
Um estudo apresentado no encontro de líderes religiosos franceses mostrou que as mulheres com vinculação religiosa estão mais expostas à violência doméstica do que outras. Foto © Anete Lusina / Pexels.
A Conferência dos Responsáveis de Culto em França, constituída pelos líderes das principais religiões representadas no país, esteve reunida esta semana para debater em conjunto, pela primeira vez, o drama dos abusos sexuais no contexto das várias instituições religiosas, e refletir sobre as estratégias para combatê-lo.
“Trata-se de uma grande novidade. Todas as denominações religiosas reconhecem que estão preocupadas com este flagelo e concordaram em refletir em conjunto”, disse Valérie Duval-Poujol, vice-presidente da Federação Protestante de França e uma das organizadoras da iniciativa, em declarações ao jornal francês La Croix.
Duval-Poujorl considera que este caminho foi iniciado pela Comissão Independente sobre os Abusos Sexuais na Igreja em França (CIASE). “O relatório Sauvé é um marco histórico na luta contra a violência sexual”, afirmou a responsável, referindo-se ao relatório de 2021 produzido pela CIASE e pelo seu presidente Jean-Marc Sauvé.
O encontro serviu para fornecer uma visão geral da situação em França no que diz respeito à violência sexual no contexto das diversas confissões religiosas. Um dos estudos apresentados, com base num inquérito realizado já em 2000, mostrou que as mulheres com vinculação religiosa estão mais expostas à violência doméstica do que outras (7,8% das mulheres sem filiação religiosa foram vítimas deste tipo de abuso, número que subiu para 9,1% nas mulheres católicas ou protestantes e para 17% entre as mulheres muçulmanas ou judias).
As religiões, nas suas diversas formas, parecem ser “armas massivas de submissão” face às mulheres, o que pode ser um começo para explicar o “agravante” e a maior violência contra as mulheres de fé, referiu a vice-presidente da Federação Protestante de França.
No final do encontro – que se espera ter sido apenas o primeiro de muitos – houve oportunidade para partilhar e discutir as medidas tomadas até ao momento pelas diversas Igrejas no combate aos abusos sexuais.