos perpetrados por extremistas judeus: o último episódio aconteceu a 19 de março no Túmulo de Maria, tendo sido precedido pelo ataque no início de fevereiro contra a Igreja da Flagelação. No início do ano, grupos extremistas haviam profanado um cemitério no Monte Sião e antes disso atingiram outros alvos incluindo uma igreja perto do Cenáculo, a própria Basílica de Nazaré e edifícios católicos e greco-ortodoxos.

“A polícia tenta pintar cada ataque como algo isolado e tenta pintar os agressores como mentalmente instáveis”, refere por seu lado Amir Dan, porta-voz da Custódia Franciscana da Terra Santa. “Ao fazer isso, isenta-se de qualquer responsabilidade.”

Segundo o The Times of Israel, vários elementos da comunidade católica responsabilizam a atual coligação no governo, que inclui figuras da extrema-direita como o Ministro da Segurança Nacional Itamar Ben Gvir, pelo aumento dos ataques. “Infelizmente depois de este governo ter sido eleito, há quem sinta que pode fazer o que quiser. Que podem erguer os punhos e nada lhes acontecerá”, afirma Amir Dan.

O ex-vigário patriarcal de Jerusalém dos Latinos sublinha igualmente o “clima de profunda tensão” vivido na região, “a começar pela onda de protestos em Israel em torno da controversa reforma da Justiça. Soma-se a isso o confronto entre israelitas e palestinos na Cisjordânia e em Gaza, alimentado por gestos provocatórios como a caminhada de Itamar Ben-Gvir até a Esplanada das Mesquitas, que ameaça transformar-se numa nova intifada e já causou um número recorde de vítimas.”

“Com referência aos episódios de intolerância em Nazaré nos últimos dias – enfatiza Marcuzzo -, é importante notar a postura adotada por dois respeitados imãs da cidade, chefes das mesquitas, que condenaram fortemente estes gestos”.

Mas não há muito otimismo entre o clero cristão em Jerusalém de que a situação vá melhorar em breve. “O verdadeiro cerne da questão – conclui o ex-vigário – é que estes episódios fazem parte de um quadro mais amplo e preocupante que se vive em Israel, uma escalada de tensão que surpreendeu pela velocidade com que está a ocorrer e que, pelo menos por enquanto, não causou vítimas. A preocupação, no entanto, permanece”.

 

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