
O secretário-geral do Conselho Mundial de Igrejas, reverendo Jerry Pillay, esteve em Nagorno-Karabakh nos últimos dias e constatou o bloqueio à entrada de ajuda humanitária na região. Foto © WCC.
O Azerbaijão visou especificamente os cristãos arménios na ofensiva militar desta semana ao território de Nagorno-Karabakh, denuncia a instituição de caridade católica francesa L’Œuvre d’Orient num comunicado divulgado esta quarta-feira, 20 de setembro.
“A questão religiosa está no centro do conflito em Nagorno-Karabakh, na medida em que lidamos com países que, culturalmente, não separam a política da religião”, afirma o padre Pascal Gollnisch, diretor-geral daquela organização, citado pelo jornal La Croix. “Neste conflito, os arménios estão claramente a ser considerados cristãos.”
Prova disso mesmo é que “atualmente, os soldados azerbaijanos estão a realizar ações contra edifícios religiosos em Nagorno-Karabakh, apagando vestígios cristãos de cemitérios e vandalizando cruzes. O sentimento anticristão, que já estava presente, está a espalhar-se”, acrescenta Gollnish, e conclui: “Não há mais espaço para os arménios no Azerbaijão”.
Nesta quarta-feira, o site da Armen Press dava conta de um ataque ao Mosteiro Hakobavank de Martakert, na região de Nagorno-Karabach, que deixou ferido o seu abade, o padre Hovhannes Hovhannisyan, o qual foi já submetido a uma cirurgia e se encontra estável.
Ainda na quarta-feira, as autoridades arménias do enclave de Nagorno-Karabakh aceitaram os termos russos para a implementação de um cessar-fogo na região e as forças armadas de Karabakh anuíram à exigência azeri de desmilitarização.
Na cidade de Yevlakh, a oeste da capital azerbaijanesa, representantes de ambas as partes iniciaram conversações já esta quinta-feira. De acordo com o líder do Azerbaijão, os “arménios de Karabakh” terão a partir de agora os “seus direitos religiosos e culturais respeitados”.
Mas no Conselho dos Direitos Humanos da ONU, em Genebra, a Arménia descreveu a operação militar do Azerbaijão em Nagorno-Karabakh como um “crime contra a humanidade”, assegurando que está “em curso uma limpeza étnica”.
Uma delegação ecuménica do Conselho Mundial de Igrejas (CMI), que esteve presente ao longo dos últimos quatro dias na região, constatou que a entrada de ajuda humanitária, nomeadamente de alimentos, tem estado a ser bloqueada.
O secretário-geral do CMI, que integrou a delegação, apelou esta quinta-feira ao governo do Azerbaijão “para que se envolva num diálogo genuíno e significativo com os arménios de Nagorno-Karabakh/Artsakh para uma situação justa e sustentável de paz em plena conformidade com o direito humanitário internacional e os direitos humanos”.
Para a instituição L’Œuvre d’Orient, não restam dúvidas: os arménios continuam a ser “considerados como pragas e terroristas, que devem ser submetidos à fome, cercados e obrigados a desaparecer”.